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Tele.Síntese
[13/11/06]  Rádio digital: emissoras têm dificuldades com padrão americano

Embora os radiodifusores tenham pressa na definição do padrão de transmissão digital de rádio e defendam o americano IBOC (In-band on Channel), da empresa iBiquity, alguns setores do governo avaliam que ainda não há elementos técnicos suficientes postos na mesa que permitam uma escolha responsável para o país.

Primeiro, é preciso conhecer o resultado dos testes feitos com o IBOC pelas 15 emissoras AM e FM que pediram à Anatel, a partir do final de 2005, autorização para transmissões-piloto, durante um ano, em sinal digital testando o padrão IBOC. Das 15 emissoras, apenas sete entregaram o relatório inicial pedido pela agência. As outras oito ou não entregaram ou enviaram informações incompletas.

E das oito que deveriam entregar o relatório final até este mês, apenas duas apresentaram. Outras sete emissoras têm que apresentar os resultados apenas em 2007. A agência ainda aguarda os documentos e as que atrasarem a entrega das informações poderão ter as autorizações canceladas, embora não seja essa a intenção da Anatel que também quer conhecer os resultados dos testes.

Problemas

Mas a agência já sabe que as emissoras têm enfrentado dificuldades com as transmissões no IBOC. Segundo técnico do órgão regulador, há problemas, por exemplo, na ligação transmissor estúdio e interferências nas bandas laterais de freqüência. No caso das transmissões em ondas médias (AM), as emissoras tiveram que estreitar a faixa do áudio e degradar a qualidade do som para melhorar a qualidade do sinal de transmissão.

O técnico da Anatel explica que essas complicações não são geradas por defeitos do IBOC, mas porque a transmissão digital é complexa e os equipamentos precisam de ajustes. E somente com o resultado dos testes é possível verificar quais são os problemas. “Não é simplesmente ligar os equipamentos e esperar que eles funcionem”,explica.

Apesar de os radiodifusores defenderem o IBOC como um padrão completo e que chegou a um bom estágio de evolução, essa argumentação não convence a agência. “Achamos que o IBOC pode evoluir e amadurecer, ele ainda está um pouco verde”, fala o assessor da agência.

O principal argumento dos radiodifusores a favor do IBOC é que ele permite o simulcast – a transmissão analógica e digital na mesma banda de freqüência, sem necessidade de um novo canal. No encontro da Citel (Comissão Interamericana de Telecomunicações) realizado em outubro na Venezuela, a delegação do Canadá apresentou um documento no qual mostrou dificuldades com a transmissão no IBOC para diversos receptores, como dentro do carro ou no celular. Segundo os canadenses, foram verificados degradação do sinal e interferência nos canais adjascentes.

Investimento

Na avaliação do assessor da Anatel, por enquanto, a pressão das empresas em iniciar oficialmente as transmissões digitais no rádio está relacionada mais à uma estratégia de marketing, de anunciar quem saiu primeiro na era digital, do que ao retorno comercial que a digitalização pode proporcionar a curto prazo, uma vez que não há receptores digitais no Brasil.

E lembra que a maioria dos radiodifusores não tem tantos recursos assim para investir de forma açodada na digitalização. “A maioria quer ver o resultado dos testes. Eles não querem entrar no negócio no escuro”, revela o assessor para quem a pressão por uma definição rápida do governo vem mais do grupo de emissoras ligada à Aesp (Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo). Ele lembra que um transmissor de rádio digital custa em torno de R$ 450 mil, valor alto para pequenas emissoras que poderão investir e descobrir que a transmissão não era aquilo que esperavam.

Grupo de trabalho

Já o assessor da Casa Civil, André Barbosa, avisa que o processo de decisão sobre o padrão de rádio digital deverá seguir o mesmo caminho da escolha do padrão da TV digital. “Esse assunto ainda não está em discussão na Casa Civil e a ministra Dilma Rousseff (ministra-chefe da Casa Civil) não se envolveu nisso ainda. Quando entrar na pauta, iremos discutir, formar um grupo de trabalho e colocar as cartas na mesa como fizemos com a TV digital”, explica.

Entre setembro e outubro, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, recebeu por duas vezes os representantes da Abert (Associação Brasileiras das Emissoras de Rádio e TV) que pediram uma definição rápida sobre o rádio digital. Costa manifestou o apoio ao IBOC e afirmou, à época, que a escolha para o rádio seria mais fácil tecnicamente de ser feita e, por isso mesmo, mais ágil, podendo ocorrer até o final do ano.

Barbosa reitera sua posição de que todos os padrões devam ser testados antes de uma tomada de decisão. Ele lembra que o sistema IBOC funciona melhor para FM, embora atenda também as ondas médias. E que o europeu DRM (Digital Radio Mondiale) atende, por enquanto, apenas ondas curtas e médias, mas que se prepara para oferecer equipamentos para FM. “O DRM não faz simulcast e não faz FM, mas os representantes do padrão europeu já nos prometeram uma visita até o final do ano. Eles virão até aqui e vamos ouvi-los para que possamos testar aqui o DRM para FM também”, adianta.