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Fonte: http://www.convergencia.jor.br/carta.htm
[13/12/07] Correspondência
enviada ao Ministro das Comunicações ("por grupo de pesquisadores de rádio e
mídia sonora")
Ao
Exmo.sr. Hélio Costa
Ministro de Estado das Comunicações
Prezado senhor:
Nós, um grupo de pesquisadores de rádio e mídia sonora, aqui incluídos os
responsáveis por parcela majoritária da bibliografia produzida em nosso país
nestas áreas dentro do campo da Comunicação Social, vimos, respeitosamente,
sugerir ao senhor ministro das Comunicações, Hélio Costa, uma série de
providências a respeito da implantação dos sistemas de transmissão e recepção
digital na radiodifusão sonora. Todas as propostas aqui incluídas foram
debatidas e partem do documento Carta dos Pesquisadores de Rádio e Mídia Sonora
do Brasil, anteriormente divulgado por nós e repassado a Vossa Excelência e à
sociedade brasileira.
1. A respeito dos testes com os sistemas existentes, propomos a criação de um
Comitê de Assessoramento Científico, dando suporte ao Conselho Consultivo do
Rádio Digital, estabelecido pela portaria ministerial número 83, de 13 de março
de 2007. Seus integrantes seriam indicados por instâncias governamentais e/ou
instituições da sociedade civil como a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel); o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia; a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); a Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão (SET); a Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)...
2. A este comitê caberá a definição dos padrões dos testes a serem realizados de
forma mais sistemática, incluindo, neste processo, o estabelecimento de uma
metodologia adequada e comum a todas as estações participantes e oferecendo
ainda subsídios para a definição de um cronograma de implantação do sistema ou
dos sistemas de rádio digital. Também o comitê vai se encarregar da ponderação
dos resultados provenientes de emissoras de natureza diversa: comerciais,
educativas e/ou comunitárias; de pequeno, médio e/ou grande porte; e de
amplitude modulada e/ou de freqüência modulada... Esta instância poderá sugerir
novas propostas para o rádio como produtor e emissor de conteúdo, a partir da
base tecnológica digital.
3. Sugere-se que, dando suporte às iniciativas do Comitê de Assessoramento
Científico, este aponte, com o apoio do Ministério da Educação, instituições de
ensino superior aptas a analisar, em cada região, os dados provenientes dos
testes ali realizados. Pretende-se, deste modo, ampliar o debate e as instâncias
de análise, além de valorizar o imenso capital humano existente nas
universidades brasileiras. Neste sentido, é fundamental a realização de
audiências públicas descentralizadas. Considera-se como necessária a ocorrência
de pelo menos uma em cada região do país e nos estados de maior concentração da
produção radiofônica, propondo-se como locais universidades federais ou
estaduais.
4. Deve-se ressaltar também, como é do conhecimento de Vossa Excelência, a
imensa diversidade territorial do Brasil. Por este motivo, propomos a realização
de testes, se necessário por emissora ligada ao governo federal, em pontos das
regiões Centro-oeste, Nordeste e Norte, não apenas no Sul e no Sudeste, onde se
concentram as experiências hoje realizadas de forma assistemática por estações
que adquiriram os equipamentos de HD Radio do consórcio estado-unidense iBiquity.
Da mesma forma, salientamos a obrigatoriedade de realizar testes nas mais
diversas condições meteorológicas e topográficas.
5. Após o primeiro período de experimentos, seguir-se-ia uma cuidadosa análise
por este comitê e, quando necessário, para a validação científica dos
experimentos, ocorreria a repetição dos mesmos, todos realizados sob a
fiscalização desta instância e com resultados tornados públicos por meio do
Conselho Consultivo do Rádio Digital.
6. Para a definição do sistema ou dos sistemas, sugerimos que sejam consideradas
as sete diretrizes para a implantação do rádio digital no Brasil a seguir
relacionadas e explicadas:
6.1. Manutenção da gratuidade do acesso ao rádio.
Adotar um sistema que favoreça a oferta gratuita de programação é fundamental
para o rádio. Estabelecer o princípio da gratuidade significa manter aberto o
acesso à programação radiofônica centrada em notícia, entretenimento, esporte e
utilidade pública.
6.2. Transmissão de áudio com qualidade em qualquer situação de recepção.
A tecnologia a ser adotada precisa garantir qualidade de som em diferentes
situações de audição: móvel e doméstica. Necessita também ser capaz de garantir
eficiência de transmissão em cidades com diferentes características topográficas
e condições de uso do espectro eletromagnético, especialmente naquelas que
apresentam elevados índices de poluição radioelétrica.
