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Leia na Fonte: Convergência Digital
[09/07/13]
"Prioridade" ao Marco Civil da Internet não passou de blefe - por Luís
Osvaldo Grossmann
O Marco Civil da Internet continua ganhando mofo na mesma gaveta em que foi
colocado em novembro do ano passado, quando fracassou a sexta tentativa de
votá-lo na Câmara. Como se viu no parlamento nesta terça-feira, 9/7, as
afirmações de que ele entraria na lista de prioridades – a começar pela própria
presidenta Dilma Rousseff – não alteraram em nada a disposição dos deputados.
O assunto foi tratado nesta terça, mas os parlamentares continuam onde estavam
há oito meses. “Tratamos desse assunto, mas não há consenso. O PMDB e o PSDB
querem alterações e eu pedi ao relator que converse com as lideranças para
encontrar um texto que seja possível votar”, afirmou o presidente da Casa,
Henrique Eduardo Alves, logo após a reunião de líderes.
Coloque-se Marco Maia no lugar de Henrique Alves e a explicação caberia sem
alterações nos desacertos que inviabilizaram a aprovação do projeto nas seis
tentativas feitas em 2012. A parte não dita abertamente também continua a mesma:
o projeto de lei ainda encontra resistências mesmo na base e no próprio governo.
Resistências que foram lembradas mais cedo, quando Dilma e o vice-presidente
Michel Temer receberam no Planalto os presidentes do Senado e da Câmara. No
encontro, apesar da aparente defesa da aprovação do Marco Civil, foi admitido
aos parlamentares que o próprio Ministério das Comunicações tem ressalvas. Paulo
Bernardo reconheceu, na véspera, ainda defender mudanças no projeto.
Apesar do apelo do presidente da Câmara, o relator da proposta, Alessandro Molon
(PT-RJ), argumentou que não há como fazer a mudança pretendida no texto do
projeto. “Sugeri que modifiquemos não o conteúdo, mas o procedimento. Colocamos
em pauta, quem quiser apresente suas emendas, e a decisão será no voto”, disse.
Nesse jogo, portanto, todas as peças continuam nos mesmos lugares. A solução de
ir para a decisão no voto dificilmente será adotada – até porque, Alves teria o
desconforto adicional de pautar um projeto que sofre a maior oposição do líder
de seu próprio PMDB. Durante a reunião desta terça, Eduardo Cunha (RJ), que já
pleiteava alterações no Marco Civil desde o ano passado, reiterou essa posição.
Todo o conflito é concentrado no artigo 9o do PL 2126/2011, que crava em lei a
obrigatoriedade das donas da infraestrutura – as operadoras de telecom – de
respeitarem a neutralidade de rede. Para o relator, o projeto precisa deixar
claro que todos os pacotes são iguais perante a rede, daí ser contrário aos
‘ajustes’ que ‘viabilizariam’ a votação. Minicom e teles querem uma redação mais
flexível.
Embora seja um princípio óbvio da Internet desde o primórdio da rede, nos
últimos anos esse conceito vem sendo “flexibilizado” para permitir vantagens
econômicas. Ao considerarem que existe uma competição com provedores de conteúdo
– empresas como Google ou Netflix, que se valem das redes de telecom para vender
serviços – as teles querem melhor “monetizar” as redes.
Ao “flexibilizar” a neutralidade de rede, entendem as operadoras que poderiam
vender acesso com base no consumo, compartimentando diferentes classes de
internautas – os que leem e-mails, os que querem além disso acessar o Facebook,
ou ainda aqueles que também querem assistir filmes ou compartilhar músicas.