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Leia na Fonte: RBA / Blog da Helena
[08/11/13]
Sem neutralidade da rede, teles escolherão o que você terá de engolir na
internet - por Helena Sthephanowitz
O deputado Eduardo Cunha é o mais saliente inimigo da liberdade dos internautas,
junto com a bancada do PMDB
As discussões sobre o Marco Civil da Internet que estão sendo travadas no
Congresso Nacional e na sociedade têm entre os temas mais polêmicos a
neutralidade da rede. Ou seja, essa neutralidade garante que quem vende o
serviço, as operadoras de telecomunicações, não pode se meter a bisbilhotar e
direcionar o internauta sobre o conteúdo que ele acessa. Não poderão privilegiar
o tráfego de dados de uns e praticamente sabotar o tráfico de dados de outros.
Sem neutralidade, as teles, além de ganharem dinheiro do internauta navegante
que contrata um plano, podem cobrar pedágio de quem divulga conteúdo para serem
acessados com mais velocidade. Para dar um exemplo, se uma grande organização de
mídia como a Globo pagar mais pedágio para as teles, para ser acessada mais
rapidamente, o portal G1, a Miriam Leitão, o Merval Pereira, o BBB serão
acessados instantaneamente. Enquanto isso, este blog aqui e tantos outros sites,
inclusive pessoais, que não têm dinheiro para pagar o pedágio que as
Organizações Globo pagão, ficarão lentos e difíceis de ser acessados, porque
serão jogados para segundo plano, para o fim da fila da velocidade de acesso.
Note-se que o grande prejudicado é o internauta navegante que paga sua conta
mensal para ter acesso a tudo lícito que bem entender, mas as grandes
corporações tomarão conta do tráfego, restringindo a diversidade da rede que
existe hoje, restringindo até a velocidade de troca de fotos, mensagens e vídeos
pessoais nas redes sociais para privilegiar propagandas e outras coisas que
rendam pagamentos extra.
Sem neutralidade, o fluxo de informações que corre na internet hoje perde a
característica de território livre acessível a todos com relativa igualdade e
passa a ser controlado por um cartel de grandes corporações de mídia, mandando e
desmandando em quais informações o internauta terá de engolir.
O prejuízo para a sociedade se estende na inovação. Hoje um "site" inovador de
jovens engenhosos pode bombar em poucas semanas e vir a competir com grandes
empresas em poucos anos. Se as teles e as grandes corporações tiverem o poder de
frear o crescimento de novatos, limitando o tráfego de acesso, será
institucionalizado o "direito" de os grandes massacrarem os pequenos, de os
antigos tubarões impedirem os novos organismos diferentes de sobreviver. Seria
como um grande supermercado ter o poder de ser dono da rua para limitar o acesso
de pessoas que podem entrar em uma venda de produtos orgânicos da agricultura
familiar aberta em sua vizinhança, em vez de deixar que cada pessoa resolva por
contra própria onde quer entrar e comprar.
Além disso, novas tecnologias benéficas para a sociedade, mas que tornam
obsoletas empresas antigas, podem ser sabotadas. Já aconteceu na própria
internet. Há poucos anos as ligações telefônicas interurbanas eram bem mais
caras do que são hoje e muita gente passou a substituí-las por ligações de voz
através da internet sem pagar tarifas interurbanas. Surgiram relatos na época de
que algumas teles estavam sabotando este tráfego de voz, programando seus
equipamentos de forma a interferir para que a conversa ficasse de má qualidade,
picotada. O objetivo era não perder polpudas receitas na telefonia interurbana.
As teles perderam essa batalha, e hoje incluem interurbanos ilimitados em
pacotes ou a custos ínfimos de chamada dentro de sua própria rede. Cederam os
anéis para não perderem os dedos.
Como se não bastasse, para as teles escolherem a velocidade que você pode
acessar um site, ela terá de implantar sistemas que acabam bisbilhotando o que
você está acessando, aumentando os riscos de violação de privacidade. E não
adianta fazerem juras de que não bisbilhotarão a privacidade alheia, porque as
recentes confirmações de empresas privadas colaborando com os serviços de
espionagem dos Estados Unidos mostram que toda vulnerabilidade conhecida existe
para ser explorada, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.
As teles já têm liberdade econômica para explorar o serviço de provimento de
internet vendendo por preços diferenciados velocidades diferentes, e há planos
com limite de volume de dados mensais para cobrar mais de quem usa mais. Querer
ganhar na outra ponta, pedagiando o tráfego dos fornecedores de conteúdo é
querer servir a dois senhores antagônicos ao mesmo tempo. Se as teles ganharem a
luta contra a neutralidade, os cidadãos saem perdendo também na condição de
consumidores, pelo desequilíbrio na relação de consumo. O cidadão estará pagando
um serviço para a tele escolher a prioridade do que ele pode acessar.
Simplesmente absurdo.
Mesmo diante destes absurdos, há um grande contingente de deputados afrontando
os direitos dos internautas à neutralidade apenas para tornar as teles e as
grandes corporações de mídia mais ricas do que já são, cobrando pedágio na outra
ponta e controlando a audiência na rede.
Se o poder econômico das teles e grandes empresas de mídia tem bala na agulha
para financiar campanhas e eleger bancadas dóceis aos seus interesses
comerciais, somos nós, mais de 100 milhões de internautas, quem depositaremos
votos nas urnas no ano que vem para eleger o próximo Congresso.
Portanto, se as teles têm poder de pressão de uma artilharia de mísseis
poderosos sobre o Congresso, temos muito mais poder de "infantaria", pois somos
muito mais numerosos. Denuncie nas redes sociais em alto e bom som, sem dó nem
piedade, o nome de cada deputado que está querendo estragar a internet cidadã,
para que não sejam reeleitos. Por enquanto, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é
o mais saliente inimigo da liberdade dos internautas, junto com a bancada do
PMDB. Os outros deputados que querem votar junto com Cunha estão voando baixo
para o radar do internauta não captá-los. Pressão total sobre eles,
denunciando-os nas redes sociais. Só assim reverão seu voto.
Do contrário, não adiantará reclamar depois se a vovó que mora longe, ao tentar
abrir um vídeo do aniversário da netinha, receber a mensagem: "A rede está
congestionada agora para este serviço. Tente mais tarde." Ah, claro que seguido
de um anúncio do tipo: "Por mais R$ 50 mensais você pode contratar um plano
'VIP' que lhe dará maior velocidade para vídeos e fotos pessoais. Enquanto isso,
desfrute da velocidade de vídeos assistindo o replay do programa do Faustão!".