WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2015
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Exame
[13/08/15]
O dia a dia inusitado dos funcionários da Netflix - por Marcel Nadale
Cerca de 250 pessoas estão reunidas no auditório, vendo uma apresentação sobre
os resultados da empresa. Uma situação normal em qualquer corporação. Mas aí o
inesperado acontece.
A tela e as luzes se apagam e começa um musical em que os funcionários
recém-contratados cantam e dançam, fantasiados de super-herois, tentando repetir
a coreografia ambiciosa que eles treinaram com afinco no último mês.
A maioria não consegue (como bailarinos, são excelentes engenheiros). Mesmo
assim, são ovacionados no fim do espetáculo. Esse é o ritual de boas-vindas da
Netflix.
A empresa, que surgiu 18 anos atrás - quando mandava os filmes para os
assinantes pelo correio, em DVDs -, acaba de chegar a 62 milhões de usuários, em
50 países. E pretende lançar seu serviço em 200 países até o final do ano que
vem.
Seu quartel-general fica em Los Gatos, uma pacata cidadezinha a 84 km de San
Francisco. Em vez do arranha-céu espelhado e moderno que seria de se esperar de
uma empresa que faturou US$ 4,7 bilhões no ano passado, a Netflix ocupa dois
prédios baixinhos, de três andares, com cara de resort turístico.
O CEO, Reed Hastings, gosta de fazer reuniões num sofá ao lado da cafeteria. Se
o papo for particular (e o tempo estiver bom), leva o funcionário para um
passeio em um riacho ao lado do prédio.
A Netflix cumpre aqueles clichês que se imagina das empresas do Vale do Silício,
como dar academia e refeições grátis aos funcionários (com direito a uma
distribuição diária de pipoca, às 16h), mas vai um pouco além. Além de fazer o
próprio horário, os funcionários podem instituir as próprias férias.
Podem sair quando quiserem e, mais importante, por quanto tempo quiserem. Isso
faz parte da cultura interna da companhia, batizada de "Liberdade &
Responsabilidade", e na prática acaba tendo o efeito contrário: os funcionários
tiram férias curtas e trabalham bastante.
Estações com PlayStations, Wiis, Xboxes, smart TVs, tablets e celulares permitem
que os cerca de 1.100 engenheiros no prédio testem rapidamente, em qualquer
plataforma, cada mínima mudança no serviço.
E elas são frequentes. Estima-se que os algoritmos que regem a Netflix sofram ao
menos uma alteração a cada três dias. A maioria é sutil, motivada pelos chamados
"testes A/B", em que dois grupos de até 400 mil assinantes cada recebem, sem
saber, interfaces levemente distintas.
"Se um dos grupos tiver um aumento no total de horas de streaming, é sinal de
que a mudança funcionou. Aí ela é aplicada a todos os usuários", explica Todd
Yellin, vice-presidente de inovação. A nova cara do site da Netflix, que deve
estrear ainda este mês, é resultado desse processo. "As nossas decisões são
baseadas em 70% de dados e 30% de intuição", afirma Peter Friedlander, executivo
responsável pelo conteúdo próprio da Netflix.
O melhor exemplo disso é a série House of Cards, grande sucesso e maior aposta
da Netflix nos últimos anos. Analisando as buscas dos usuários, a Netflix
percebeu que o ator Kevin Spacey, o diretor David Fincher e a versão original da
série (que havia sido feita na Inglaterra) eram excepcionalmente populares.
Ao olhar essa combinação de dados, os executivos se sentiram tão confiantes que
apostaram alto. Investiram US$ 100 milhões para contratar Spacey e Fincher e
produzir as duas primeiras temporadas da série, que virou o carro-chefe da
Netflix.
Deu certo. Nos três primeiros meses após a estreia de House of Cards, em 2013, a
empresa ganhou 2 milhões de novos usuários, aumentando o faturamento em US$ 160
milhões. Pagou o investimento e sobrou.
A Netflix também vai para a rua fazer pesquisas, bate nas portas dos usuários e
pergunta a eles ao que costumam assistir. No ano passado, entrevistou 1.500
famílias pelo mundo.
Descobriu que nos EUA a televisão ficou muito segmentada e hoje existem poucos
programas que atraiam espectadores de todas as idades, da criança ao vovô.
Viu uma oportunidade, e respondeu a ela: fechou um contrato para produzir quatro
filmes com o comediante Adam Sandler, conhecido pelo humor "familiar", e vai
ressuscitar a série Três É Demais (Full House), sobre três marmanjos que se veem
encarregados de cuidar de três crianças - a versão original foi exibida, entre
1987 e 1995, pela rede ABC.
É o tipo de aposta que as TVs abertas e os canais a cabo não estão fazendo.
Nem tudo que a Netflix tenta dá certo, claro. O melhor exemplo disso é o tímido
resultado da série Marco Polo. Com um orçamento de US$ 90 milhões (segundo maior
da TV atual, atrás apenas de Game of Thrones), a série não repercutiu como se
esperava.
