WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Convergência Digital
[08/07/13]
Lei dos EUA obriga que equipamentos de rede, também usados no Brasil, tenham
‘backdoor’ - por Luís Osvaldo Grossmann
Ao indicar que a Anatel vai investigar como as empresas de telecomunicações que
operam no Brasil colaboram com a espionagem telefônica e da Internet pelos
Estados Unidos, o governo brasileiro sugere desconhecer alguns pontos sobre o
funcionamento das redes: o surpreendente nisso é que esse tipo de acesso às
comunicações foi um dos principais motivos para a elaboração do Plano Nacional
de Banda Larga.
Já os primeiros rascunhos do que mais tarde seria chamado de PNBL, havia uma
preocupação clara com a segurança das comunicações de governo – tanto que parte
do Decreto que criou o programa e reestruturou a Telebras tem esse ponto como
uma de suas bases. Na época, o país já acumulava exemplos de problemas, como
sustentava o idealizador da rede, Rogério Santanna, ainda como secretario de
Logística e TI do governo.
“Na época da Brasil Telecom, e-mails de ministros foram interceptados pela
operadora interessada na questão. No governo Fernando Henrique, na contratação
do Sivam-Sipam, comunicações dos militares foram interceptadas por fornecedores
interessados e acabaram interferindo em um acordo que ia ser feito com a França.
Não é possível que a gente não tenha uma estrutura. É uma questão de segurança
de Estado”, defendia ele.
Era comum que nessa época recaíssem críticas aos equipamentos chineses, mas é
importante lembrar que os Estados Unidos obrigam a implantação de ‘backdoors’
nos elementos de rede a serem utilizados lá. Coincidentemente, esse exato ponto
foi lembrado em março pelo diretor de infraestrutura da Telebras, Paulo Kapp, no
Forum TIC Brasil, evento promovido pelo Convergência Digital e pela Network
Eventos.
“Existe uma lei americana, CALEA, que obriga que todos os equipamentos de
comutação, roteadores que passam VoIP, centrais de voz, que estão nos Estados
Unidos, sejam capazes de passar os dados a agências americanas. Ou seja, um
switch de grande porte, ao controle de uma agência deles, deve ser capaz de
ouvir uma conversa telefônica, ou uma chamada de vídeo, sem que a operadora
saiba e sem que a pessoa que esteja falando saiba”.
CALEA é o acrônimo de Communications Assistance for Law Enforcement Act, a lei
que prevê que os equipamentos de rede facilitem os ‘grampos’. Os fornecedores
são os mesmos grupos que vendem os mesmos equipamentos no Brasil. “Se alguma
agência americana resolver, com equipamento vendido no Brasil que seja CALEA
compliance, ele pode entrar e fazer o que quiser, sem problemas”, emenda Kapp,
lembrando que os fabricantes globais não fazem um tipo de aparelho para cada
país.
Na esteira das declarações do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de que
a Anatel vai investigar a espionagem nas telecomunicações, a própria agência
divulgou, nesta segunda-feira, 8/7, uma nota explicando seu papel:
“1) A Anatel instaurou procedimento de fiscalização com o objetivo de apurar se
empresas de telecomunicações sediadas no Brasil violaram, de alguma forma, o
sigilo de dados e de comunicações telefônicas;
2) A Agência trabalhará em cooperação com a Polícia Federal e demais órgãos do
governo federal nas investigações referentes ao assunto, no âmbito de suas
atribuições.”
A Anatel registra, ainda, “que o sigilo de dados e de comunicações telefônicas é
um direito assegurado na Constituição, na legislação e na regulamentação da
Anatel, sendo que a sua violação é passível de punição nas esferas cível,
criminal e administrativa”.
O trabalho da agência pode ser enormemente facilitado pelos registros da prória
reguladora. Todos os equipamentos vendidos no Brasil, do celular ao roteador,
precisam passar por homologação da Anatel ou de órgãos por ela acreditados. Por
aí, o governo pode ter uma razoável indicação de quantos elementos de rede são
aderentes às exigências do governo americano.