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Fonte: Estadão
[07/03/10]
Gushiken ofereceu Eletronet para operadoras privadas de telefonia - por
Renato Cruz
Governo sondou Telefônica para comprar empresa de Nelson dos Santos, cujo
controle havia sido adquirido por R$ 1
NEGÓCIO - ''Fiquei sabendo do pessoal que tinha comprado a Eletronet por R$ 1,
mas ninguém tinha clareza do impacto legal'', disse Gushiken
O governo ofereceu a Eletronet para operadoras privadas, depois de o empresário
Nelson dos Santos, que tem negócios com o ex-ministro José Dirceu, comprar o
controle da companhia por R$ 1. Fernando Xavier Ferreira, que comandava o Grupo
Telefônica no Brasil, teve um encontro em Brasília com Luiz Gushiken, então
responsável pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da presidência da
República.
Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu confirmou na semana passada ter recebido
R$ 620 mil pelo pagamento de uma consultoria à empresa Adne, do empresário
Nelson dos Santos, entre março de 2007 e setembro de 2009. Ele argumentou que,
quando Nelson dos Santos adquiriu 51% da Eletronet, em 2005, nem conhecia o
empresário. Se Gushiken tivesse obtido sucesso em negociar a Eletronet com
alguma empresa privada, acabaria beneficiando Nelson dos Santos.
Ferreira afirma que, na reunião com Gushiken, foi consultado se queria comprar a
Eletronet. "Realmente, houve um momento em que foi colocada essa questão, do
interesse nosso em avaliar a Eletronet, mas, na ocasião, comunicamos que não
tínhamos interesse na avaliação", diz Ferreira.
Antes de comandar a NAE, Gushiken foi ministro-chefe da Secretaria de
Comunicação. Ele admite ter conversado com empresas para saber se tinham
interesse na Eletronet, incluindo a Telefônica. "Na época, fiz reunião com muita
gente", afirma o ex-ministro, que deixou o cargo em 2006. "Mas nunca apresentei
um modelo pronto e acabado. Cheguei a sondar muita gente, sobre como viam essa
rede, e sondava com toda a cautela que merece uma coisa desse tipo. Eu articulei
esse assunto por muito tempo. E não passou pelo José Dirceu como a imprensa vem
falando."
Gushiken nega ter tido qualquer contato com Nelson dos Santos, sócio privado da
Eletronet e cliente de José Dirceu. "Nem sei quem é", diz o ex-ministro, apesar
de admitir que tinha informações sobre a mudança de controle na época em que
procurava uma saída para a empresa. "Fiquei sabendo no meio do caminho desse
pessoal que tinha comprado a Eletronet por R$ 1 da AES, mas ninguém tinha
clareza de qual impacto legal poderia ter a medida que foi tomada por esse
empresário."
No fim do ano passado, o governo retomou na Justiça do Rio a posse das fibras
ópticas que não estão sendo usadas pela Eletronet, e pertencem às distribuidoras
de energia. Para isso, teve de fazer um depósito judicial de R$ 270 milhões para
garantir o ressarcimento dos credores, se o tribunal assim o decidir. A
Eletronet está em processo de falência, e tem dívidas de cerca de R$ 800
milhões. Os maiores credores são as fabricantes Furukawa e Alcatel Lucent, que
forneceram os equipamentos e os cabos para a Eletronet. A Eletrobrás tem 49% da
Eletronet.
BANDA LARGA
A Eletronet controla uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas, presente
em 18 Estados brasileiros. O governo planeja usá-la no Plano Nacional de Banda
Larga que propõe, entre outras medidas, ressuscitar a Telebrás. A proposta seria
usar a infraestrutura de fibras ópticas para oferecer internet rápida de baixo
custo.
Segundo Gushiken, essa ideia começou quando ele ainda estava no governo. "A
gente não tinha um formato jurídico adequado para isso, mas chegamos a pensar na
Telebrás, chegamos a pensar no Serpro, e cheguei a pensar também numa estrutura
em que tivesse o setor privado participando minoritariamente", diz o
ex-ministro. "Não podíamos pensar numa rede puramente estatal, porque iria tirar
um volume de recursos que estava no setor privado, o que poderia criar algum
constrangimento."
Apesar de Gushiken falar em participação minoritária do setor privado, na
reunião com o ex-presidente da Telefônica, a consulta foi sobre o interesse da
empresa em comprar toda a Eletronet. Ferreira explica que o grupo espanhol já
tinha avaliado a empresa quando foi chamado pelo governo. "O assunto Eletronet
já havia sido trazido à Telefônica pelos próprios credores, interessados em
achar uma solução para o problema deles", diz. "Já tínhamos feito uma análise e
chegado à conclusão de que não se tratava de algo interessante para a
Telefônica."
FALTA DE INTERESSE
O ex-presidente da Telefônica explica que havia vários motivos para não querer
comprar a Eletronet, como a distância da rede da companhia dos centros onde
estão os consumidores e o fato de a companhia ter somente o direito de uso das
fibras, que continuavam de propriedade das empresas de energia. "Havia questões
tecnológicas, mercadológicas e regulatórias que, para a Telefônica, não faziam
com que ela fosse de maior interesse", diz Ferreira.
Na visão de Gushiken, o valor da rede da Eletronet era, e continua sendo, alto.
"É uma coisa tão importante para o Brasil oferecer banda larga para o povo, usar
uma rede em que o setor privado também vai ter participação, porque vai ter que
dar a última milha (conexão que chega até o usuário)", diz o ex-ministro. "A
utilização da infraestrutura instalada pode beneficiar milhões de pessoas,
levando acesso para lugares como escolas e prefeituras."
Gushiken afirma que, pouco antes de deixar o governo, passou o assunto para
Silas Rondeau, então ministro de Minas e Energia. "Depois que eu vi que as
coisas tinham de caminhar junto às elétricas, achei melhor que o ministro da
área tomasse a iniciativa", explica, ressaltando que, até então, o assunto
estava sob sua responsabilidade. "Faço questão de dizer que o José Dirceu não
tinha a mínima noção disso. Estão tentando vitimizar (sic) o José Dirceu numa
coisa que não tem sentido."