WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2015
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: Convergência Digital
[17/04/15]
Acordo com Facebook deve incluir sites de governo em acesso gratuito - por
Luís Osvaldo Grossmann e Luiz Queiroz
A presidenta Dilma Rousseff entrou no casaco do Facebook e, por tabela, no
debate sobre a regulamentação da neutralidade de rede – que, afinal, virá sob a
forma de um Decreto presidencial. Ao sorrir ao projeto de acesso gratuito a
páginas selecionadas da web, sugeriu que o governo é favorável a essa ideia. O
que não é pouco, visto que entender ou não fórmulas de acesso patrocinado como
violadores da neutralidade têm sido a tônica da discussão até aqui.
Dilma tem companhia no tema. O encontro com Mark Zuckerberg durante o Fórum
Empresarial das Américas, realizado na semana passada, foi estratégia do criador
da rede social, que na mesma oportunidade também vendeu sua ‘internet.org’ aos
chefes de Estado do México, Argentina, Peru e do anfitrião Panamá. Nem era de se
esperar que lideranças latinoamericanas desprezassem o apelo do ‘grátis’ em uma
região que não está exatamente entre as mais prósperas.
Mas convém que a presidenta também espie o que acontece neste momento na Índia,
o quinto e mais recente país a aderir ao projeto liderado pelo Facebook. Lá
também o governo promove um debate público sobre neutralidade, com foco nos
apelidados OTTs (do inglês over-the-top), jargão para os aplicativos que usam a
Internet. E lá, também, pobreza e geografia são desafios à massificação do
acesso à rede mundial de computadores.
Aberta no fim de março, a consulta da agência indiana, a Trai, disparou nos
últimos dias por conta de uma campanha (savetheinternet.in) aparentemente
catalisada pelo lançamento, na semana passada, do Airtel Zero. A operadora é a
parceira do internet.org na Zâmbia e em Gana, mas na Índia o Facebook se acertou
com outra tele, a Reliance, em fevereiro. A ideia do Airtel Zero, porém, é a
mesma – páginas incluídas no pacote não descontam da franquia de dados.
Os protestos contra os acessos patrocinados chegaram na forma de 600 mil e-mails
enviados à Trai, e já provocam ressaca tanto no Airtel Zero como no internet.org.
A Flipkart, maior portal de comércio eletrônico da Índia, avisou que está
deixando o serviço da Airtel. O portal de viagens Cleartrip.com e o Times Group,
com vários sites de notícias no país, abandonaram o internet.org e o Times of
India faz uma campanha para que seus concorrentes o acompanhem.
“O grupo também encoraja as publicações de notícias [em línguas locais e em
inglês] a se juntarem à campanha pela neutralidade de rede e se retirarem de
esquemas de ‘zero rate’”, diz o jornal, terceiro em tiragem e principal
noticiário em inglês da Índia, ao convidar outros sites a aderirem à campanha do
‘savetheinternet.in’. Para os organizadores, os acessos patrocinados
“efetivamente puxam a balança em favor de grandes players”.
Grátis X Neutro
Em entrevista a blogueiros, na terça, 14/4, Dilma afirmou que não há nada
decidido e que espera avançar no assunto em junho, quando o dono do Facebook vem
ao Brasil. “Acho que tem que colocar junto toda a discussão no meio da Internet.
Não ter medo do que vão fazer. Podemos ter com eles uma parceria que defina um
horizonte, mas que remonte aos nossos interesses”, disse a presidenta, conforme
relato de Renato Rovai (revistaforum.com.br/blogdorovai).
Ao menos parte dos “nossos interesses” está no acesso gratuito a serviços
públicos. Não por menos, o Ministério das Comunicações vai procurar saber com
outros órgãos, como a Previdência Social, que tipo de aplicação poderia fazer
parte do pacote. Vale lembrar que no primeiro mandato de Dilma a pasta
incentivou experiências com o que batizou de ‘Internet 0800’, que nada mais é
que um sistema de acesso patrocinado.
Há, porém, alguma cautela. Segundo confessa o alto-escalão do Minicom, o governo
vai querer ouvir a opinião da Advocacia-Geral da União sobre a interpretação do
Marco Civil da Internet e o impacto desse tipo de acordo na neutralidade de
rede. A Anatel, que toca na questão dos acessos patrocinados em sua própria
consulta pública sobre a regulamentação do Marco Civil, também será convidada a
formular sua opinião.
Não há um consenso no tema. A regulamentação da FCC americana deixou-o de fora,
a ser analisado ‘ex-post’. O Chile, primeiro país a incluir a neutralidade em
lei, proíbe expressamente. Na Europa, onde a recomendação da UE é flexível para
qualquer lado, Holanda e Eslovênia também baniram o ‘zero rating’. Na Alemanha
não há uma norma, mas o regulador impediu a Deutsche Telekom de não descontar da
franquia o uso de seu próprio serviço de streaming de vídeos.
Um levantamento feito no fim do ano passado pela consultoria finlandesa Rewheel
indicou existirem pelo menos 92 serviços de ‘zero rating’, e isso somente nos
países ricos. Desses, 36 operadoras móveis excluíam seus próprios serviços de
vídeo do consumo das franquias e 10 faziam o mesmo para seus serviços de
armazenamento na ‘nuvem’. Tratamento semelhante é dado a aplicações de terceiros
com YouTube, HBO Go, Spotify e, claro, Facebook.
Na Austrália, até a Netflix – vilã preferida das teles – tem acordos em que seus
filmes não contam como uso da franquia de dados. A empresa, no entanto, indica
estar arrependida por entender contraditório com sua defesa da neutralidade. “Na
Austrália, tentamos proteger nossos novos membros das franquias de dados (...).
Devíamos ter evitado isso, e vamos evitar que isso avance”, disse à ZDNet o
diretor de comunicações corporativas da Netflix, Cliff Edwards.