Brasília - Apenas uma emissora de rádio já entregou à Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) o relatório com os resultados dos testes
realizados no padrão digital de transmissão. De acordo com o presidente da
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel
Slaviero, as emissoras entregarão os relatórios em até 60 dias. Mas a
definição do governo sobre o sistema ideal pode sair antes disso. Se cumprir
o prazo anunciado, o conselho consultivo apresentará sua proposta final até
o dia 14 de setembro.
Atualmente, de acordo com a Abert, 16 emissoras de rádio AM e FM operam em
caráter de teste no sistema norte-americano In Band on Chanel (Iboc). Outras
42 já pediram autorização à Anatel, mas ainda não iniciaram os testes. As
únicas emissoras que irão testar o sistema europeu Digital Radio Mondiale (DRM)
em ondas curtas (OC) são a Faculdade de Tecnologia da Universidade de
Brasília (UnB) e a Radiobrás. Os testes ainda não começaram.
"Ninguém [empresas de radiofusão] quis optar por testes com o outro sistema.
E nós achamos importante, para poder estabelecer um comparativo entre os
dois sistemas", disse o professor de Telecomunicações da UnB Lúcio Martins,
ao anunciar os testes.
O diretor de TV Digital do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Telecomunicações (CPqD), Juliano Castilho Dall`Antonia, alerta que “é
preciso ter um volume razoável de dados para responder categoricamente qual
sistema é o melhor. O que parece é que a discussão está incipiente.
Precisava ter mais informação. Não é só uma discussão teórica. São tantos os
parâmetros e os padrões possíveis, que precisa fazer um monte de testes,
depois um monte de análises”, diz.
Para o presidente da Abert, “a discussão está muito madura” e os relatórios
“vêm só contribuir no seguinte sentido: se a cobertura digital está maior,
igual ou menor que a analógica. Não vêm necessariamente argumentar ou
questionar a qualidade do padrão. A definição do padrão já está madura”.
O pesquisador do CPqD Takashi Tome ressalta, no entanto, que é “fundamental
realizar um teste completo com ambos os padrões. Para ele, enquanto não for
feito, todas as discussões carecem de embasamento. No caso da TV, foi
realizado um teste na cidade de São Paulo envolvendo várias emissoras e
analisamos todos os parâmetros. Foi um teste que demorou quase um ano”.
Takashi Tome diz que, entre as características tecnológicas que precisam ser
observadas na prática estão a cobertura, qualidade do sinal recebido,
recepção em todos os pontos e qualidade do áudio de cada um dos dois
sistemas (o americano e o europeu). “Em cada sistema existem várias
configurações. Não é como comparar melancia com melão”, diz o pesquisador.
As 16 emissoras de rádio AM e FM que realizam testes com o sistema americano
Iboc se localizam nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
Porto Alegre. Mas para Juliano Dall`Antoni, do CPqD, “estes testes estão
muito pulverizados”, já que são feitos em apenas uma emissora de São Paulo e
outra em Porto Alegre, e não em várias.
O presidente da Abert discorda. Segundo ele, “os testes têm caminhado muito
bem e a migração traz um salto de qualidade impressionante”. O que falta,
para Daniel Slaviero, e está causando a maior dificuldade para as rádios, é
“a definição por parte do governo”.