BRASÍLIA - A Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel) ainda não tem
condições de indicar o modelo de rádio digital a ser adotado no país, com
base nos testes já realizados por diversas emissoras. Há dois anos, 21
rádios testam o padrão norte-americano In Band on Chanel (Iboc) e o europeu
DRM. Para a Anatel, no entanto, essas experiências estão incompletas e a
Agência pode pedir novas pesquisas.
Nesta terça-feira, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, o
representante da Anatel, Ara Apkar Minassian, defendeu que os testes não
demonstram a possível interferência dos sistemas digitais em rádios com
sinal analógico nem o alcance da freqüência das emissoras com qualquer dos
modelos. A Anatel, explicou, quer garantir que o novo sinal não afetará as
rádios analógicas durante o período de transição.
- Ninguém conseguiu responder se uma rádio analógica, hoje com alcance de 70
quilômetros, cobrirá com o sinal digital essa mesma distância ou se parte
dos ouvintes ficará sem o sinal - afirmou Minassian, que é superintende do
Serviço de Comunicação de Massa da Anatel.
A digitalização, segundo ele, pode tirar emissoras do ar. Por isso defendeu
a importância das pesquisas para a busca de medidas de precaução. Como o
alcance ainda não foi avaliado e “os relatórios não foram apresentados de
forma conclusiva, podemos pedir testes adicionais”.
Na semana passada, a Anatel recebeu relatórios de testes de seis emissoras
com os dois sistemas. Nesta terça, durante a audiência pública, o
representante da Rádio Bandeirantes, Flávio Lara Resende, revelou que com o
modelo europeu (DRM) não é possível manter a transmissão digitalizada na
mesma faixa e no mesmo canal. Ou seja, com a transição o ouvinte poderá não
encontrar suas emissoras favoritas no visor dos aparelhos.
- Depois de dois anos de testes, observamos que os modelos [Iboc e DRM] não
funcionam da mesma maneira. Percebemos que no Iboc dá para operar com a
mesma freqüência tanto no sistema analógico quanto no digital - apontou.
Resende informou ainda que a Rádio Bandeirantes considera o modelo americano
melhor, mas defendeu que a opção não é conclusiva e que a escolha do padrão
deve ser feita sem pressa pelo governo. - Se pudéssemos adiar essa escolha
nós o faríamos - acrescentou.
O resultado dos testes feitos pela Rádio Bandeirantes é referendado pela
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), cujo
representante, Ronald Barbosa, lembrou que a transmissão simultânea
(analógica e digital) com o modelo europeu sofre mais interferência. Quinze
emissoras filiadas à Abert testam os dois sistemas.
Os resultados já apresentados, no entanto, não correspondem à expectativa da
Anatel. - Até onde sabemos, os modelos norte-americano e europeu operam da
mesma forma. Dependendo da configuração, operam na mesma freqüência e no
mesmo sinal - rebateu Minassian, ao informar que outros países obtiveram
sucesso nos testes com o DRM.
Ele disse ainda que devido à falta de subsídios técnicos para os testes
podem ser pedidos novos estudos a instituições de pesquisa e universidades.
O prazo para as emissoras apresentarem os resultados terminaria nesta
semana, mas foi prorrogado e algumas delas só o farão em abril de 2008.
Esses resultados irão a consulta pública. Em agosto, o ministro das
Comunicações, Hélio Costa, disse que a escolha do sistema digital não será
feita antes da entrega e da análise dos testes com o modelo americano e que
não pretende esperar o resultado das pesquisas com o europeu, que estariam
atrasadas.