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Leia na Fonte: Teletime
[14/02/14]
Para teles, interpretação de Molon sobre neutralidade pode inviabilizar apoio ao
texto - por Samuel Possebon
O deputado relator da proposta de Marco Civil da Internet, deputado Alessandro
Molon (PT-RJ) bem que tentou manter o texto da última redação do projeto
inalterada em relação à negociação que havia sido feita com as empresas de
telecomunicações e com o Ministério da Justiça em dezembro do ano passado,
notadamente no que tange à questão da neutralidade.
Mas um detalhe deve fazer com que as empresas de telecomunicações revejam a
posição de, até aqui, apoiar o texto como estava. O que as teles estão dizendo é
que, em dezembro, havia sido acertado que o texto de Molon permitiria a
diferenciação de modelos de negócio, preservados os princípios da neutralidade.
Mas ao tornar pública sua última versão, e durante a leitura da mesma em
Plenário ocorrida na terça, 11, Molon trouxe na justificativa do projeto uma
interpretação que desagradou as teles. O trecho polêmico da justificativa de
Molon é o seguinte:
"O que não pode ocorrer, sob risco de se prejudicar a estrutura aberta da
Internet, bem como a inovação e os consumidores, é aumentar o controle sobre o
uso do meio, da infraestrutura física. Modelos diferenciados de cobrança e
tratamento dos pacotes podem resultar no fim do modelo descentralizado da
Internet, e o início da oferta de pacotes fatiados por tipos de serviços, o que
não seria aceitável, por ir contrariamente à inovação, aos direitos do
consumidor, bem como à arquitetura aberta, livre e descentralizada da Internet,
propensa a novos entrantes no mercado."
Em novembro havia nas justificativas do projeto uma passagem semelhante, mas na
versão final ela foi ampliada e acrescida da frase "e o início da oferta de
pacotes fatiados por tipos de serviços". Segundo fontes das teles ouvidas por
este noticiário, essa interpretação da lei não é o que foi acertado com o
governo e com o próprio relator em dezembro. Além do que consideram uma quebra
de acordo, o problema de Molon ter expressado esse entendimento nas suas
justificativas representaria um risco jurídico. Isso porque essa interpretação,
mesmo que não esteja no texto da lei, será a que orientará qualquer juiz a
entender a intenção do legislador em caso de disputas judiciais. Ou seja, para
as teles, Molon pode ter até alterado a redação conforme acertado, mas não mudou
a sua interpretação, e isso é um problema. "Se disser que não pode diferenciar
os tipos de serviço, fica inviável, por exemplo, ofertar conteúdos gratuitos
patrocinados ou de interesse público, como se faz hoje com o Facebook, por
exemplo", diz uma fonte ligada às teles.
Plano B
A alternativa que está sendo analisada pelas empresas de telecomunicações é
apoiar para votação em Plenário a emenda que já havia sido feita pelo deputado
Ricardo Izar (PSD-SP), e rejeitada por Molon. Trata-se de uma emenda que em seu
trecho mais relevante diz que "é facultada a contratação de condições especiais
de tráfego de pacote de dados, entre o responsável pela transmissão e terceiros
interessados em provimento diferenciado de conteúdo, desde que não haja prejuízo
ao tráfego normal de dados".