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Leia na Fonte:
Convergência Digital
[11/11/14]
Republicanos criticam e FCC esfria proposta de Obama para neutralidade - por
Luís Osvaldo Grossmann
Se o debate já vinha com ares de azul contra vermelho, ou republicanos contra
democratas, a defesa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em prol de
regras que venham a garantir neutralidade de rede escancarou as porteiras da
partidarização. Embora a surpresa nas declarações esteja mais no tom que no
conteúdo, parece ter dado a senha para uma enxurrada de analogias ainda mais
esdrúxulas do que as vistas no Brasil quando da discussão sobre o Marco Civil da
Internet.
A largada foi dada pelo senador Republicano Ted Cruz, do Texas, que tachou a
neutralidade de rede como “Obamacare para a Internet”, associando as propostas
do presidente americano para a rede com a reforma do sistema de saúde dos EUA –
uma guerra política que consumiu o primeiro mandato de Obama.
Era só o começo. Diferentes analistas da Fox News – canal fortemente
identificado com o ideário Republicano em sua versão Tea Party – alegaram que a
neutralidade de rede equivaleria a “tirar a escolha de compradores e vendedores
para fora do mercado”. Ou, ainda, que as propostas significariam a oferta de
“uma velocidade única para todos, um preço para todos”.
Esse tipo de lógica é até familiar aos brasileiros. Afinal, durante a tramitação
do Marco Civil, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que acabou travestido de
principal opositor ao projeto, usava argumento parecido. Segundo Cunha, a
neutralidade era “intervencionismo na infraestrutura brasileira”, que impediria
a oferta de pacotes diferenciados, resultando na “comunização da Internet”.
Nem Cunha, porém, chegou perto das críticas de que a reclassificação dos
provedores como empresas de telecom “levaria os Estados Unidos para
perigosamente perto do modelo chinês onde a Internet é estatal”. Houve até quem
arriscou que “o simbolismo na declaração ter sido divulgada enquanto o
presidente Obama está na China não poderia ser mais Orwelliano”.
Em meio a repercussão, o que chamou a atenção foi a recepção fria da FCC aos
comentários do presidente americano. O presidente da agência, Tom Wheeler, que
deve o cargo a Obama, respondeu que “como uma agência reguladora independente,
vamos incorporar a sugestão do presidente aos registros da consulta pública
sobre Internet aberta”. “Agradecemos os comentários sobre como usar o Título II
da Lei de Comunicações”, concluiu.
É certo que, como só ocorre nos EUA, a agência reguladora de telecom é
claramente dividida entre Democratas e Republicanos. Na prática, mais do que
ameaças de processos judiciais das operadoras americanas contra as eventuais
medidas da agência, parece ser no Congresso, agora com as duas casas nas mãos da
oposição Republicana, que a questão da neutralidade de rede acabará sendo
decidida.