WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2014
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: Veja
[13/05/14]
Decisão da UE de apagar links do Google é temerária, diz especialista brasileiro
Para Ronaldo Lemos, remover conteúdo por causa de interesses individuais é
"revisionismo histórico". Empresas de internet também reclamam
A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) desta terça-feira que
obriga o Google a atender a solitações de remoção de links foi criticada por
especialistas e empresas de internet. Autoridades do bloco europeu comemoraram.
O Tribunal se baseou em uma lei de proteção de dados, de 1995, que permite a
qualquer cidadão da UE demandar a exclusão de dados pessoais quando as
informações são consideradas "inadequadas ou irrelevantes" — a remoção só não é
permitida caso as informações sejam de "interesse público". A Corte cita ainda a
chamada doutrina do "direito de ser esquecido", que pretende preservar
informações privadas na internet.
"Remover um conteúdo por causa de um interesse individual é quase um
revisionismo da história", diz o advogado Ronaldo Lemos, diretor do instituto de
Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e um dos idealizadores do Marco Civil
da Internet. "O conceito do 'direito de ser esquecido' pode ser interpretado de
muitas maneiras: afinal, quem define se um fato é relevante ou se aquela
informação é de interesse público? Não existe qualquer regra disciplinando a
aplicação dessa doutrina e, por isso, ela é tão controversa."
O advogado teme ainda que a decisão crie uma jurisprudência com prejuízos à
liberdade de acesso à informação. "Se esse conceito se estabelece, pessoas
citadas em reportagens de TV, jornal ou revista podem começar a solicitar que
suas informações sejam retiradas da rede. Trata-se de uma ameaça ao registro
histórico."
Um grupo de empresas do setor de tecnologia afirmou que a decisão representa uma
ameaça à liberdade de expressão na Europa. "Essa determinação da Justiça abre as
portas para a censura privada em larga escala", disse James Waterworth,
representante em Bruxelas da Associação da Indústria de Computação e
Comunicação, da qual Facebook, Microsoft, Google e T-Mobile são membros. "Embora
a decisão tenha sido tomada a fim de oferecer proteção aos usuários, nossa
preocupação é que isso possa ser usado de má-fé por políticos ou outras pessoas
que tenham coisas a esconder ", disse o especialista ao jornal The New York
Times.
Al Verney, um porta-voz do Google, afirmou, logo após o anúncio da decisão, que
estava desapontado com a decisão. "Ficamos surpresos com a determinação.
Precisamos de um tempo para avaliar as implicações desse caso", disse o
representante da companhia americana.
A comemoração da decisão ficou por conta das autoridades da UE. Viviane Reding,
comissária para a Justiça do bloco, considerou o veredicto uma vitória para os
cidadãos europeus. "Agora as empresas americanas não podem mais se esconder
atrás de seus servidores na Califórnia", disse Viviane em seu perfil no
Facebook. "Os dados pertencem aos indivíduos e não às companhias. E a menos que
haja uma ótima razão para manter esses dados, o indivíduo deve ter poderes para
solicitar qualquer remoção."
A decisão é o último capítulo de uma ação iniciada pelo espanhol Mario Costeja
González em 2009. Ele afirma que naquela data o buscador ainda exibia notícias
relativas ao processo que ele sofrera em 1998 em que, por débitos, perderia sua
casa. González, então, acionou a Agência Espanhola de Proteção de Dados contra o
jornal espanhol La Vanguardia, que publicara as informações, e o Google, que
exibia os dados em sua página de buscas. Para Gonzalez, o conteúdo deveria ser
removido por não ter mais nenhuma relação com seu nome.
Na época, o órgão espanhol não aceitou a denúncia contra a publicação por
considerar que o jornal "publicou legalmente a informação", mas considerou que o
Google deveria adotar as "medidas necessárias para retirar os dados" de sua
plataforma. Na ocasião, o gigante de buscas considerou o ato censura.
A Agência Espanhola, por sua vez, apresentou recurso na Justiça, que considerou
o Google responsável pelo tratamento dos dados pessoais armazenados em seu
sistema. "O Google deve conceder aos usuários o direito ser esquecido na
internet, mas em determinadas condições", diz a decisão do Tribunal. "Os links
para sites que contêm essa informação devem ser suprimidos da lista de
resultados, a menos que existam razões específicas – como o papel desempenhado
por esta pessoa na vida pública – que justifiquem que prevaleça o interesse do
público a ter acesso a essa informação ao efetuar a busca."