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Fonte: Convergência Digital
[27/03/14]
Anatel não medirá forças com o Comitê Gestor na neutralidade, sustenta Marcelo
Bechara - por Luiz Queiroz
Em uma entrevista à CDTV, do portal Convergência Digital, onde fez questão de
frisar que não falava como conselheiro da Anatel ou como integrante do CGI.br,
Marcelo Bechara diz que, na visão dele, os acordos comerciais entre as OTTs e os
provedores de rede não estão no escopo do Marco Civil.
E exemplifica a sua posição: um site que vende música pela Internet para os
usuários não teria que seguir regras de neutralidade. "Mesmo que você disponha
de alta velocidade fornecida pelo prestador de conexão, esse site poderá limitar
a sua capacidade de download, de acordo com o preço que você paga à ela pelo
acesso ao serviço".
Marcelo Bechara sai em defesa da Anatel. A entrada da agência no processo de
regulamentação da neutralidade, aos 49 minutos do segundo tempo do jogo,
resgata, na sua opinião, o papel da Lei Geral de Telecomunicações. "Faço uma
defesa veemente da agência reguladora porque ela merece. Mas a Anatel errou como
já tinha acontecido no PL 29, onde tivemos o fortalecimento da Ancine. Ela ficou
atrasada. Mas que fique claro: a Anatel é o órgão para tratar de redes no país",
sustentou.
Segundo ainda Bechara, a Anatel não medirá forças com o Comitê Gestor da
Internet, por conta das exceções na neutralidade de rede, como coloca o texto
aprovado. "Não há como ir nessa linha. É desnecessário. Nós temos capacidade
técnica para discutir a Rede. Há excelentes profissionais na agência".
Bechara enumera ao longo da entrevista os ganhos do Marco Civil. "Um usuário não
poderá ser discriminado pelo tipo de conteúdo que ele acesse. Isso ficou muito
claro e é um ganho da sociedade civil", ponderou. Mas, na sua visão,os acordos
comereciais entre as OTTs e as teles - no modelo semelhante ao firmado pela
Comcast e a Netflix - não estão regulados pelo texto.
"O Marco Civil deixa claro que não poderá haver distinção de pacotes para o
usuário, mas não há essa visão na parte da camada da aplicação. Trataram
velocidade e capacidade como neutralidade de rede. E isso foi um erro. A
neutralidade pressupõe uma igualdade que, na prática, todos nós sabemos não
existir", sinaliza.
Legislar a Tecnologia é, hoje, no ponto de vista de Bechara, uma das maiores
dificuldades do setor. "A internet de tudo está chegando. Tudo estará conectado.
A Internet vai estar na minha geladeira, no meu relógio. Esse é o futuro. hoje a
gente pensa que pessoas se conectam, mas já estamos chegando à era onde além das
pessoas, as máquinas vão se conectar. Isso vai mais à frente exigir nova
discussão", antecipa.
Sobre o papel do Brasil no jogo da governança da Internet, Bechara ressalta que
não é uma obrigação liderar os debates. "Precisamos ser protagonistas, estar no
nível de outros países para discutir em igualdade, mas a obrigação de liderar
não existe. Certo é que estamos fazendo o nosso dever de casa".
Assistam a entrevista exclusiva de Marcelo Bechara à CDTV, do portal
Convergência Digital.