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Fonte: Link / Estadão
[06/11/13]
‘Apenas operadoras são contra neutralidade’ - por Murilo Roncolato
[Entrevista com Alessandro Molon]
Entrevista com o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ), e relator do projeto
do Marco Civil da Internet
SÃO PAULO – O projeto de lei nº 2126/2011, o chamado Marco Civil da Internet,
ganhou novo texto após o Executivo ter colocado sua tramitação sob regime de
urgência. O adiamento da sua votação trancou a pauta da Câmara e deve ser votado
na semana que vem. Até lá, mais mudanças podem acontecer. O texto recebe
sugestões há quatros anos, sendo entre 2009 e 2011 pela sociedade civil
interessada através de consultas públicas; e nos dois últimos anos, por
parlamentares envolvidos com o tema.
Nesta reta final, o Link publica entrevistas com pessoas influentes sobre o
assunto e envolvidos diretamente nas discussões. Na quarta entrevista da série,
conversamos com o deputado federal (PT-RJ) e relator do projeto do Marco Civil,
Alessandro Molon. Formado em História e Direito, assumiu a relatoria do projeto
em março de 2012 e desde então, como ele diz, foi “tomado pela causa” da
liberdade na web.
Confira a entrevista:
O projeto tramita há dois anos na Câmara e há um na sua mão. Depois de tantos
adiamentos, o projeto sai nesta semana?
Pelo o que ouvi dos líderes na Câmara, eles estão preferindo deixar a votação
para a próxima semana, até para dar tempo de o novo texto ser melhor discutido.
Embora eu esteja pronto para votar a matéria há mais de um ano, se for adiado eu
espero que não passe da semana que vem. Nesta quarta, haverá um debate aberto no
plenário o qual contará com a participação de todos setores envolvidos:
sociedade civil, provedores, operadoras, pesquisadores e governo. Dali, poderão
surgir mais propostas para o texto. Inclusive, eu apresentei o substitutivo
[nesta terça, 5] para dar tempo de o assunto reverberar.
O senhor se disse aberto a acatar sugestões de mudanças. Há lideranças que
ainda esperam fazer alterações sobre a neutralidade da rede. O senhor aceitaria
algo sobre esse assunto?
Da minha parte, não há nenhuma possibilidade de acatar qualquer emenda que afete
a neutralidade. Se houver emendas que melhorem o projeto eu vou receber,
analisar e, se puder, vou acatar.
A maior novidade do novo texto é obrigação aos provedores de armazenar dados no
Brasil. Medida condicionada a decreto do Executivo…
Sim, mas o artigo tem todo o cuidado de dizer que obrigação se refere a quem
explora a internet comercialmente, o que evita que blogueiros e sites pequenos
não sejam incluídos. Ele também deixa claro que o decreto terá de levar
faturamento e porte da empresa em conta na hora de estabelecer suas definições.
Sobretudo, o artigo dos datacenters não se refere a uma questão de menos ou mais
armazenamento de dados, mas uma questão de onde nossos dados estão armazenados.
Acha viável que as empresas possam construir seus datacenters no Brasil?
Não há a menor duvida de que as grandes empresas conseguiriam instalar
servidores aqui, evidente o decreto terá de considerar o tempo que se levaria
para isso, dando algum prazo até que a infraestrutura seja finalmente instalada.
Vê alguma chance de o novo artigo, sobre os datacenters, adiar ainda mais a
votação do Marco Civil?
Não acho que vai levar a adiamento da votação, mas sim pode gerar mais debate,
inclusive dos que apoiam o Marco Civil, mas são contra esse artigo. O que adiou
a votação até hoje foi a resistência contra a neutralidade da rede. Tema que
ganhou força com o apoio da presidência. Hoje, apenas os provedores de conexão
são contra neutralidade, todos os outros setores da sociedade apoiam o
princípio.
O novo texto continua mantendo casos de infração a direito autoral de fora…
O que ficou claro durante a tramitação do Marco Civil é que o debate sobre a
proteção de direitos autorais ficaria para a reforma da Lei de Direitos Autorais
(LDA). A notícia que eu tenho é que o projeto está pronto para ser enviado à
Câmara. Se tivéssemos trazido esse debate para o Marco Civil, a minha
preocupação é de que isso aumentaria as polêmicas sobre o projeto e acabaria
sendo usado por quem quer enterrar o projeto.