WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Isto É
[08/11/13]
Sem pedágios na internet - por Ralphe Manzoni Jr.
A neutralidade da rede é um conceito simples. E sem ela a web como conhecemos
está morta
Imagine duas estradas paralelas na qual uma delas conta com pedágio e está
praticamente vazia. A outra, que não cobra nada, está abarrotada de carros e
congestionada. Os motoristas que se dispõem a pôr a mão no bolso chegarão mais
rápido aos seus destinos do que aqueles que, pacientemente, esperarão o tráfego
melhorar–se melhorar. De uma forma simplista e resumida assim ficará a internet
caso o Marco Civil, uma espécie de constituição da web, seja aprovado no
Congresso Nacional sem contemplar o que se convencionou chamar de neutralidade
da rede. Trata-se de um conceito simples.
O princípio de neutralidade significa que todas as informações que trafegam na
internet devem ser tratadas da mesma forma e navegar à mesma velocidade. Ele
garante também livre acesso a qualquer tipo de informação. O debate, recente no
Brasil, dura mais de dez anos nos Estados Unidos. Lá os cientistas Vinton Cerf,
considerado o “pai da internet”, e Tim Berners-Lee, criador da web, são
favoráveis à neutralidade da rede. Eles acreditam que o conceito é fundamental
para preservar a liberdade da rede mundial de computadores, uma característica
intrínseca dessa teia de informações desde o seu surgimento na década de 1960,
como um projeto militar.
Por outro lado, há interesses poderosos contra a neutralidade. Em especial, os
das empresas de telefonia, que querem vender serviços ao estilo das tevês a
cabo. Nesse modelo, o pacote básico daria direito a enviar e-mails. O “premium”
a acessar as redes sociais. E o “superpremium” a assistir a vídeos e a baixar
arquivos. Quanto mais intenso o uso, mais caro pagaria o consumidor. Enfim, a
diversidade de acesso dependerá do bolso do usuário. Há também, é preciso
admitir, argumentos razoáveis a favor das operadoras de telecomunicações. Elas
precisam investir somas bilionárias em suas infraestruturas de redes para dar
conta do tráfego de dados para que os usuários acessem serviços como YouTube e
Netflix.
Uma estimativa da fabricante americana de equipamentos de rede Cisco prevê que
90% do tráfego da internet será de vídeos em 2014. A despeito disso, não parece
sensato criar duas internets: uma para os abastados com acesso privilegiado e a
outra para os pobres, congestionada e lenta. O Brasil evoluiu muito nos últimos
anos. Um contingente de milhões de pessoas deixou a pobreza para se transformar
em consumidores de produtos e serviços. Essa evolução, no entanto, não significa
que todos os nossos problemas estejam resolvidos.
Há muitas desigualdades para se combater. A exclusão digital ainda é uma delas.
Permitir o acesso irrestrito a qualquer tipo de conteúdo na rede sem
discriminação é tão importante quanto garantir que todos os cidadãos são iguais
perante a lei. Se o conceito de neutralidade da rede sucumbir aos lobbies das
operadoras, a internet como conhecemos – assim como a forma que ela floresceu –
morreu. A maioria dos brasileiros ficará presa em um congestionamento de dados.
Aliás, nada diferente da vida real das grandes metrópoles. É isso que queremos?