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Leia na Fonte: Boa Informação
[05/05/15]
Site divulga ilegalmente CPFs de brasileiros e fere o Marco Civil
Não deveria ser possível descobrir o CPF de uma pessoa a partir de seu nome. No
entanto, o site Nomes Brasil faz exatamente isso: você digita um nome e o site
mostra o CPF da pessoa.
Hospedado nos Estados Unidos, o site não oferece informações completas: algumas
pessoas simplesmente não aparecem, e outras têm um número de CPF errado
associado ao seu nome. No entanto, o fato de que alguns dos CPFs no site estejam
certos é suficiente para causar preocupação.
Ilegalidade
De acordo com Gisele Arantes, advogada especializada em Direito Digital, este
tipo de serviço é ilegal porque visa a divulgar dados pessoais, protegidos pela
legislação e, inclusive, pelo Marco Civil da Internet. Além disso, embora o CPF
por si só não tenha muita utilidade, uma pessoa que tenha o CPF de outra, junto
com informações disponíveis no Facebook, por exemplo, pode cometer uma série de
fraudes.
O fato de que alguns dos CPFs estejam errados levam Gisele a acreditar que não
se trata de um vazamento de dados. A hipótese dela é que se trata de um “bot”,
um pequeno programa desenvolvido especialmente para esse fim. Esse pequeno
programa se aproveitaria do fato de que os números de CPF são gerados de acordo
com uma sequência lógica. Eles não são aleatórios.
Alguns dígitos representam o estado onde a pessoa nasceu, outros representam o
ano de seu nascimento, e assim por diante. O bot, então, conhecendo essa
sequência lógica, geraria CPFs e jogaria os números no site da Receita Federal
para recuperar os nomes de seus portadores e, em seguida, enviá-los ao site.
Investigação
Para Gisele, é essencial que haja uma investigação do Ministério Público sobre o
site, para que se possa apurar de onde vêm esses dados, pois o caso pode mostrar
uma falha na segurança dos dados pessoais dos cidadãos. Caso se trate de um
vazamento, seria então necessário responsabilizar a pessoa que vazou os dados;
caso seja um bot, então seria necessário identificar seu autor e
responsabilizá-lo, bem como aqueles que tenham acessado o site e utilizado-o
para fins fraudulentos.
Outro motivo para essa investigação do Ministério Público, segundo Gisele, é o
fato de que ninguém sozinho pode fazer nada sobre ter seu nome e CPF no site.
“Como o site afeta um direito coletivo, uma pessoa sozinha não pode solicitar a
investigação. Esse pedido tem que vir do Ministério Público”, explica. Uma
associação de pessoas, no entanto, poderia apresentar uma denúncia ao MP e pedir
ao órgão uma investigação sobre o site. “Me espanta que ninguém tenha tomado uma
providência ainda”, diz.
O que fazer?
Mesmo estando hospedado nos Estados Unidos, o Nomes Brasil foi registrado por
meio do GoDaddy.com, que já possui, segundo Gisele, representação no Brasil.
Neste caso, bastaria ao MP entrar em contato com o Go Daddy e solicitar a que
ele torne o domínio do Nomes Brasil indisponível, para evitar danos aos
brasileiros. Não há, portanto, como tomar medidas individuais.
Caso o Go Daddy não tivesse representação no Brasil, a situação seria bem mais
complicada. Gisele explica que seria necessário alcançar a empresa por meio de
uma carta rogatória, que precisaria da assinatura do Supremo Tribunal Federal e
demoraria pelo menos 2 anos, ou por meio de uma ação movida no país onde o site
está hospedado. Segundo Gisele, custaria no mínimo US$ 10 mil para conseguir
mover um processo pedindo a identificação dos responsáveis pelo serviço ilegal.
Essa situação, opina Gisele, é fruto de uma falha na formulação do Marco Civil
da Internet. Embora o documento exija submissão à legislação nacional, ele não
cria um mecanismo para que o Brasil chegue a empresas fora de seu território, o
que gera situações como essa que dificultam a identificação dos responsáveis.
Fonte: Olhar Digital