O pico de audiência de Marco Polo foi dois dias após a estreia, quando ela foi
vista por 1% do total de assinantes da Netflix, segundo números da empresa de
pesquisas Luth Research.
É pouco (e ficou atrás de outras grandes apostas do site, como House of Cards e
Daredevil, que alcançaram de 6,5% e 10,7% dos assinantes em suas respectivas
estreias). Mesmo assim, a série deve ganhar uma segunda temporada.
"Os nossos produtos têm prazo de validade longo", diz Friedlander. "Temos dados
mostrando que muitas pessoas só agora estão vendo a primeira temporada de House
of Cards" (lançada há dois anos). A empresa também poderá usar dados para
corrigir eventuais falhas e melhorar Marco Polo.
"Nós conseguimos saber se muitos telespectadores desistiram de ver um programa
numa determinada cena, por exemplo", explica o gerente de pesquisas Zach
Schendel. "Levamos essa informação à equipe de conteúdo, e eles decidem o que
fazer."
No ano passado, a Netflix lucrou US$ 266 milhões. É bastante, mas nem chega
perto dos gigantes da internet (em 2014, o Google lucrou US$ 14 bi e o Facebook
US$ 2,9 bi). A empresa começou a experimentar com uma coisa que é tabu para
muitos usuários: propaganda.
No começo de junho, passou a exibir trailers - de produções da própria Netflix -
antes de alguns filmes. Ele diz que foi apenas um teste, e não vai vender o
espaço a anunciantes.
Vendo a banda passar
Quando você assiste a um filme na Netflix, o seu computador (ou smart TV, ou
videogame) baixa 2 GB de dados, em média. É que os arquivos de vídeo são
grandes. Por isso, a Netflix já corresponde a 37% de todo o tráfego da internet,
nos EUA, no horário nobre.
E, com a chegada de filmes e séries gravadas no formato Ultra HD (4K), que tem
mais qualidade de imagem e a Netflix já está adotando em suas produções, a conta
fica sete vezes maior: um filme nessa resolução tem 14 GB.
Hoje, apenas 1% dos usuários da Netflix tem televisões Ultra HD, mas esse número
vai crescer bastante nos próximos anos. Será que a internet terá capacidade
suficiente?
Um estudo da Cisco Systems, que fabrica equipamentos de infraestrutura da rede,
diz que sim. Daqui a quatro anos, a velocidade média da banda larga no Brasil
será 19 Mbps - nível adequado para ver conteúdo Ultra HD.
Mas o vídeo vai ocupar uma parte gigantesca da internet. Segundo o estudo, o
streaming de vídeo (incluindo todos os serviços, não só a Netflix) representará
84% do tráfego no Brasil em 2019.
Inclusive porque a TV a cabo finalmente começou a migrar para a internet. Em
março, a HBO lançou (nos EUA) o aplicativo HBO Now, que permite ver os programas
do canal pela internet, pagando uma mensalidade de US$ 15.
Neste mês, o canal Showtime, outro gigante da TV paga, também vai lançar o
próprio app (o que significa que a Netflix poderá perder séries como Penny
Dreadful e Dexter, que pertencem ao Showtime). Se a AMC decidir fazer o mesmo e
lançar um app próprio, adeus Breaking Bad e Mad Men.
E por aí vai. O mercado de vídeo online, onde Netflix e YouTube reinaram
praticamente sozinhos, está cada vez mais disputado.
E o que vai acontecer depende muito de outra questão: a chamada "neutralidade da
rede". Esse conceito diz que todos os sites e serviços devem ser tratados
igualmente, ou seja, os provedores de internet não podem privilegiar a
velocidade de determinados sites.
No Brasil, o Marco Civil da Internet, aprovado em 2014, exige a neutralidade -
mas, nos EUA, o assunto ainda está em debate. Oficialmente, a Netflix é a favor
da neutralidade.
Mas, no ano passado, fechou um acordo com os principais provedores americanos,
Comcast e Verizon, que juntos têm mais de 120 milhões de usuários.
A Netflix paga uma taxa (cujo valor não foi divulgado) para essas empresas, que
em troca garantem acesso rápido ao site. Na prática, os provedores mandam na
internet - e têm um poder gigantesco sobre os sites e apps de vídeo.
Por tudo isso, a Netflix terá de se reinventar nos próximos anos. Inclusive para
enfrentar um concorrente fortíssimo: os piratas. Mas o pessoal em Los Gatos
parece tranquilo.
"Você é estimulado a experimentar, a tentar. Às vezes as coisas dão errado, mas
tudo bem", diz Zach Schendel. Como os novos funcionários descobrem no show
musical, o importante é entrar na dança.
