Fonte: Estadão
[25/05/08]
Televisão na Finlândia já é 100% digital - por Ethevaldo Siqueira [mas o
Rádio Digital foi descartado]
HELSINQUI – A Finlândia é o primeiro país do mundo a retirar do ar a TV
analógica e só transmitir programas com tecnologia digital. A informação é
da ministra das Comunicações deste país, Suvi Lindén, em entrevista ao
Estado. “Em menos de 4 anos, conseguimos realizar esse objetivo. Não foi
fácil, mas vale a pena. Os maiores problemas que tivemos foram na área dos
sintonizadores digitais (set top boxes). As camadas de menor renda
reclamaram dos preços e da impossibilidade de utilizar o mesmo aparelho
tanto para a TV aberta quanto para a TV por assinatura. Vamos ter que
resolver essa situação, substituindo esses conversores.”
O padrão utilizado na Finlândia é o europeu (Digital Video Broadcasting ou
DVB), que permite elevado grau de interatividade e mobilidade em sua versão
DVB-H. Segundo a ministra Lindén, a Europa não deu prioridade ao
desenvolvimento da TV de alta definição, embora o padrão DVB já o permita.
Na opinião de alguns especialistas finlandeses, a TV de alta definição ainda
é um luxo, porque exige receptores mais caros, mais sofisticados e,
principalmente, maior oferta de conteúdo, o que ainda não ocorre. Para eles,
as imagens digitais européias, com 700 pixels por linha (e não 1.080) são
plenamente satisfatórias.
RÁDIO, NÃO
Quanto ao rádio digital aberto, surpreendentemente, a
ministra das Comunicações da Finlândia não acredita na viabilidade prática
da migração da tecnologia analógica de rádio para a digital. “O problema é a
exigência de se trocar tudo – equipamentos das emissoras e receptores dos
ouvintes. Isso exigiria até a mudança de faixa de freqüências e a
interrupção das atividades das emissoras Nem o padrão europeu nem o
norte-americano satisfazem. No futuro, as transmissões de rádio serão todas
via internet ou associadas à TV digital”.
As telecomunicações da Finlândia estão entre as mais avançadas do mundo. Até
as residências mais modestas da zona rural ou as aldeias da Lapônia, no
norte do país, dispõem de comunicação telefônica, fixa ou celular. Nas
regiões mais remotas, o serviço é o mais simples possível, inclusive na
telefonia celular, que utiliza o sistema mais antigo, de telefonia móvel
nórdica em 450 MHz (NMT 450, na sigla comercial), mas que é também o mais
econômico para cobertura de grandes áreas com baixa densidade populacional,
segundo a ministra Suvi Lindén.
“As telecomunicações finlandesas – diz ela – vêm sendo privatizadas há mais
de duas décadas. A única empresa ainda com grande participação estatal é a
Telia-Sonera, uma das concessionárias de telefonia fixa, de cujo capital
participam os governos da Finlândia e da Suécia, com um total de 60% das
ações, sendo restante capital privado”.
O maior avanço do setor, entretanto, está na área da telefonia móvel, em que
o país ostenta a impressionante densidade de 124 celulares por 100
habitantes. Numa tendência oposta, a telefonia fixa vai reduzindo sua
participação para menos de 50%, como ocorre, aliás, na maioria dos países.
Embora seja um país com pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Finlândia
tem empresas poderosas na área da telefonia celular, entre as quais a Nokia,
detentora da fatia de 41% da produção mundial de aparelhos celulares, com 10
fábricas espalhadas pelo mundo, inclusive uma em Manaus, no Brasil.
Uma característica curiosa e quase única da telefonia fixa da Finlândia é o
fato de o país já ter conseguido abrir a infra-estrutura de rede de cabos e
centrais à participação de todas as operadoras, enquanto o mundo ainda
continua discutindo o compartilhamento da infra-estrutura.
No jargão de telecomunicações, esse compartilhamento recebe o nome de
unbundling (desempacotamento, em inglês) e permite um grau muito maior de
competição. Por essa razão, o país tem hoje mais de uma centena de
operadoras fixas. Muitas dessas operadoras podem obter licenças e prestar
praticamente todos os tipos de serviços de comunicações, de telefonia fixa a
celular, TV por assinatura, TV sob demanda (Video on Demand), acesso de
banda larga e internet. Apenas a radiodifusão (rádio e TV abertas) exige
concessões exclusivas.
Raros países têm o índice de acesso à internet tão elevado quanto a
Finlândia: mais de 60% da população utilizam regularmente a rede mundial.
E, de cada 100 usuários, 70 dispõem de acesso em banda larga, segundo a
ministra das Comunicações.
O país tem pelo menos três indicadores extraordinários que tornam possível
seu estágio de desenvolvimento: o menor grau de corrupção governamental
(segundo a organização Transparência Internacional), o melhor padrão de
educação e a terceira posição mundial em investimentos em pesquisa e
desenvolvimento em relação ao seu produto interno bruto (PIB), só atrás de
Israel e Cingapura.
PERFIL RARO
Embora seja integrante do Parlamento da Finlândia,
como deputada representante da região do Ártico, a ministra Suvi Lindén tem
grande experiência e envolvimento nas áreas de telecomunicações e novas
tecnologias.