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Fonte: Observatório da Imprensa - Origem: Valor Econômico
[01/04/14]
Com ressalvas, teles apoiam marco civil - por Ivone Santana
As operadoras de telecomunicações e os provedores de acesso comemoraram
discretamente a aprovação do Marco Civil da Internet pela Câmara dos Deputados
na noite de terça-feira. O resultado põe fim a um pesadelo para as empresas do
setor, que corriam o risco de se submeter a regras muito mais rígidas do que as
que constam do relatório final.
A proposta vinha sendo construída há cinco anos e entrou em fase de votação há
dois anos. Depois de muita discussão entre grupos que defendiam os interesses
das empresas do setor ou dos consumidores, prevaleceu o meio-termo no relatório
do deputado Alessandro Molon (PT-RJ). Assim, o Brasil tornou-se o quarto país a
aprovar uma legislação de internet, depois da Eslovênia, da Holanda e do Chile.
A legislação brasileira, no entanto, é considerada mais ampla que as demais, que
se restringiram a questões da neutralidade da rede. A neutralidade significa que
qualquer conteúdo legal na rede deve ser tratado de forma isonômica, sem que os
provedores de acesso e operadores favoreçam ou discriminem usuários.
Um dos pontos relevantes para as empresas do setor é a preservação do modelo de
negócios, com preços diferentes dependendo da velocidade contratada. As teles
temiam que fossem obrigadas a oferecer uma única velocidade, no limite de sua
capacidade, sem poder cobrar um preço correspondente. Ao mesmo tempo, defendiam
o direito de dar prioridade no tráfego para quem pagasse mais por isso, o que
não foi aprovado. A questão é antiga. Há tempos as teles reclamam que o tráfego
gerado por provedores de conteúdo e redes sociais como Google, Facebook e
Netflix ocupam um grande espaço na infraestrutura. Essas empresas obtêm receita
com os serviços oferecidos (assinaturas, publicidade etc.), mas não dividem o
que é recebido com as operadoras.
Recentemente, o Netflix, provedor de vídeos na internet, concordou em pagar mais
para melhorar a velocidade de seu conteúdo na rede da Comcast, operadora dos
EUA. No Brasil, isso não será possível. “Para essas empresas de conteúdo, a lei
será ótima porque os pacotes serão isonômicos. Mas haverá um impacto financeiro
para as operadoras, porque não poderão vender esse serviço de forma
diferenciada”, disse o advogado Fábio Pereira, sócio do Veirano Advogados. Para
as teles, não há interesse que serviços como o Skype funcionem bem no celular,
mas elas não poderão reduzir a velocidade disponível, disse Pereira. Nesse
sentido, a neutralidade não é um bom negócio para as teles.
Cobrança adicional
O Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e
Pessoal (SindiTelebrasil) deu seu aval ao projeto, “mesmo não sendo em sua
totalidade a proposta que o setor considera ideal para a sociedade”. O
importante para o setor é que o texto “assegura que seja dada continuidade aos
planos existentes e garante a liberdade de oferta de serviços diversificados”.
A TelComp, outra organização do setor, também apoiou o projeto, com ressalvas.
“Não é o que se esperava”, disse o presidente João Moura. “A flexibilidade
[prevista no projeto] é dentro de um limite bem definido; acomoda os modelos
atuais, mas não permite criar novos modelos de negócios com formas diferentes de
cobrança”, disse Moura.
Existe, entretanto, um mecanismo para tratar das exceções. Nesse caso, a questão
será levada à Presidência da República, que deverá ouvir a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) e o Comitê Gestor da Internet (CGI.br), disse Rony
Vainzof, professor e especialista da Opice Blum, Bruno, Abrusio e Vainzof
Advogados Associados. Se for aprovada, a questão será regulamentada.
As teles também reivindicavam uma cobrança adicional para quem usa a rede mais
intensamente. Além disso, queriam se igualar a provedores de conteúdo que podem
usar robôs para ler as mensagens de e-mail dos clientes e depois vender
publicidade dirigida. A Câmara não aceitou. “As operadoras não poderão explorar
receita a partir daí”, lamentou Moura.
Para o professor Arthur Barrionuevo, da FGV, se houver muita rigidez em relação
aos pacotes que as operadoras pretendem lançar no futuro, essas companhias podem
se sentir desestimuladas a investir no aumento de velocidade na rede.