WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Crimes Digitais, Marco Civil da Internet e Neutralidade da Rede --> Índice de artigos e notícias --> 2015
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: El País
[16/05/15]
Internet brasileira reage ao plano do Facebook de oferecer acesso à web
Mark Zuckerberg quer oferecer acesso gratuito à internet para brasileiros de
baixa renda. E o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) quer saber como e
por que o CEO do Facebook pretende fazer isso. Na última Cúpula das Américas,
organizada em abril no Panamá, Zuckerberg posou ao lado de vários líderes
latino-americanos, entre eles a presidenta Dilma Rousseff, com quem anunciou uma
parceria para oferecer conexão de graça para a população de baixa renda. O
anúncio formal da chegada do Internet.org ao Brasil foi marcado para junho, mas
o CGI.br pretende ouvir o Facebook sobre o assunto antes disso.
O comitê começou a debater a questão no início do mês e vai enviar nos próximos
dias ao Facebook um questionário com perguntas sobre a parceria. Os conselheiros
querem saber detalhes sobre a possível limitação de acesso a conteúdos e o que
estará associado a essa oferta de internet, questões que podem afetar direitos
fundamentais estabelecidos no Marco Civil da internet, como o direito ao fluxo
livre de informações. Outros pontos em questão são a privacidade do usuário e a
infraestrutura que será utilizada para viabilizar a parceria — haverá de
dinheiro publico no processo?, a que empresa vai ser direcionado recurso?
Diretor presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e
conselheiro do CGI.br, Demi Getschko destaca que o comitê ainda não tem posição
sobre o assunto e só se manifesta por meio de suas resoluções. Segundo ele, por
enquanto "a discussão está sendo feita a partir de especulações", porque não se
sabe detalhes sobre as intenções do Facebook, e o mais importante é "defender a
neutralidade do acesso à internet" no Brasil. "O mal desse negócio é que não
devia se chamar Internet.org, mas 'Facebook.org'. Já é uma certa arrogância,
porque está dizendo que é internet", disse em entrevista ao EL PAÍS.
Por enquanto, as críticas mais contundentes no Brasil ao Internet.org partiram
da associação Proteste, que encaminhou, junto com outras 33 entidades, uma carta
à presidenta Dilma condenando o acordo com o Facebook. Segundo a Proteste, "o
projeto Internet.org, implementado pela rede social em países da América Latina,
África e Ásia, viola direitos assegurados pelo Marco Civil da Internet, como a
privacidade, a liberdade de expressão e a neutralidade da rede".
A associação alega que "ao prometer o 'acesso gratuito e exclusivo' a
aplicativos e serviços, o Facebook está na verdade limitando o acesso aos demais
serviços existentes na rede e oferecendo aos usuários de baixa renda acesso a
apenas uma parte da internet". Consultora jurídica da Proteste e conselheira do
CGI.br, Flávia Lefèvre diz que, ao receber a carta, o Palácio do Planalto se
limitou a responder que o assunto Internet.org está sendo discutido no âmbito
dos Ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia e que não há qualquer
prazo de lançamento estabelecido.
A Proteste também questionou os dois ministérios sobre a questão e ainda não
obteve resposta. "Acho que existe uma postura errática por parte da presidente.
Ela postou no Blog do Planalto um vídeo dizendo que em junho fecharia esse
acordo. Depois vem uma carta dizendo que não tem nada de concreto. O primeiro
problema é falta de transparência", diz Lefèvre. Segundo a conselheira do CGI.br,
a falta de clareza é marca nos outros países onde o Internet.org já se instalou.
"No Panamá, no dia seguinte à assinatura, várias empresas questionaram o Governo
sobre por que escolheram uma determinada estrutura para fazer a parceria com o
Facebook", lembra.
Os técnicos do CGI.br se questionam, entre outras coisas, por que o Facebook tem
buscado países em desenvolvimento, como Colômbia e Guatemala, para se instalar,
e alegam que o modelo do Facebook já vem dando problemas na Índia. A vocação do
projeto, que pretende oferecer internet aos 2,7 bilhões de pessoas de regiões
pobres que ainda não a acessam, responde em parte à questão.
De sua parte, por enquanto, o Facebook manifesta a intenção de proporcionar aos
brasileiros que "se conectem com a economia moderna e acessem informações
educativas, informações de trabalho, informações de saúde", nas palavras de
Zuckerberg. Ao anunciar o acordo, junto com ele, em abril, Dilma disse que "o
objetivo fundamental é a inclusão digital, mas não é a inclusão digital pela
inclusão digital, é a inclusão digital que pode garantir acesso a educação,
saúde, cultura e tecnologias".
A partir das respostas que o Facebook venha a enviar ao CGI.br, o comitê deve
manifestar sua posição sobre o assunto, que, a julgar pela repercussão das
últimas iniciativas da instituição, pode vir a pautar a agenda internacional. No
ano em que se comemoram os 20 anos da internet comercial no Brasil, os padrões
de governança do CGI.br têm servido de referência mundial, principalmente depois
da aprovação do Marco Civil da Internet, no ano passado.