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Leia na Fonte: Convergência Digital
[08/07/13]
Espionagem faz Dilma querer incluir armazenamento de dados no Marco Civil -
por Luís Osvaldo Grossmann
A exemplo de europeus e asiáticos, o governo brasileiro – que parece ter
descoberto só agora que existe uma certa crise diplomática internacional por
conta da espionagem irrestrita dos Estados Unidos – não tem como ir muito além
dos muxoxos. O governo fala em governança internacional da Internet e lei que
obrigue armazenamento da dados no Brasil – nenhuma efetivamente capaz de alterar
a facilidade com a qual os EUA coletam comunicações em qualquer país.
A presidenta Dilma Rousseff tratou o episódio como “violação de soberania e de
direitos humanos”, falou em levar a questão à Comissão de Direitos Humanos da
ONU e arriscou incluir no Marco Civil da Internet – agora ressuscitado – uma
obrigação sobre o armazenamento de dados em território brasileiro.
“Vamos dar uma revisada no Marco Civil da Internet porque uma das questões que
devemos observar é onde se armazenam os dados. Porque muitas vezes os dados são
armazenado fora do Brasil, principalmente os do Google. Queremos obrigatoriedade
de armazenamentos de dados de brasileiros no Brasil. E fazer revisão para ver o
que pode garantir melhor a privacidade”, disse a presidente, segundo a Agência
Brasil.
Como já existem servidores que armazenam dados no Brasil, mas que também são
replicados nos EUA, não parece provável que isso, em si, elimine a espionagem –
embora possa fortalecer o país em um setor como o de computação em nuvem, esse
sim um campo no qual as empresas norte-americanas podem sofrer um revés pela
crise de confiança.
A presidenta também mencionou que o governo brasileiro deve procurar a União
Internacional de Telecomunicações (UIT), para pedir o “aperfeiçoamento de regras
multilaterais sobre segurança das telecomunicações”. Talvez seja mais útil
procurar os fabricantes de equipamentos de redes e verificar o tipo de acesso
pré-embutido neles, como prevê a lei americana que exige facilidades para
‘grampos’ nesses aparelhos.
O embaixador americano Thomas Shannon procurou nesta segunda-feira, 8/7, o
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para negar que tenha havido
espionagem em território brasileiro. O próprio ministro indicou que se não for
verificada participação de empresas brasileiras, não há o que ser feito
legalmente.
“O embaixador garantiu que as coletas de informações são feitas nos Estados
Unidos e que somente são guardados os metadados, como a pessoa que ligou e quem
fez a ligação, onde se encontram e até o tempo e os números dos telefones, sem a
gravação do teor das conversas”, revelou o ministro. Shannon teria ainda
insistido que as reportagens sobre o tema são “fantasiosas”.
Governança
No campo diplomático, há interesse na retomada da defesa de uma governança
internacional da Internet. Na visão do governo brasileiro, a rede mundial é
“controlada” pelos Estados Unidos e por isso é necessário mudanças. “No plano
internacional vamos insistir no debate sobre a governança da Internet”, afirmou
o ministro das Comunicações.
Paulo Bernardo sustenta, porém, que não se trata mais de defender que tal
competência seja exercida pela UIT – como o tema foi tratado na reunião global
da entidade no fim do ano passado. “Não precisa ser a UIT, mas poderia
transformar a ICANN, que deveria ter um comitê representativo de vários países”,
defendeu.
A dificuldade é uma certa confusão com o papel da ICANN, que pode ser melhor
definida como a “lista telefônica” da Internet. Ela já possui um conselho
internacional com 20 membros de diferentes países. O argumento, no caso, é mais
baseado em a sede da ICANN ser na Califórnia – e se sujeitar às regras daquele
estado americano, além de uma ligação com o Departamento do Comércio dos EUA.
No mais, há regras nacionais sobre comportamentos na rede em diferentes países,
como os que determinam a garantia de neutralidade de rede, outros, como os
próprios EUA, que preferem a menor quantidade de regras possíveis para a
Internet – mas não chega a existir um “controle” que facilitaria o uso da rede
para a espionagem.
O que existe é uma “dominação”, para ficar no tom usado pelo governo brasileiro,
mas ela é econômica – são americanas as principais empresas da Internet; é dos
Estados Unidos o maior tráfego da Internet e até por isso onde estão as
operadoras Tier 1, o que concentra o roteamento naquele país. Isso facilita a
espionagem americana.