WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: IDG Now! / Blog Circuito de Luca
[25/10/13]
Armazenamento local de dados: a nova batalha no Marco Civil - por Cristina
de Luca
A inclusão de um dispositivo no Marco Civil da Internet obrigando a guarda de
dados de brasileiros no país vem preocupando diversas entidades setoriais e já
se tornou a mais recente batalha a ser travada no Congresso, semana que vem (a
votação está prevista para segunda-feira, 28/10), ao lado de outros temas
polêmicos como a neutralidade e a inimputabilidade da rede.
No início de setembro, em audiência pública no Senado Federal, o diretor de
Infraestrutura e Convergência Digital da Brasscom, Nelson Wortsman, defendeu que
a obrigatoriedade de armazenamento local de dados deve ser tratada em legislação
específica e não no Marco Civil. E que as decisões de caráter temporal de
acessos a dados devem ser separadas das de caráter estrutural (localização do
dado). “Estamos misturando muito as coisas”, afirmou. Segundo o executivo, não
importa onde os dados estejam, o que importa é como e quem pode acessá-los. E o
desenvolvimento de acordos bilaterais é o caminho para agilizar o acesso aos
dados em qualquer parte do mundo. A entidade, que congrega grandes empresas
prestadoras de serviços, nacionais e multinacionais, como Microsoft, IBM e
Google, se reúne na próxima segunda-feira para tornar público seu posicionamento
oficial sobre o texto do Marco Civil, e essa preocupação deve estar contemplada.
Já nesta sexta-feira, 25/10, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico –
camara-e.net, na condição de entidade multissetorial da economia digital da
América Latina, fez circular uma carta aberta na qual manifesta-se publicamente
sobre a proposta de inclusão no projeto do Marco Civil da obrigatoriedade do
armazenamento dos dados de pessoas físicas e jurídicas brasileiras em “data
centers” localizados no Brasil.
No texto a camara-e.net advoga que “o tema da guarda de dados, pela sua
importância estratégica e pelos impactos que terá na vida dos cidadãos, das
empresas, do governo e da sociedade brasileira nas próximas décadas, seja
impreterivelmente inserido na mesma dinâmica democrática e participativa
empregada para a elaboração do Marco Civil da Internet, com amplos debates,
discussões e consultas públicas”.
A camara-e.net, em nome de seus associados, se coloca à disposição do Congresso
Nacional e todos demais interessados para discutir as diretrizes sobre segurança
e privacidade de dados de pessoas físicas e jurídicas brasileiras na Internet,
contribuindo com seu know-how técnico e prático, além da expertise na área de
participação de seus associados no mercado, participando ativamente das
audiências, debates e reuniões realizadas sobre o tema. E sugere a imediata
criação de um grupo técnico com o apoio de várias instituições da sociedade
brasileira que possam apontar soluções, discutir democraticamente o tema e
encaminhar as melhores opções.
Tanto a Brasscom quanto a camara-e.net consideram que a obrigatoriedade da
guarda de dados no país afetará negativamente a competitividade do país nas
próximas décadas e a sua inclusão ou exclusão de um mundo conectado onde parte
significativa do conhecimento, da inovação, da competitividade da geração de
riqueza passa pelo ambiente digital.
Falando a respeito do assunto no programa “Entre Aspas”, da Globonews, nesta
sexta-feira, 25/10, o relator do projeto do Marco Civil, deputado Alessandro
Molon (PT/RJ) deixou claro estar convencido de que a guarda local pode
contribuir para definir qual lei será aplicada sobre esses dados, “por que nós
já temos visto respostas de empresas transacionais, quando se questiona a
proteção desses dados, que a proteção de dados de brasileiros guardados no
exterior não se aplica à lei brasileira, mas a lei do país onde o dado está
armazenado”. Na opinião de Molon isso é um problema sério.
