O sistema digital de rádio norte-americano, preferido
pelos radiodifusores privados em detrimento do japonês e do europeu, não é
unanimidade entre os especialistas que participaram hoje do seminário "O
rádio digital", promovido pelo Conselho de Altos Estudos e pela Rádio
Câmara.
O governo brasileiro deve decidir ainda neste ano qual
sistema de transmissão digital será adotado para o rádio. Além dos
norte-americanos, europeus e japoneses, o Brasil pode também desenvolver
pesquisas no assunto e criar uma alternativa nacional para a tecnologia.
O sistema norte-americano, conhecido como In Band On
Channel (Iboc), é de propriedade da empresa IBiquity, que cobra royalties
mas mantém as mesmas freqüências já em uso pelas emissoras.
De acordo com o superintendente de serviços de
comunicação de massa da Agência Nacional de Telcomunicações, Ara Minassian,
cerca de 20 emissoras brasileiras já testam o sistema, mas os resultados
ainda são insuficientes para que o governo tome uma decisão. Ele antecipou,
no entanto, que a agência terá dificuldades em disponibilizar novos canais
para a transição digital caso seja esse o sistema escolhido. Isso porque
além do canal em que a emissora transmite o sinal analógico serão
necessários mais quatro canais adjacentes para levar o sinal digital.
"Invariavelmente nós vamos ter problemas na hora de implementar a
digitalização em todas as capitais. Fatalmente algumas estações terão de
ser, se não momentaneamente desligadas, pelo menos submetidas a um controle
muito grande do espectro. Se serão usadas as faixas laterais, no efeito
cascata teremos o reflexo de um sinal digital em cima do outro", explicou.
Para o presidente da Associação das Rádios Públicas
Brasileiras e diretor da Rádio MEC, Orlando Guilhon, é preciso afastar o
foco da questão meramente técnica para que a sociedade participe dessa
decisão. Ele criticou o sistema norte-americano de transmissão. "Devemos
levar em consideração um conjunto complexo de fatores para tomar essa
decisão. Se eu pegar só um fator, o Iboc deve ser rejeitado porque exige o
pagamento de R$ 5 mil dólares para uma licença. E que custa de 25 mil a 30
mil dólares para uma emissora de porte médio fazer essa transição. Esse
custo inviabiliza o sistema. As rádios comunitárias, públicas, educativas e
culturais estão fora desse processo de transição digital", analisou.
A discussão interessa à indústria, aos radiodifusores
comerciais, públicos e comunitários e à sociedade em geral, já que haverá
necessidade de trocar os transmissores das cerca de 5 mil emissoras
autorizadas, além dos aparelhos de rádio. Existem 200 milhões de receptores
no Brasil, entre rádios portáteis, fixos e instalados em carros.
Com a digitalização, haverá uma melhora na qualidade do
áudio - a rádio AM terá qualidade de FM, a FM terá som de CD, e será
possível transmitir até quatro canais dentro da mesma freqüência. Além
disso, com a nova tecnologia, as informações, antes exclusivamente sonoras,
passam a ser transmitidas em bits, o que torna possível às emissoras enviar
textos e fotos (para aparelhos que tenham visor).