Alguns dados
A Netflix ocupa 37% de todo o tráfego da internet, nos EUA, no horário de pico
66% dos vídeos são vistos na televisão, 27% no computador e 7% em celular ou
tablet
10 bilhões de horas de vídeo foram assistidas no primeiro trimestre de 2015
45 GB de dados é quanto cada usuário da Netflix consome de dados por mês
São 62 milhões de usuários, em mais de 50 países
5,5 milhões de usuários ainda recebem os filmes pelo correio, em DVD's
70% do conteúdo visto são séries
37% dos usuários preferem esperar para assistir em maratona
76% não se importam com Spoilers
51% cometeriam adultério de netflix (assistir a uma série escondido do cônjuge)
13 fatos sobre o Netflix que você (provavelmente) não
sabia
Veja
aqui 13 fatos sobre o Netflix (carrossel)
Muito espaço
A biblioteca de vídeos do Netflix equivale a mais de 1 PB de dados. Sim, isso é
muita coisa!
Se você quisesse baixar toda o conteúdo do Netflix e guardar em um HDs de 512
GB, seriam necessários mais de dois mil deles para esse trabalho.
Compulsivos
O termo “binge watching” se refere ao ato de assistir dois ou mais episódios de
uma série de uma vez só.
Uma pesquisa mostrou que cerca de 60% dos espectadores do Netflix têm o costume
de assistir a diversos episódios de um programa, ao menos, duas vezes por mês.
A facilidade de acesso a diversos episódios de uma só vez colabora com esse
hábito.
Campeão de audiência
O campeão de audiência no Netflix é o seriado Breaking Bad. A história do
professor de química Walter White, que descobre ter câncer e vira um traficante
de metanfetamina, tem todas as cinco temporadas disponíveis no serviço de
streaming.
Escolhendo a equipe
Depois de comprar os direitos para produzir House of Cards, o Netflix procurou o
diretor David Fincher e o ator Kevin Spacey para a série. A base para a escolha
foi com dados do próprio Netflix.
Filmes envolvendo os dois eram extremamente populares por lá.
Muitos dados
O Netflix é o maior responsável por transferência de dados em alguns países. A
depender do momento do dia a parcela do Netflix é mais ou menos importante.
Os piores horários são entre as 19h e as 21h, que é quando tem mais gente
assistindo. Por conta disso, durante esses horários ele tem um pouco mais de
instabilidade também. Isso afeta um pouco a qualidade do vídeo recebido pelos
usuários do serviço.
Produções próprias
Em fevereiro de 2015 o Netflix já havia produzido mais de 70 conteúdos
originais. Entre eles estão séries (como House of Cards ou Orange is the New
Black) e documentários (como The Square e Virunga).
A empresa trabalha em mais conteúdos originais. Ela fechou uma parceria com o
ator Brad Pitt recentemente para a realização de um filme.
Tempo médio
O tempo médio de streaming para o usuário do Netflix é de 90 minutos por dia.
Premiado
Por conta de seus conteúdos originais, o Netflix recebeu prêmios. Ele foi o
primeiro serviço online a ganhar um Globo de Ouro – em 2014 a atriz Robin Wright
venceu a categoria de melhor atriz em drama para televisão.
Em 2013, o documentário The Square, uma produção egipto-americana, foi indicada
ao Oscar de melhor documentário, mas não venceu.
Ao redor do mundo
O Netflix já está disponível em mais de 50 países. O serviço ficou disponível no
Brasil no segundo semestre de 2011. Ainda neste ano, a empresa pretende entrar
em alguns países importantes como Espanha, Itália e Portugal.
A empresa espera estar presente em 200 países até o final de 2016. A previsão é
bastante otimista, diga-se de passagem.
De olho na pirataria
A empresa tem um método diferente para analisar shows de televisão. Uma das
formas do Netflix analisar se um série tem potencial dentro de sua plataforma é
ver a taxa de downloads ilegais em redes como o Torrent.
Um exemplo é que a empresa comprou os direitos de transmissão da série Prison
Break, na Holanda, após ver que ela era bastante pirateada na internet.
Categorias
O conteúdo é separado em grupos pouco ortodoxos no Netflix. Uma análise do
serviço no início de 2014 mostrou que eram 76.897 categorias diferentes – agora,
provavelmente, são ainda mais.
Algumas das categorias são: “bigodes legais”, “filmes com um surto épico de
Nicolas Cage” e “filmes que são em inglês mas ainda exigem legendas”.
Trabalho dos sonhos
O Netflix tem uma vaga para os apaixonados por filmes e séries: o tagger. O
trabalho consiste em assistir a conteúdo da plataforma de streaming e escolher
entre mil palavras chaves os termos que se encaixam com a obra.
O trabalho do tagger é usado para aperfeiçoar o algoritmo de recomendações do
Netflix. A empresa abriu uma vaga de tagger no Brasil recentemente e chamou
bastante atenção.
Mais visto do que TV
Uma previsão recente de analistas de Wall Street diz que em 2016 o Netflix
poderá ser o “canal” mais visto dos Estados Unidos. A comparação foi feita
usando numero do Netflix e da Nielsen.
Com a tendência de crescimento do serviço de streaming, no próximo ano ele já
teria mais audiência em um período de 24 horas do que grandes emissoras como Fox,
ABC e CBS.