WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: Senado Federal - Portal de notícias
[28/08/13]
Para especialistas, 'neutralidade da rede' é fundamental em marco civil da
internet
É preciso garantir ao internauta acesso completo e sem nenhum tipo de
discriminação a todos os serviços na internet. É o que disseram nesta
quarta-feira (28) todos os especialistas convidados para a primeira audiência
pública promovida pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e
Informática (CCT) sobre o projeto de Marco Civil da Internet (PL 2.126/2011),
que ainda tramita na Câmara dos Deputados.
Os debatedores apoiaram o conceito de neutralidade da rede presente no texto
atual do projeto, segundo o qual o provedor de acesso não pode bloquear ou
dificultar de alguma forma o tráfego de dados, “sem distinção por conteúdo,
origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo”, exceto em decorrência de
requisitos técnicos, em situações de emergência ou nos casos que vierem a ser
regulamentados. Ou seja, não será permitido discriminar o que se faz na
internet, e assim, criar dificuldades, como derrubar ligações feitas via Skype,
ou tornar mais lento o carregamento de um vídeo do Youtube. As empresas que
vendem pacotes de acesso à internet se opõem a essa regra, pois isso as impedirá
de comercializar o acesso a apenas alguns serviços, como redes sociais e e-mail,
como já fazem hoje.
De acordo com a advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),
Veridiana Alimonti, o conceito de neutralidade se relaciona ao “acesso pleno à
rede”. Para ela, falar da internet como um dos direitos humanos implica falar de
livre acesso a bens culturais, a conteúdos científicos, a serviços comerciais e
financeiros e a plataformas de participação nos processos democráticos.
- Se escolhemos a que o usuário terá acesso, ele não terá mais acesso à
internet, mas a algo diferente – argumentou.
China
Como exemplo do que pode acorrer no Brasil caso o conceito de neutralidade da
rede seja modificado, o professor Carlos Affonso Pereira, da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) citou o conflito que existe na
China entre as operadoras de telefonia celular do país e os desenvolvedores do
aplicativo WeChat, que permite fazer ligações e enviar mensagens via internet.
Segundo o acadêmico, as empresas de telecomunicação chinesas querem sobretaxar
os cerca de 300 milhões de usuários do aplicativo em razão do grande tráfego de
dados que ele gera.
Carlos Affonso Pereira disse que a inteligência da internet está “nas pontas”,
em quem cria e em quem consome conteúdos, e que qualquer tipo de bloqueio no
tráfego gera impactos negativos nessa inteligência, pois afeta a usabilidade da
rede, a escolha do consumidor, a geração de conhecimento e a inovação. Ele
alertou também para o fato de que a neutralidade da rede tem também a ver com
privacidade e liberdade de expressão:
- Se começo a discriminar o tráfego da rede, preciso monitorá-lo – disse.
Já o representante da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert),
José Francisco de Araújo Lima, lembrou que é natural a oposição das empresas de
telecomunicação “ao rigor da neutralidade estabelecida pelo projeto”. Segundo
afirmou, elas “estão lutando legitimamente para fazer suar os seus ativos, isto
é, estão tentando ver como ganham dinheiro”. Ainda assim, ele apoiou a
manutenção do texto do projeto como está atualmente.
Privacidade
Outro tema abordado no debate foi a privacidade do usuário. O diretor-presidente
do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), Demi Getschko,
elogiou o projeto por contextualizar o conceito de privacidade, estabelecendo
critérios sobre que dados provedores e sites podem armazenar.
- A privacidade é contextual, pois cada um tem o direito de saber algo de mim
dentro de certo contexto – disse, apoiando a proibição de que os provedores
monitorem todos os passos do internauta na rede.
Inimputabilidade
O projeto de Marco Civil da Internet também deixa claro que os sites e
provedores de acesso não podem ser responsabilizados pelos conteúdos produzidos
por seus usuários, a não ser que desobedeçam ordem judicial para excluir
determinado conteúdo. De acordo com o presidente do Conselho Consultivo Superior
da Associação Brasileira de Internet (Abranet), Eduardo Parajo, isso é
fundamental para que haja segurança jurídica para essas empresas.
Garantir a liberdade
Presente ao debate, o relator do projeto na Câmara, Alessandro Molon (PT-RJ),
pediu aos senadores que pressionem os deputados pela aprovação do projeto. Ele
destacou o interesse que o tema desperta, já que o projeto recebeu mais de duas
mil sugestões de emendas quando esteve em consulta pública no site da Câmara.
Diante do comentário de um internauta que acompanhou o debate e disse não ver
com bons olhos o marco civil, por temer que ele favoreça o monopólio e
prejudique os cidadãos, Molon disse que um dos grandes desafios é explicar o
projeto a toda à sociedade. Afirmou ainda que o objetivo é justamente resguardar
as características atuais da internet, como a horizontalidade, a liberdade de
expressão e a inovação.
- Precisamos da lei para que a internet continue sendo o que ela é. Práticas de
mercado colocam em risco o futuro da internet – argumentou.
O senador Walter Pinheiro (PT-BA), ao classificar o debate como estratégico,
citou o exemplo dos Estados Unidos, que são representados por integrantes do
Ministério da Defesa em conferências internacionais, como a da União
Internacional de Telecomunicações (UIT).
"Esse debate serve para a defesa do nosso cidadão e da nação. Recentemente,
participei de reunião da UIT, e quem representa os Estados Unidos nessas
reuniões é o ministério da Defesa. Esse é um debate estratégico que tem que ser
feito pela Nação. Não só para a proteção do nosso cidadão, mas para a proteção
da Nação”, lembrou.
Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Lobão Filho (PMDB-MA) e Vital do
Rêgo (PMDB-PB) manifestaram apoio ao projeto. Eles disseram esperar que a Câmara
aprove logo o texto para que o Sendo possa passar a analisá-lo.
Na próxima terça-feira (3) ocorrerá a segunda audiência sobre o tema. Para esse
debate, estão convidados o secretário de Telecomunicações do Ministério das
Comunicações, Maximiliano Martinhão; o secretário de Assuntos Legislativos do
Ministério da Justiça, Marivaldo de Castro Pereira; o diretor de políticas
públicas do Google Brasil, Marcel Leonardi; o conselheiro da Agência Nacional de
Telecomunicações, Jarbas Valente, e o diretor de regulação do Sindicato das
Empresas de Telefonia, Alexander Castro.