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Fonte: Estado de S.Paulo
[22/09/13]
Marco Civil lança bases para proteção da privacidade no país - por Anna
Carolina Papp
Após um longo período de gaveta e diversas tentativas de votação, o Marco Civil
da Internet deve sair do papel. O projeto de lei nascido em 2009, que tem por
objetivo regulamentar a internet e defender princípios como liberdade de
expressão online, privacidade e neutralidade da rede, tramita em regime de
urgência na Câmara e terá de ser votado até o final de outubro.
A pressão para a aprovação do projeto amplamente debatido aumentou após o
escândalo de espionagem norte-americana, que incluiu o monitoramento de e-mails
da presidente Dilma Rousseff. As denúncias, além de levarem a presidente a
cancelar a visita de Estado aos EUA, fizeram com que ela se reunisse com membros
do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), para entender como o Marco Civil funciona
e como pode proteger os dados dos brasileiros.
“O saldo foi positivo, não só por conta das discussões sobre o Marco Civil, mas
em relação à governança da internet. É preciso diálogo com a academia, as
empresas e a sociedade civil, para que a solução não seja pautada apenas pelo
governo”, diz Veridiana Alimonti, advogada do Idec e membro do CGI.
Apesar de ter voltado à tona com a revelação do programa de vigilância e coleta
de dados, o Marco Civil, por si só, não impede a espionagem. No entanto, traz
diretrizes e determina princípios para leis mais específicas – como a lei de
dados pessoais, já pronta, mas ainda empacada entre o Ministério da Justiça e a
Casa Civil.
“O Marco vai servir de Constituição para o PL de dados pessoais, que vai dar
corpo e efetividade jurídica àquilo que o Marco Civil coloca como princípio,
como a privacidade”, afirma o jurista Paulo Rená, gestor do projeto em seu
início.
O texto determina que os provedores de conexão só guardem os logs (dados de
acesso) dos usuários por um ano – hoje, isso pode ocorrer por tempo
indeterminado. Além disso, as companhias só poderiam acessar esses bancos de
dados por meio de ordem judicial.
Com os princípios norteadores do Marco Civil, a lei de dados pessoais detalharia
como deveriam ser geridos esses bancos de dados e as penalizações em casos de
violação. “Se os dispositivos do Marco Civil já existem em outros países há 15
anos, a proteção a dados pessoais já existe há 30 . Estamos 30 anos atrasados”,
afirma Ronaldo Lemos, cofundador do Centro de Tecnologia e Sociedade, da FGV-Rio.
Apesar de tudo caminhar para a aprovação do Marco, ainda não se sabe qual a
versão final do texto que vai para votação. O governo estuda incluir a proposta
de que empresas de internet devem hospedar os dados de usuários brasileiros no
País – medida que gera divergência. “O único benefício é econômico, vai haver
mais investimento em tecnologia no Brasil. Mas, como não temos um arcabouço
jurídico para a proteção de dados, não teria quem regulasse quem tem acesso ou
não às informações desses data centers”, diz Rená. Para ele, bem como para o
CGI, a medida precisa ser mais debatida e não deve entrar no Marco Civil.