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Fonte: Convergência Digital
[26/03/14]
Especialistas ainda divergem sobre neutralidade no Marco Civil - por Ana
Paula Lobo
No dia seguinte a aprovação do texto do relator Alessandro Molon, do PT/RJ, para
o Marco Civil da Internet - com uma surpreedente unanimidade após dois anos de
muita batalha e de semanas duras com embates entre partidos da base aliada - o
clima no mercado é de expectativa positiva. A PROTESTE - Associação de
Consumidores, por exemplo, por meio de nota oficial, comemora a decisão.
"Trata-se de uma grande conquista dos consumidores, que garante a democracia, a
neutralidade das redes e a liberdade de expressão na Internet".
Segundo ainda a entidade, "da forma como está disposto o texto do PL, provedores
que ofereçam planos de internet para um determinado tipo de serviço não serão
mais autorizados, e isso facilitará a vida dos consumidores de um modo geral.
Hoje ocorre, por exemplo, de um plano ser oferecido apenas para acessar e-mail,
outro só para englobar serviços de voz e acesso a vídeos e assim por diante. O
Marco Civil é central para a democratização das comunicações no Brasil".
Mas há pontos de discussões. E, claro, a neutralidade de rede está à mesa. Para
o advogado e integrante do Instituto Coaliza, Walter Capanema, a redação do
artigo 9º, abre brecha para colocar o acordo firmado entre a Netflix e a Comcast
como uma exceção a ser regulamentada pela presidência da República. "
A questão é: o Executivo vai ouvir a Anatel e o Comitê Gestor da Internet,
segundo o Marco Civil. Vamos entrar numa esfera política. E se não houver
consenso? O Executivo dará a palavra final, mesmo não sendo especialista no
assunto, apesar das posições da Anatel e do Comitê Gestor? predominará a posição
do órgão regulador? Nós sabemos que a Anatel tem tomado decisões orientadas ao
mercado", sustenta.
Já para o advogado e diretor superintendente do Instituto Avanzi, ONG de defesa
dos direitos do consumidor de telecomunicações, Dane Avazzi, as regras como
estão colocadas garantem a neutralidade de rede e impedem, sim, que uma das
provedoras de telecomunicações do país eche acordos de priorização de tráfego
como o da Comcast/Netflix.
"Não enxergo abertura para esse tipo de negociação no texto aprovado para o
Marco Civil", pondera. Mas segundo Avazzi, boas intenções à parte, o Marco Civil
não trará mudanças para o usuário da Internet no Brasil. "Em termos práticos, a
internet vai ficar mais barata? Não. Continuará existindo vários tipos de
pacotes que vão definir a qualidade que o consumidor terá.
Se a lei for sancionada como está pode impedir que no futuro seja cobra pelo
acesso por tipo de conteúdo, mas com a obrigação da guarda de logs, determinada
na versão aprovada, esse custo pode ficar mais caro", sinaliza o advogado.
A neutralidade é ponto controverso até para os provedores Internet. A Associação
Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (ABRINT), por meio de
comunicado, pondera que a aprovação do Marco Civil foi um avanço, mas sustenta
que a manutenção do conceito da neutralidade de rede é motivo de preocupação.
“A internet de hoje ainda é infinitamente incipiente diante dos avanços que a
rede vai experimentar em alguns anos. A lei vai garantir que todos tenham acesso
igualitário a este universo, o que é essencial para a valorização da cidadania e
para a manutenção de negócios de internet”, observa Basílio Perez, presidente da
ABRINT.
Perez considera que a definição da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL)
e do Comitê Geral da Internet no Brasil (CGI.br) como fóruns para dirimir
conflitos em relação ao uso da internet confere aos órgãos a responsabilidade de
refletir os anseios da sociedade nas decisões que vierem a ser tomadas.
“E, apesar de a internet não ser telecomunicação, carece desta rede para operar
e é relevante o envolvimento delas nessa questão”, afirma o executivo. No
comunicado enviado ao mercado, o SindiTelebrasil, representante das teles, não
toca no tema neutralidade, sustenta apenas que a redação aprovada mantém a
estratégia atual de negócios - que prevê a venda de pacotes diferenciados, de
acordo com os serviços ofertados.
Já o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), comemorou a manutenção
no texto final do princípio da neutralidade de rede, que garante o tráfego não
discriminatório de pacotes de dados na internet, impedindo que as empresas de
telecomunicações deem prioridade ou degradem determinados conteúdos, serviços e
aplicações online segundo seus interesses.
“Apesar da pressão contrária desse setor, a neutralidade foi assegurada no texto
final que segue para o Senado, com a defesa de que todos possam navegar na
internet sem bloqueios, independentemente de ser acesso a textos, vídeos,
e-mails, ou mesmo no caso de ser um produtor desse conteúdo, sem uma cobrança
diferenciada por cada perfil de internauta”.
*Com Assessoria da ProTeste, Abrint e IDEC