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Fonte: Estadão
[15/12/09]
Justiça dá ao governo posse da rede óptica da Eletronet - por Renato Cruz e
Gerusa Marques
Decisão facilita o caminho para a criação de uma empresa estatal
de banda larga
A Justiça Estadual do Rio de Janeiro deu ao governo o direito de utilizar as
fibras ópticas da rede da Eletronet, empresa de comunicação de dados que se
encontra em processo de falência, e que tem a Eletrobrás como acionista. O
desembargador Sidney Hartung concedeu a liminar à União, com mandado de imissão
de posse, na sexta-feira.
Segundo uma fonte do governo, a decisão abrange as fibras ópticas apagadas (que
não estão em uso pela Eletronet), e tem efeito imediato, a partir do momento em
que o síndico da massa falida for comunicado oficialmente pela Justiça. Essa
decisão é considerada um passo importante na definição do Plano Nacional de
Banda Larga. Na última reunião interministerial, no mês passado, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva mostrou irritação ao ser informado de que o caso
Eletronet ainda não estava resolvido.
Para que essas fibras sejam colocadas em funcionamento, o governo precisa
investir em equipamentos de rede. Os técnicos que elaboram o Plano Nacional de
Banda Larga têm a informação de que a Eletronet usa somente dois pares de fibra,
sendo que, dependendo do trecho, a rede tem pelo menos 16 pares. A rede da
Eletronet tem 16 mil quilômetros de extensão, e está presente em 18 Estados
brasileiros.
Estava marcada para ontem uma grande reunião entre o presidente Lula e os
ministros envolvidos no projeto do Plano Nacional de Banda Larga, que não
aconteceu. Lula deu prazo até meados de janeiro para que o grupo de técnicos
apresente os estudos de quanto custará levar a internet em alta velocidade até o
consumidor final. Hoje haveria uma grande reunião entre o presidente e os
ministros envolvidos no projeto. O encontro foi adiado porque os estudos ainda
não foram concluídos.
Lula foi atualizado do andamento dos estudos em rápida reunião com o coordenador
dos Programas de Inclusão Digital do governo, Cezar Alvarez, e com a
secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Segundo fontes do Planalto,
o presidente pediu agilidade na conclusão dos estudos.
O governo pretende criar uma estatal de banda larga, usando as fibras ópticas
das estatais, como a Petrobrás, a Eletrobrás e a Eletronet. No mês passado, os
técnicos apresentaram ao presidente um plano que não previa o atendimento direto
ao consumidor. Lula decidiu que o projeto deveria incluir essa possibilidade, e
solicitou o levantamento de custos. Existem pontos polêmicos que ainda precisam
ser decididos, como a participação da iniciativa privada e a volta da Telebrás,
que pode se tornar a responsável por administrar a infraestrutura estatal.
Segundo uma fonte do governo, essa decisão permite que o síndico da massa falida
da Eletronet coloque à venda os ativos da companhia para pagar funcionários e
credores. As fibras ópticas usadas pela Eletronet não pertencem à empresa, mas
são objeto de um contrato de cessão de direito de uso das empresas de energia
elétrica com a companhia.
A Eletronet era uma associação entre a americana AES (que tinha 51% da empresa)
e a Eletrobrás (responsável pelo restante). Depois de entrar em processo de
falência, a participação da AES foi vendida para o empresário Nelson dos Santos,
que não desembolsou praticamente nada, em troca de assumir as dívidas da
operadora. Santos foi o responsável por negociar as dívidas da AES, referentes
às empresas de energia que comprou no Brasil, com o BNDES.
Os principais credoras da Eletronet são os fornecedores de sistemas de
telecomunicações Furukawa e Alcatel-Lucent, que acabaram ficando sem receber uma
dívida que já ultrapassa R$ 600 milhões. Recentemente, credores e acionistas
chegaram a negociar com empresas privadas, como a Oi, mas essas conversas foram
paralisadas depois de o governo anunciar seu interesse em usar a rede da
Eletronet no Plano Nacional de Banda Larga.
Segundo uma fonte do mercado, a decisão de segunda instância, que dá posse das
fibras ópticas ao governo, reforça a tese de que o governo é responsável pela
Eletronet, e que, por isso, deveria assumir a dívida. O governo chegou a fazer
um depósito judicial de R$ 300 milhões no processo de falência, para garantir a
retomada da infraestrutura. Em 2007, os credores tentaram negociar a venda da
Eletronet com a estatal Serpro, que pagaria cerca de R$ 210 milhões, mas as
conversas não foram em frente.
As empresas privadas concordam com o uso das redes ópticas que o governo possui,
mas se opõe à criação de uma estatal de banda larga, principalmente uma que
atenda ao cliente final. Uma das ideias do governo é que essa empresa atenda a
localidades onde a iniciativa privada não tenha interesse.