6.3. Adaptabilidade do padrão ao parque técnico instalado.
As emissoras brasileiras diferem quanto ao tipo de freqüência, potência dos
transmissores, tipo de transmissor (valvular ou modular), infra-estrutura
técnica de produção, equipe de pessoal técnico e de produção. Há diferenças a
serem consideradas na forma de exploração e forma de financiamento: comerciais,
educativas, culturais, legislativas, estatais, institucionais e comunitárias. A
tecnologia de transmissão precisa ter em si este potencial de adaptabilidade em
diferentes situações. Talvez seja conveniente pensar que um único padrão não
será suficiente para atender à diversidade existente. Os testes devem, portanto,
considerar a possibilidade de adoção de um sistema híbrido.
6.4. Coevolução e coexistência do digital com o analógico.
No processo de mudança, é necessário haver um período de transmissão simultânea
de conteúdos em formato analógico e digital, até o momento em que ocorra a
popularização dos receptores digitais. Para tanto, os testes devem atentar para
possíveis interferências entre o novo sinal digital e o analógico tradicional.
6.5. Aparelho receptor com potencial de popularização.
A preocupação com a popularização do rádio digital é procedente porque a adoção
de uma nova tecnologia não pode criar uma divisória digital intransponível entre
os que terão acesso ao aparelho receptor digital e os outros que permanecerão no
analógico por falta de recursos para adquirir um novo aparelho. E isto contraria
o espírito popular e abrangente conquistado pelo rádio na era eletrônica. Ter
aparelhos acessíveis no mercado requer implementar políticas públicas de
incentivo para que a cadeia produtiva da área elétrica e eletrônica possa
disponibilizá-los a preços atraentes para o consumidor final. Desta política,
pode depender o sucesso da mudança.
6.6. Tecnologia não-proprietária.
O pagamento pela tecnologia digital de transmissão pode inviabilizar sua adoção
por parte de emissoras comunitárias, educativas ou mesmo comerciais de pequeno
porte. Esta condição deixa os radiodifusores sujeitos aos ditames de uma empresa
que administra os direitos de uso da tecnologia, podendo estes perder o controle
sob o gerenciamento do processo de instalação e definição de equipamentos.
6.7. Escolher uma tecnologia que tenha potencial de integração do rádio com
outras mídias digitais.
O digital é por natureza uma tecnologia flexível, porque permite combinar,
interligar, organizar e integrar serviços, que antes estavam separados. A sua
disseminação tem contribuído para forjar uma base material que favorece
hibridação das infra-estruturas indispensáveis à geração e à transmissão de
dados, sons e imagens em proporções incalculáveis e em alta velocidade graças
aos processos de compressão e descompressão de dados. Com esta tecnologia, é
possível caminhar para a convergência de setores antes distintos – a
informática, as telecomunicações e a comunicação – num só campo técnico
denominado de multimídia, uma estrutura de comunicação integrada, digital e
interativa. O rádio digital não poderá ficar isolado do movimento convergente. A
tecnologia de transmissão a ser escolhida terá de ser flexível a ponto de
favorecer a integração do meio com as demais mídias e com sistemas de redes
informatizadas.
7. Independentemente do sistema a ser adotado, observamos a necessidade de que
sejam estabelecidas pelo governo federal duas frentes de linhas de custeio: a
primeira delas destinada às emissoras comerciais de pequeno porte, comunitárias
e educativas, usando como balizadora a potência não superior a 5 kW e não sendo,
no caso de estação comercial, propriedade de indivíduo sócio de outros
empreendimentos na área; e a segunda voltada à indústria eletrônica para a
produção de aparelhos com tecnologia digital de transmissão e recepção para
radiodifusão sonora. Nesta última, incluir-se-ia a obrigatoriedade da presença
da amplitude modulada em qualquer equipamento (celular, MP3 player etc.) que
disponibilizar ao ouvinte a faixa de freqüência modulada. Observa-se, ainda, a
necessidade de apoio financeiro do governo para a cobertura dos custos
provenientes da manutenção do Comitê de Assessoramento Científico.
Com estas medidas, cremos que o rádio brasileiro terá garantida, em sua
diversidade, a continuação progressiva e segura do seu desenvolvimento
histórico. Ficamos, assim, à disposição através de nossos representantes, os
professores Luiz Artur Ferraretto, Nair Prata e Nélia Del Bianco, e
subscrevemo-nos:
(89 assinaturas - Ver relação em
Correspondência enviada ao
Ministro das Comunicações)