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Fonte: Jornal de Hoje
[03/05/14]
A democracia das conveniências - por Jamil Marques
Jamil Marques é Professor do Instituto de Cultura e Arte da UFC e membro do
Conselho de Leitores do O Povo
A aprovação do Marco Civil da Internet trouxe uma importante conquista para o
país: dentre os aspectos mais relevantes do projeto sancionado pela
presidente,está a chamada “neutralidade de rede”, cujo objetivo é garantir a
isonomia dos pacotes de dados adquiridos pelos consumidores.
Enquanto você ainda está na década de 1980, reclamando da “manipulação” da Rede
Globo (que só é verificada, claro, quando o partido de sua preferência é
criticado), as empresas de telecomunicações lucram mais do que qualquer emissora
de radiodifusão. De forma discreta, sem enfrentar maior concorrência e
fiscalizadas por uma agência reguladora desorganizada, as “teles” se aproveitam
da necessidade crescente que temos de serviços de transmissão de dados e de voz.
O Marco Civil é apenas uma tentativa de evitar tal concentração de poder.
Mas meu objetivo aqui não é tratar de detalhes de nossas políticas de
comunicação. Na verdade, quero chamar a atenção para o modo como o referido
projeto tramitou no âmbito de nossas instituições.
Os vários anos de debates na Câmara aperfeiçoaram a proposta, mas ilustram a
lentidão do nosso Legislativo, que cansou a todos com as promessas de votação. O
Senado Federal, por sua vez, simplesmente abdicou de seu dever de Casa revisora.
As manobras governistas para apressar a aprovação no Congresso tinham como
objetivo final contemplar – pasmem – o cerimonial da Presidência da República,
uma vez que Dilma iria participar, em seguida, de um fórum dedicado a refletir
sobre os rumos da Governança da Internet.
Políticas menos preocupadas com os méritos e com os efeitos das leis (e mais
dedicadas a atrair aplausos) ou julgamentos pautados exclusivamente pela
gritaria partidária são sintomas de problemas. O curioso é observar que muitos
daqueles que “lutavam” pela aprovação rápida do Marco Civil no Senado –
suprimindo o debate – são os mesmos que criticam, por exemplo, a Prefeitura de
Fortaleza por não discutir com a devida profundidade as obras que modificam o
trânsito – e a vida – na Aldeota. De conveniência em conveniência, segue a
democracia brasileira.