Fabricantes nacionais de equipamentos de transmissão analógica temem que
americanos não liberem tecnologia
A digitalização do padrão de transmissão de rádio no Brasil está provocando
um drama entre os fabricantes nacionais de radiotransmissores, receptores e
acessórios para emissoras AM e FM, que correm o risco de perder para
fabricantes estrangeiros um mercado que já dominam no Brasil. É que o padrão
preferido pelo Ministério das Comunicações e pela Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o americano Iboc, que permite ao
mesmo tempo o tráfego analógico e digital, é uma tecnologia proprietária,
que não pode ser usada pelos fabricantes brasileiros sem prévia autorização
dos donos, nesse caso a multinacional Ibiquity Digital Corporation. Hoje, os
fabricantes nacionais atendem 90% do mercado brasileiro de equipamentos
analógicos para transmissão e recepção de ondas de rádio, a maior parte
deles, pequenas e médias empresas instaladas em Santa Rita do Sapucaí, no
Sul de Minas.
Os testes com o padrão digital estão sendo feitos em 20 emissoras de rádio
no Brasil, mas os equipamentos com a nova tecnologia já estão sendo vendidos
em São Paulo pela Chilena Continental/Lenza, que, segundo o assessor técnico
da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Ronald
Siqueira Barbosa, instalou um parque de fabricação de antenas digitais no
país. Além disso, Harris Digital, Nautel e BE, todas americanas, estão
comercializando a tecnologia em território brasileiro. “A Harris está
montando um grande parque no Brasil para a fabricação de emissores”, conta.
Na avaliação dele, os fabricantes locais, ainda presos ao sistema analógico,
não serão prejudicados pelas mudanças, mas serão forçados a negociar com a
Ibiquity Digital Corporation a aquisição do direito de uso do Iboc. A outra
opção, economicamente inviável, seria desenvolver um padrão próprio.
“Se o governo não deixar claro que essa tecnologia deverá ser repassada para
os fabricantes nacionais, as empresas do setor vão simplesmente fechar as
suas portas”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de
Eletroeletrônica do Vale da Eletrônica de Santa Rita do Sapucaí (Sindvel),
Roberto de Sousa Pinto. Segundo ele, o município abriga oito das 10
fabricantes nacionais de equipamentos radiotransmissores e receptores. “Só
aqui seriam fechados mais de mil postos de trabalho”, avisa. A estimativa é
de que a substituição do padrão analógico pelo digital vai demandar
investimentos de US$ 500 milhões nas emissoras de rádio AM e FM do país.
Segundo Rogério de Souza Correia, sócio da Teletronix, fabricante de
transmissores para radiodifusão em FM há 11 anos, que emprega 40 empregados
no chão de fábrica, com salário médio de R$ 900, os equipamentos que produz
são vendidos em todo o território brasileiro, na América Latina – “do México
à Argentina” – e até na Espanha. “O Iboc é um padrão fechado, se o governo
não negociar a transferência de tecnologia para as indústrias nacionais,
estaremos fora do mercado, porque nem sequer sabemos se os americanos têm
intenção de negociá-la”, sustenta.