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Fonte: Techtudo
[25/05/15]
O que é Zero Rating? Entenda polêmica que envolve Facebook e operadoras
O Zero Rating é uma prática realizada pelas operadoras e algumas empresas de
tecnologia que consiste em permitir o acesso de forma "gratuita", ou sem cobrar
o tráfego de dados móveis a alguns serviços online, como apps de rede sociais e
mensagens. O tema tem causado bastante polêmica, principalmente por causa do
Internet.org do Facebook e, no Brasil, pelos planos de operadoras.
Neutralidade da rede
Entidades de defesa do consumidor alegam que o Zero Rating fere a liberdade de
escolha dos usuários e com o Marco Civil, no Brasil. Ao permitir o acesso apenas
a alguns serviços, as empresas estariam limitando uma das premissas básicas da
Internet: a neutralidade da rede.
Este é um tema bastante discutido no mundo. A neutralidade é um princípio que
visa definir que os dados de todas as pessoas sejam tratados de forma
igualitária, ou seja, sem prioridade, diferença de velocidade na transmissão e
recepção ou serviços acessados por esses usuários.
No Brasil, os parâmetros que definem a neutralidade foram definidos com o Marco
Civil da Internet, lei aprovada em abril de 2014 com o objetivo de regulamentar
o uso da Internet em todo o país.
Operadoras e Internet.org
Algumas operadoras brasileiras possuem planos onde o tráfego de dados de alguns
aplicativos – como o WhatsApp ou Facebook – não contam para o consumo mensal da
franquia. Ao dar prioridade a alguns serviços, no entendimento de alguns
especialistas, isso pode configurar "quebra da neutralidade".
Outra prática que ganha força ao redor do mundo é o fornecimento de acesso
gratuito a alguns serviços, mesmo para quem não possui um plano com qualquer
operadora. O mais famoso deles é o Internet.org. O programa criado pelo Facebook
fornece acesso por um aplicativo a alguns serviços, como o Google, Wikipedia e a
própria rede social em países mais pobres no mundo.
O projeto está presente em alguns países da África e na Índia e utiliza a
infraestrutura de operadoras móveis locais. De um lado, a população carente, que
não tem condições de arcar com o custo de um plano de dados, pode utilizar,
mesmo que de forma limitada, alguns serviços online. Do outro, o Facebook e os
serviços parceiros podem aumentar a base de usuários e conseguir elevar o lucro
com publicidade.
As operadoras que fornecem a infraestrutura também saem ganhando. Na MWC deste
ano, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, revelou que nos países em que está sendo
testado, as operadoras que fornecem o acesso ao Internet.org chegam a aumentar
em até 40% o número de novos contratos.
No Brasil, uma parceria do governo federal com o Facebook também pretende
fornecer acesso gratuito a Internet limitada à população carente em algumas
regiões. Implantado inicialmente na favela de Heliópolis, em São Paulo, a rede
social irá implantar uma rede Wi-Fi para a comunidade local.
Opiniões
Algumas organizações acreditam que, apesar de ter o objetivo de ampliar o acesso
à inclusão digital, as práticas de Zero Rating podem prejudicar o usuário e o
mercado. A Mozilla, desenvolvedora do navegador Firefox, acredita que os modelos
que dão uma espécie de degustação da Internet precisam ser revistos e defende
uma análise caso a caso para não limitar o acesso a Internet livre.
"O impacto do Zero Rating pode causar os mesmos danos que a limitação, o
bloqueio ou a priorização paga de tráfego na web. Ao dar a uma empresa (ou a
algumas) a capacidade de atingir usuários sem nenhum custo para eles, o Zero
Rating poderia limitar ao invés de ampliar o acesso à Internet, e em último
caso, até desaquecer a concorrência e a inovação na Internet”, comenta Mitchell
Baker Chairwoman e fundadora da Mozilla, em post no blog da organização.
Para Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br e membro do CGI.br, o modelo de
franquia de dados é que precisa ser discutido. Na opinião do executivo, o
próprio usuário tem o poder de escolher se deseja ou não acesso limitado. Se ele
optar por serviço completo, tem a escolha de compra.
"O que é preciso entender é que, no modelo atual, as pessoas pagam pela franquia
de dados não pela velocidade, como na banda larga fixa", diz Getschko ao falar a
respeito dos planos das operadoras móveis. "O que não pode é interferir na forma
como o usuário utiliza", completa.
A Associação de Consumidores Proteste reforça a ideia de que o Zero Rating
prejudica o usuário. A entidade de defesa do consumidor enviou uma carta à
presidente Dilma Rousseff pedindo a anulação do acordo com o Facebook e acredita
que a prática fere a livre concorrência, gerando concentração de infraestrutura,
cartel e afetando o incentivo a preços baixos.
"Ao prometer o acesso gratuito e exclusivo a aplicativos e serviços, o Facebook
está na verdade limitando o acesso aos demais serviços existentes na rede e
oferecendo aos usuários de baixa renda acesso a apenas uma parte da Internet",
diz a entidade em comunicado.
No, entanto, há outras visões. "Eu apoio a neutralidade da rede. Em sua
essência, trata-se de prevenir a discriminação. Conectar todos também é sobre
prevenção da discriminação. Mais de 4 mil milhões de pessoas não têm acesso à
Internet e as oportunidades que ela traz. Se nós conectá-los, vamos tirar
centenas de milhões de pessoas da pobreza", defendeu Zuckerberg, em post no
Facebook.
A verdade é que não existe Internet grátis. Mesmo quando o acesso é liberado,
existe alguém pagando pela infraestrutura, seja o governo com recursos públicos
ou uma empresa privada com interesses comerciais. A questão a ser discutida é se
a prática do Zero Rating é prejudicial ou não ao consumidor.
A Anatel abriu consulta pública para receber contribuições e formular um
documento que irá definir uma posição do órgão sobre a neutralidade da rede. O
Zero Rating é um dos pontos a serem analisados.
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