‘É muito difícil a gente trabalhar o conceito de território na Internet”, afirma
Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet, que também
participou do “Entre Aspas”. “O princípio da internet é parte da distribuição. E
hoje, quando se fala em computação em nuvem, esse princípio é guiado pela
eficiência da rede. Por isso esse é um assunto complexo que, do nosso ponto de
vista, requer mais discussão.”
A obrigatoriedade da guarda local vai deixar a rede mais lenta? Vai tornar o
serviço mais caro? Não seria mais interessante para o internauta brasileiro que
o governo investisse em baixar o custo Brasil para tornar o país mais atraente
para o investimento na construção de mais data centers no país, do que obrigar
as empresas a fazerem este investimento arcando com altos custos da energia
elétrica e dos equipamentos necessário no país?
Segundo a Brasscom, enquanto montar um datacenter no Brasil custa US$ 61
milhões, no Chile custa US$ 51 milhões e nos EUA US$ 43 milhões. E a manutenção
também é mais cara. São US$ 100 milhões de manutenção anual aqui, US$ 71 milhões
no Chile e US$ 51 milhões nos EUA.
[Ver
quadro comparativo na Fonte]
Na opinião da Brasscom, o crescimento do mercado de data centers no Brasil será
uma consequência natural da melhoria da competitividade.
Molon reconhece que talvez o lugar mais adequado para este debate fosse a o
Projeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais que é a próxima a ser encaminhada
pelo Executivo ao Congresso., porque vai tratar exatamente deste ponto. “O
problema é que o processo legislativo é tão lento no Brasil [o Marco Civil
tramita há 2 anos] que este tema acaba sendo debatido no Marco Civil por uma
questão de eficiência do processo legislativo”, afirma Molon.
A falta de consenso preocupa
Todos concordam que o Marco Civil deve ser votado o quanto antes. Mas o maior
temor hoje é a falta de consenso sobre diversos pontos do Marco Civil, a começar
pela questão da neutralidade de rede, passando pela questão da obrigatoriedade
da guarda de dados no país, até a questão da inimputabilidade da rede,
relacionada à exigência ou não de ordem judicial para a remoção de conteúdo.
O próprio Molon admite que, em função do regime de urgência, seu texto corre o
risco de ganhar uma série de emendas. “A polêmica da guarda de dados é a mais
recente, mas está longe de ser a maior polêmica. A guerra em torno da proteção
da neutralidade da rede é decisiva para o uso que os 100 milhões de internautas
brasileiros podem fazer da rede. É aí que estão os principais interesses. É
contra isso que os provedores de conexão estão se mobilizando. E podemos ter
emendas sim que possivelmente desvirtuem esse que é o coração do projeto. Isso é
muito preocupante”, diz Molon.
A essência do Marco Civil é a neutralidade de rede. Sem ela pode ser que os
provedores de conexão cobrem tarifas diferenciadas de acordo com o tipo de
conteúdo trafegado na rede. O internauta perderia muito da sua liberdade de
escolha, na opinião de Molon. “Tirar esse conceito é distorcer a internet como a
conhecemos hoje”, afirma Eduardo Neger.
Molon considera o conceito de neutralidade de rede intocável e acredita que a
sociedade pode pressionar os parlamentares para que o projeto seja aprovado sem
mudanças nesse tema.
Outra questão polêmica é
responsabilização dos provedores por conteúdos postados pelos usuários apenas
após desrespeitarem ordem judicial para remoção desse conteúdo. Os críticos
alegam que uma decisão judicial poderia fazer demorar a remoção de conteúdos
ofensivos à honra, por exemplo, e defendem que o notice-and-take-down para tudo,
não apenas para casos que infrinjam os direitos autorais ou os direitos conexos.
“A notificação pessoal não está proibida e o provedor de conteúdo pode continuar
retirando o conteúdo mesmo sem a ordem judicial. O ofendido pode continuar
notificando o provedor. Mas nos casos em que houver dúvida o provedor pode
esperar pela decisão da Justiça”, diz Molon.
A ver.