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Fonte: Veja
[Nov 2005]  A nova era do rádio - por Bia Baldim

Um velho meio ganha vida com a tecnologia: o sistema digital, em testes no Brasil, garante som perfeito e pode ampliar as escolhas do ouvinte

O rádio, convenhamos, é mesmo um meio de comunicação do século passado, com seus chiados, falhas na transmissão, sintonia impossível em alguns locais e localização de estações por um processo que exige memorizar freqüências parecidas com fórmulas matemáticas. Ou melhor, era. Não porque esteja morrendo, mas sim porque está ressuscitando graças a uma nova tecnologia, a da transmissão digital. Sucesso no exterior, o novo sistema está em fase de testes no Brasil. Em agosto, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, deu sinal verde para que algumas redes – Sistema Globo de Rádio, Bandeirantes, Jovem Pan, RBS e Eldorado – iniciassem transmissões experimentais, que durarão pelo menos seis meses. "A idéia, neste primeiro momento, é analisar a qualidade da transmissão", diz José Inácio Pizani, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). "Depois, vamos para a implantação de verdade."

Qualquer emissora de rádio pode pedir autorização à Agência Nacional de Telecomunicações e iniciar a transmissão digital. Até março de 2006, a previsão é que dez emissoras brasileiras estejam habilitadas. É muito pouco, num país que tem cerca de 4 000 emissoras e é considerado o segundo maior mercado de radiodifusão do mundo, em número de aparelhos. Mas é um começo. E fazer a mudança custa caro. A Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Aesp) estima que o custo de migração de cada emissora ficará entre 50 000 e 150 000 dólares, dependendo do grau de digitalização existente na produção. "Como 70% das emissoras são de pequeno ou médio porte, a mudança será bastante gradual", diz Nelia Del Bianco, professora da Universidade de Brasília e especialista em rádio digital.

O sistema adotado aqui, até agora, é o americano in-band on-channel (Iboc), que permite que as transmissões analógica e digital caminhem na mesma freqüência, sem necessidade de utilizar novos canais. Isso permite que o ouvinte continue a usar seu aparelho analógico atual, com chiado e interrupções. Mas quem comprar um rádio digital ouvirá AM com a qualidade de FM e FM com som de CD. O motivo é que as ondas analógicas convencionais sofrem a influência de fatores externos, como a presença de prédios ou nuvens carregadas. O sinal digital passa intacto por qualquer obstáculo.

A grande mudança, porém, não é simplesmente a qualidade superior do som. Segundo John Sykes, diretor do projeto de rádio digital da BBC, os ouvintes ingleses só passaram a comprar rádios digitais quando as emissoras lançaram novos programas. "Conteúdo novo é o estímulo mais potente para aumentar a demanda", diz ele. Um equipamento simples para captar sinais digitais custa em torno de 250 dólares. Para que se justifique um investimento de mais de 500 reais por parte do consumidor, as emissoras terão de produzir algo especial. A rádio digital permite exatamente isso. Como os aparelhos têm tela de cristal líquido, as emissoras podem emitir informações por escrito, como nome da música e do cantor, previsão do tempo, dados sobre trânsito e propaganda. No futuro, poderão transmitir também imagens. Não como a televisão, antes que alguém pergunte. Basicamente, o canal digital servirá para mostrar gráficos e pequenos clipes. Haverá certamente maior segmentação, pois cada canal de rádio poderá transmitir até três programas simultaneamente. Com a superespecialização, surge inclusive a possibilidade de canais pagos, como acontece com a televisão.

Espera-se que as novas possibilidades do rádio digital sejam aproveitadas por um mercado cada vez mais segmentado. No passado, nem sempre isso aconteceu. A freqüência modulada, ou FM, foi lançada nos Estados Unidos na década de 1940. Embora transmitisse um som de qualidade superior à do rádio AM, tinha alcance mais limitado. Por isso, só foi despertar o interesse das emissoras brasileiras na década de 1970. De lá para cá, o mercado mudou muito, e há rádios para todos os gostos, das evangélicas às eruditas. Embora a digitalização dos serviços radiofônicos seja considerada uma tendência mundial, ainda são poucos os países que operam o novo sistema – nas Américas, Estados Unidos, México e Canadá. "O Brasil foi um dos primeiros no mundo a usar o rádio como meio de comunicação. Agora, confirmamos nossa tendência ao pioneirismo", gaba-se o diretor da Aesp, Antonio Rosa Neto. A questão, para o consumidor, é se essa primazia dará alternativas novas para o ouvinte.

O QUE MUDA PARA O OUVINTE

O som do rádio digital é superior?
A rádio AM passa a ter qualidade de FM; a rádio FM terá som de CD.

O sinal digital será transmitido em todo o território nacional?
Teoricamente, isso é possível, mas vai depender de cada emissora.

Será preciso jogar fora o aparelho atual?
Não. As emissoras brasileiras vão transmitir os dois sinais, o analógico e o digital.

Vai melhorar o som do aparelho convencional?
Não, porque o rádio analógico continuará recebendo o mesmo tipo de sinal.

O aparelho digital capta o sinal analógico?
Depende do aparelho. A maioria aceita os dois sistemas, sem que um interfira no outro.

Que outras vantagens tem o aparelho digital?
Os melhores modelos têm recursos como a gravação de músicas com registro de informações como autor e intérprete e a possibilidade de "voltar" para o começo de um programa que se pegou no meio.

Já existem aparelhos de rádio digital à venda no Brasil?
Não. Algumas emissoras estão fazendo transmissões experimentais. Prevê-se a chegada de aparelhos (semelhantes aos das fotos acima, vendidos na Europa) ao mercado em 2006.