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Leia na Fonte: Teletime
[03/06/08]
Justiça do Rio começa a decidir futuro da infra-estrutura da Eletronet
O desembargador Sidney Hartung, da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, negou provimento a dois recursos regimentais impetrados por
credores da Eletronet e pela massa falida da empresa contra sua recente
decisão favorável à reintegração dos ativos da companhia para distribuidoras
de energia. Foi o primeiro voto, mas com o pedido de vistas, a questão ainda
não está decidida.
O voto de Hartung, relator do processo, foi proferido em julgamento
realizado nesta terça-feira, 3. Outros dois desembargadores que compõem a 4ª
Câmara, porém, pediram vistas dos autos. A votação só deve ser completada
dentro de 15 dias, após mais duas sessões de julgamento dessa câmara.
Hartung justificou seu voto em razão do "alto grau de interesse público"
nesse processo, pelo fato de envolver paralelamente o serviço de transmissão
de energia elétrica (cuja rede dá suporte à infra-estrutura de
telecomunicações que compõe a rede da Eletronet). A explicação parece
referir-se ao argumento das elétricas de que dependem da rede de
telecomunicações da Eletronet para o fornecimento de informações sobre a
geração de energia nas usinas e sobre o transporte da energia, além de
alertas sobre possíveis problemas técnicos que ocorram durante a
transmissão. Um advogado que representa os credores, contudo, discorda desse
entendimento: "não se trata de serviço de energia elétrica, mas de serviço
de telecomunicações", argumentou a este noticiário.
Uso da rede
No momento, segue valendo o efeito suspensivo que Hartung aprovou em meados
de maio, que garante a reintegração dos ativos de telecomunicações da
Eletronet a Eletronorte, Chesf, Eletrosul e Furnas, todas empresas estatais.
O desembargador aceitou que a indenização à massa falida seja feita com
certificados financeiros do tesouro no valor de R$ 217 milhões, seguindo um
novo laudo pericial por ele solicitado. Foi o terceiro laudo feito até o
momento no âmbito dessa disputa judicial, cada um com valores diferentes. A
intensão do governo é usar a rede da Eletronet para projetos de implantação
de políticas públicas, como segurança e educação. Como a rede da Eletronet
tem grande capacidade, parte dela ficará disponível para ser oferecida ao
mercado, segundo fontes do governo. Mas está, por enquanto, descartada a
hipótese de criar uma empresa competidora em telecomunicações.
Mais dois votos
Ainda faltam os votos dos demais desembargadores, além do julgamento de
outros recursos em segunda instância movidos pela massa falida e pela LT
Bandeirante (nova razão social da AES Bandeirante, sócio privado da
Eletronet). A briga só deve terminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo um advogado que acompanha o caso, devido a trâmites burocráticos,
dificilmente os ativos serão reintegrados antes da conclusão da votação
desse atual recurso na 4ª Câmara Cível.
Para o presidente de um dos credores, uma decisão judicial favorável à
reintegração dos ativos da Eletronet às distribuidoras elétricas estatais
não seria justa. "Não sobrará nada para os credores", afirmou. E
acrescentou: "Soa estranho que o governo receba o ativo de uma empresa
falida que ele mesmo operava".
Histórico
Em 1999, a Chesf, a Eletronorte, a Eletrosul e Furnas firmaram com a
Lightpar um acordo para que esta alugasse a infra-estrutura de energia
elétrica delas e seus cabos de fibra óptica para um terceiro montar uma rede
de telecomunicações. A Lightpar, por sua vez, assinou contrato com a
Eletronet, para que esta fosse a administradora dessa rede de dados. A LT
Bandeirante (então chamada AES Bandeirante) tinha 51% do capital da
Eletronet e a Lightpar tinha 49%. Foram feitos fortes investimentos e a
Eletronet expandiu sua rede, alcançando 16 mil Km de extensão.
Em 2002, a Lightpar assumiu controle da Eletronet, após uma assembléia geral
extraordinária. Os advogados da LT Bandeirante, sócio privado da Eletronet,
dizem que a tomada do controle seria um "golpe" orquestrado pelo governo. "O
que o governo realmente pretende é fazer da Eletronet uma operadora de
telecom puramente estatal, excluindo, por completo, o investidor privado do
projeto", acusam os advogados da LT em uma de suas petições na Justiça
fluminense. Fontes do governo negam e dizem que a intenção é apenas usar a
rede para projetos de políticas públicas.
Em 2003, a Eletronet declarou falência. E a partir daí começou uma grande
disputa judicial, pois a empresa devia centenas de milhões de reais para
fornecedores, principalmente para Furukawa e Lucent. Contesta-se, inclusive,
se a Eletronet poderia ter declarado falência, já que ela pode ser entendida
como uma empresa pública.
Síndico
Com o processo de falência, a Justiça indicou um síndico para administrar a
massa falida e a Eletronet continuou funcionando e cumprindo seus contratos
para poder gerar caixa para pagar seus credores.
Em 2007, Chesf, a Eletronorte, a Eletrosul e Furnas entraram com um processo
na Justiça fluminense requerendo a reintegração de vários ativos da
Eletronet, a saber: cabos ópticos, torres, instalações de sustentação dos
cabos de fibra óptica, redes de acesso às regiões metropolitanas e
distribuidores ópticos. As empresas elétricas argumentaram que seu contrato
com a Ligthpar contém uma cláusula que previa a devolução desses ativos em
caso de falência da Lightpar ou de quem quer que houvesse contratado o
aluguel da rede com ela - neste caso, a Eletronet. Em troca, ofereceram para
a massa falida a garantia de R$ 270 milhões em certificados financeiros do
tesouro. As elétricas defendiam que se tratava de uma garantia, porque
exigiam ainda um laudo pericial contratado por elas para averiguar por quais
dentre aqueles equipamentos caberia pagar indenização à massa falida. Os
advogados da LT Bandeirante, por outro lado, argumentam que boa parte dos
cabos de fibra óptica da Eletronet foram instalados graças ao dinheiro do
sócio privado e não poderiam ser entregues às elétricas. Estas, por sua vez,
contra-argumentam que tinham cabos ópticos antigos instalados na rede e
estes foram substituídos por novos pela Eletronet.
Em janeiro de 2008, a Justiça fluminense decidiu, em primeira instância, a
favor do pedido das elétricas, mas elevou para R$ 380 milhões o valor a ser
pago à massa falida em caráter de indenização. Além disso, a Justiça
determinou que o pagamento deveria ser em espécie e que a devolução dos
ativos não incluiria os cabos ópticos instalados pela Eletronet.
Nenhuma parte parece ter ficado satisfeita com a decisão da primeira
instância. A LT Bandeirante recorreu pedindo a anulação da decisão,
argumentando "cerceamento de defesa", pois não pôde se manifestar sobre o
laudo que avaliou os ativos em R$ 380 milhões. Além disso, o sócio privado
da Eletronet afirmou que a empresa valeria, na verdade, R$ 600 milhões. O
pedido de liminar da LT Bandeirante foi negado, mas seu recurso aguarda
julgamento. O relator é o mesmo desembargador da decisão desta terça-feira,
3.
As elétricas, por sua vez, também recorreram da decisão, solicitando o
pagamento em títulos públicos. Foi este o recurso cujo efeito suspensivo foi
aceito por Hartung há duas semanas e cujo julgamento do mérito foi iniciado
nesta terça-feira.
Fernando Paiva