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Fonte: Observatório da Imprensa - Origem: Carta Capital
[01/04/14]
Os próximos passos - por Mariana Giorgetti Valente
Mariana Giorgetti Valente é professora de direito e pesquisadora e do Centro
de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (CTS/FGV)
Aprovado no plenário da Câmara dos Deputados na última terça-feira 25, o Marco
Civil da Internet é um projeto de iniciativa do Executivo, que tramita na Câmara
desde agosto de 2011. Com a aprovação na casa iniciadora (Câmara), o projeto
segue agora para o Senado, que atuará na condição de casa revisora. Isso
significa que o Senado agora pode (a) aceitar o texto integralmente, caso em que
o projeto de lei seguirá diretamente para sanção pela Presidenta, ou (b) propor
emendas ao texto, caso em que o projeto retornará à Câmara para uma nova
apreciação (do substitutivo do Senado).
Se o Senado propuser emendas e o texto voltar à Câmara, há novamente algumas
opções de encaminhamento. A Câmara pode aprová-las ou rejeitá-las, e, nesse
último caso, integral ou parcialmente. A rejeição parcial significa que a Câmara
aceita algumas das mudanças (por exemplo, alguns dos artigos emendados, ou ainda
parágrafos e incisos emendados), mas outras não. O que a Câmara não pode fazer,
nesse momento, é inovar, ou seja, inserir disposições no texto que ela já havia
aprovado.
Decidindo pela aprovação ou pela rejeição das emendas, a Câmara envia o projeto
para sanção pela Presidenta. Em outras palavras, mesmo que rejeite todas as
emendas propostas pela casa revisora e mantenha integralmente o texto que havia
aprovado anteriormente, o projeto não volta para o Senado.
Esse processo pode ser bastante demorado, pois, quando um projeto é recebido
pela Mesa do Senado, devem ser designadas as comissões da casa que, uma por uma,
analisam o texto e votam um parecer indicativo. Os pareceres das diversas
comissões são apreciados em plenário, que vai então votar o projeto.
Governança global
No caso do Marco Civil da Internet, a Presidência da República decretou a
urgência constitucional, que altera vários dos prazos regimentais, e obriga cada
uma das casas legislativas (Câmara e Senado) a se manifestar em até 45 dias.
Como o projeto foi recebido no Senado no dia 27 de março, como PLC n° 21/2014, a
pauta da casa será trancada em 45 dias após essa data, caso não seja votado.
Nessa hipótese, as demais deliberações legislativas do Senado ficam suspensas, a
não ser aquelas para as quais a Constituição determine outro regime, como é o
caso das medidas provisórias e dos códigos.
Quando o Senado recebe um projeto aprovado pela Câmara, a Mesa determina quais
serão as comissões parlamentares que discutirão o assunto e emitirão um parecer.
Outra diferença do regime de urgência, no qual o Marco Civil da Internet
tramita, é que o projeto segue para todas as comissões designadas ao mesmo tempo
(no caso, as Comissões de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e
Informática; de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle; e
de Constituição, Justiça e Cidadania, essa última com relatoria do senador Vital
do Rêgo, PMDB-PB), e elas têm apenas 25 dias, a partir do recebimento (dia 27 de
março), para emitirem seus pareceres. Terminado esse prazo, o projeto será
incluído na ordem do dia, para votação em plenário, mesmo sem os pareceres.
Por fim, no regime de urgência, somente uma das comissões pode propor emendas, e
no prazo de cinco dias úteis – no Marco Civil da Internet, será a Comissão de
Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática. Ou seja, há diversas
razões formais para que o Marco Civil da Internet tramite rapidamente na casa
revisora.
Mas o regime de urgência não significa apenas uma mudança nos prazos do processo
legislativo. Simboliza também que a questão tratada é uma prioridade do governo,
que se esforçará pela sua aprovação rápida. Há muitas pressões nesse sentido: o
presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) já garantiu que o projeto será
analisado pela casa em “curtíssimo prazo”, e, de toda forma, antes do período
eleitoral; o ministro das Comunicações Paulo Bernardo tem afirmado que, diante
da extensa discussão que já se deu na Câmara, está confiante de que o prazo dado
ao Senado é suficiente para a apreciação de um projeto que já vem maduro.
Desde que a espionagem norte-americana foi denunciada por Edward Snowden no ano
passado, a presidenta Dilma Rousseff passou a encarar a regulação da Internet
como tema prioritário de sua gestão. Foi então que o Marco Civil entrou em
regime de urgência e, sobretudo, iniciaram-se as discussões para realização de
um evento sobre o futuro da governança global da Internet, hoje centralizada nos
EUA. O evento, batizado de NetMundial, ocorrerá em São Paulo nos dias 23 e 24 de
abril. Como estandarte de boas práticas, o governo tem pressa em ter o tão
prometido Marco Civil: Dilma estaria pretendendo sancioná-lo justamente durante
o evento.