WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: Exame
[03/09/13]
Anatel quer revisão de modelo de gestão da internet mundial - por Samuel
Possebon
Para conselheiro e vice-presidente da Anatel, Jarbas Valente, questão da
governança da Internet vai hoje muito além da designação de domínios e endereços
de IP
A Anatel defende, abertamente, uma mudança no modelo de gestão da internet entre
os países como forma de assegurar maior seguranças das comunicações e equilibrar
economicamente o tráfego internacional.
Segundo o conselheiro e vice-presidente da Anatel, Jarbas Valente, em
apresentação à Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado para tratar do Marco
Civil da internet, a questão da governança da internet vai hoje muito além da
designação de domínios e endereços IP.
"A governança passa por proteção de dados, custos de interconexão entre redes e
outros aspectos".
Segundo o conselheiro, o modelo de gestão da internet está hoje submetido ao
ICANN, que é "ligado ao Departamento de Estado norte-americano". O conselheiro
diz que a União Europeia é a única região que tem conseguido equilibrar esse
modelo. "Mas hoje, tudo o que se precisa construir na internet precisa passar
pelo governo dos EUA".
Ele lembra que o Brasil tem uma outra posição como Estado, defendida durante a
última Conferência Mundial de Comunicação e Informação (WCIT) em Dubai, em 2012.
"O debate é como isso deve evoluir. Se for um modelo de telecomunicações, seria
um modelo aberto, discutido no âmbito da UIT. No modelo atual, fica difícil
qualquer país se defender", lembrou Valente.
Para ele, o debate deve mais do que nunca "considerar a importância estratégica
econômica, social e tecnológica comercial, além de aspectos relacionadas a
segurança das aplicações da internet". Conforme o relato do conselheiro, a
posição que o Brasil teve, antagônica à posição dos EUA e Europa, era justamente
para assegurar a mudança desse modelo. "Queremos garantir que a internet tenha
servidores-raiz no Brasil, pontos de troca de tráfego de nível 1 no nosso país,
governança efetivamente multilateral".
Segundo Valente, a internet hoje tem problemas estruturais que decorrem do
modelo de governança, o que levou a uma determinada topologia, gerando um
desequilíbrio no trânsito IP, o que gera vulnerabilidades de segurança porque
tudo passa pelos EUA. "Queremos fomentar rotas internacionais".
Questionado por este noticiário sobre a questão da vulnerabilidade dos
equipamentos de telecomunicações, que ao obedecerem à legislação norte-americana
CALEA permitiriam portas de acesso (backdoors) às comunicações brasileiras,
Valente reconheceu que esse é um problema de difícil solução.
"É uma vulnerabilidade que é praticamente impossível de ser detectada. Não dá
para analisar isso quando certifica um equipamento porque é uma questão do
software, sobre o qual não conseguimos ter pleno controle. A solução para
diminuir esse problema é rever a questão da governança, o que nos dará mais
controle sobre o que acontece nas redes", diz ele
Neutralidade vs. rede
Valente também foi muito crítico à redação dada no Marco Civil em relação à
questão da neutralidade. Segundo ele, pela primeira vez uma Lei definirá o que é
internet, "e essa definição deixa claro que internet é inerente aos serviços de
telecomunicações, pois engloba comunicação de dados".
Para o conselheiro, quando o Marco Civil escreve que é proibido "bloquear,
monitorar, filtrar, analisar e fiscalizar" os dados, pode acabar criando
dificuldades justamente para assegurar a neutralidade. "Não podemos falar apenas
de apenas neutralidade de rede, mas neutralidade de dispositivo, neutralidade
dos usuários, neutralidade das aplicações/serviços e conteúdos. Não tem como
assegurar isso sem poder controlar a rede".
Para Valente, o projeto "deveria se abster de entrar em questões técnicas
relacionadas a arquitetura, gestão, definição e operação da internet e suas
redes de suporte".