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Internet.org
Leia na Fonte: Convergência Digital
[13/11/15]
Facebook: “Freebasics (ex-internet.org) não é a Internet” - por Luís Osvaldo
Grossmann
Desde que chegou ao Facebook, em maio deste ano, para combater a tempestade de
relações públicas mundial em que se meteu o serviço de “acesso grátis” da rede
social, Kevin Martin já mudou as regras de inclusão de novos aplicativos na
plataforma e, até mesmo, o nome do Internet.org para Freebasics.com. “Estão
todos convencidos?
Não. Mas viemos fazer o debate”, diz o vice-presidente de políticas públicas do
Facebook, em entrevista exclusiva ao portal Convergência Digital.
CD - O Ministério Público Federal baixou uma orientação aos procuradores de que
o Internet.org, na verdade o Freebasics, seria ilegal no Brasil. Vocês já
avaliaram essa posição?
Martin - Não vi o documento, mas ele foi mencionado no painel em dos painéis em
que eu estava por um dos ativistas.
Mas havia lá também um conselheiro da Anatel que entendia não existir proibição
a serviços de zero rating no Marco Civil da Internet.
Ainda há muita confusão sobre o programa, percepções que entendemos incorretas a
respeito do projeto e essa é uma das razões para estarmos aqui, para nos
engajarmos com a sociedade civil e outros membros da indústria e representantes
do governo para conversar sobre o programa.
Há preocupações com o nome, de que não era internet, não era ponto org.
Nós ouvimos muito esse feedback e trabalhamos de forma que não houvesse
desentendimento.
Mudamos o nome para Freebasics.com.
Ele não é ponto org. Não é acesso a internet, mas acesso a um conjunto de
serviços básicos gratuitos.
CD – E você acha que estão tendo sucesso na estratégia?
Martin - Há ainda mal-entendidos sobre a plataforma, sobre o fato de que não
escolhemos os serviços que estarão disponíveis. Estabelecemos alguns padrões
técnicos e qualquer um pode ser parte da plataforma. Os padrões técnicos são
desenhados para limitar a banda utilizada. Não é possível ter streaming de
vídeos ou músicas, não é possível ter fotos de alta resolução. Fazemos isso para
garantir que possamos trabalhar com as operadoras e que os serviços não usem
muita largura de banda já que os consumidores usarão de graça. E adotamos esses
padrões nós mesmos no Freebasics. Não temos nem publicidade. Nem lançamos o
serviço aqui, ele não está disponível aqui. Quando ele estiver disponível as
pessoas terão chance de ver por elas mesmas. Então estamos tratando de um
serviço que não está disponível ainda e isso colabora para esse certo
desentendimento. Mas acho que a gente vem tendo sucesso em esclarecer.
CD - E por que não está disponível? As operadoras estão com receios? Esperando a
regulamentação do Marco Civil da Internet?
Martin - Botando em contexto, lançamos o produto há um ano e estamos já em 29
países. Nossos parceiros estão por toda parte em volta do mundo. Lançamos ele
com sucesso em toda parte e em nenhum país nenhuma operadora desistiu dele.
CD - Então o que houve no Brasil para as empresas estarem reticentes?
Martin - Estou otimista. Estamos trabalhando com operadoras aqui no Brasil. Não
tenho nenhum anúncio em particular para fazer, mas continuamos a trabalhar com
todas elas. Em algum dia logo estaremos aptos a fazer esse anúncio, mas não
agora. Não acho que o Marco Civil seja um impedimento. Estava em um painel com
um dos conselheiros da Anatel aqui no IGF e ele dizia que não há problemas com
‘zero rating’. Não acho que isso será um impedimento.
CD - A percepção sobre esquemas de ‘zero rating’ está melhor ou pior?
Martin - Há duas coisas importantes. Estamos aqui porque queremos explicar o que
queremos alcançar, que é possibilitar que mais pessoas estejam online. E um dos
principais focos no IGF é exatamente isso. Há 4 bilhões de pessoas que não tem
acesso a infraestrutura. Temos inclusive um programa separado que envolve
conectividade, com satélites, drones, para conseguirmos conectar quem não vive
em áreas com infraestrutura. Para cerca de 1 bilhão, o custo do serviço é um
impedimento. E trabalhamos em outras formas para reduzir o custo. Na Índia temos
um programa de WiFi que usa espectro não licenciado, por exemplo. No Brasil
queremos fazer algo semelhante, mas ainda não podemos anunciar. Além disso,
temos 2 bilhões de pessoas que vivem ao alcance dos sinais [de celular] mas não
estão online. Uma pesquisa [Estudo de Mídia da Secom/PR] indica que só 20% delas
não acessa por causa do custo. Mas cerca de 70% diz não ter acesso porque não vê
relevância nele. Então desenhamos o Freebasics para endereçar exatamente isso.
Eles não sabem o que é a internet ou como ela pode ser relevante, então um
conjunto de serviços que pode ser acessado pelo celular mesmo que ele não tenha
um plano de dados.
CD – Muito se falou de zero rating neste IGF. Mas a resistência ainda parece
grande, não?
Martin - Uma das coisas importantes que vemos aqui no IGF é a curiosidade para
saber se isso está funcionando. E o que estamos vendo é uma aceleração no número
de pessoas ficando online. Não importa a situação, quando usam Freebasics há uma
aceleração no número de pessoas ficando online. Daqueles que testam pela
primeira vez e nunca tiveram um plano de dados antes, 50% fazem uma assinatura
em 30 dias. E aqui no IGF vemos uma oportunidade para se falar nos prós e
contras. Em uma das reuniões sobre zero rating aqui foi dito uma coisa
importante: o único consenso a que chegamos é que precisamos de mais
informações. Mas já começam a aparecer trabalhos acadêmicos que indicam que os
esquemas de zero rating não causam dano. E mesmo em lugares que adotaram regras
de neutralidade de rede vemos que há necessidade de entendermos mais sobre zero
rating.
Estão todos convencidos? Não. Mas esse é o ponto do IGF, de debatermos.
* Luís Osvaldo Grossmann está em João Pessoa a convite do CGI.br