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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[13/01/09]   Abandono do Iboc pode significar abertura dos debates - por Ana Rita Marini - e-Fórum/FNDC 
 
Encerrando o ano de 2008, a notícia do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de retirar seu apoio à tecnologia americana Iboc para o rádio digital brasileiro surpreendeu de forma positiva o movimento pela democratização da comunicação que há alguns anos vem pedindo tempo para debater o novo sistema. Poderá se iniciar agora um processo de discussões acerca do novo rádio?
 
A tecnologia In Band on Channel (Iboc), criada pela empresa norte-americana Ibiquity, defendida há pelo menos três anos por Hélio Costa – em consonância com a escolha dos radiodifusores – foi descartada no final de dezembro pelo próprio ministro da seguinte forma: "Os mais recentes testes do rádio digital, realizados na cidade de São Paulo pela Universidade Mackenzie, concluíram, em julho último, que o Iboc, em ondas médias, apresenta sérios problemas de propagação, com áreas de sombra maiores do que as que são observadas no sistema analógico" (leia aqui).
 
Mais do que ampliar o tempo de testes para observar certas limitações tecnológicas, entidades relacionadas ao movimento pela democratização da comunicação defendem que seja criado um espaço para pensar o rádio digital com a dimensão que a digitalização oferece – que vai muito além da qualidade de som, uma vez que pode incorporar dados, voz, interatividade, além de abrir espaço para maior número de rádios, democratizando ainda mais o espaço.
 
De acordo com o coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), jornalista Celso Schröder, para haver nexo com a convergência, esse ambiente de debates deveria existir nos mesmos moldes do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), pois ambas as tecnologias não diferem da rede digital proposta pelo FNDC (clique aqui para ler Comentários e proposições do Fórum sobre as propostas de Política de TV Digital a serem implementadas pelo Ministério das Comunicações).
 
“Participação histórica”
 
A retirada da defesa do ministro Hélio Costa sobre o padrão Iboc pode significar um fôlego, uma brecha para que se implante um processo de debates sobre a digitalização do rádio no Brasil. “Temos que insistir na rede pública e única, na idéia da convergência, do controle público. Qualquer outra saída não é inteligente, assim como as características do Iboc, porque são medíocres, corporativas, de segmentos que não dão conta da dimensão dessa tecnologia”, destaca Schröder.
 
José Luiz Sóter, coordenador-executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), enfatiza que o recuo de Hélio Costa, porém, não foi político, mas um recuo técnico. “Ele embarcou em uma versão que lhe foi apresentada, sobre as vantagens de um padrão que, quando foi experimentado, mostrou que elas não existiam”, constatou Sóter. Segundo ele, agora é a oportunidade de aproveitar as restrições técnicas apresentadas no Iboc para defender inclusive um padrão que atenda as deficiências que foram constatadas. “Cabe a nós pautar uma política para o rádio digital, uma definição que atenda os interesses nacionais na questão da comunicação radiofônica”, manifesta.
 
Schröder salienta que o debate do rádio digital nunca existiu, a não ser sobre sua tecnologia. Sóter justifica ainda que para esse novo rádio atender às necessidades de um país com as dimensões continentais, como é o Brasil – onde existe diferenças demográficas, topográficas, culturais – há necessidade de um amplo debate sobre um novo modelo. “Esse debate tem que ter a participação dos acadêmicos, pesquisadores, da indústria desses equipamentos e também dos movimentos sociais organizados que têm participação histórica sobre a questão do desenvolvimento da comunicação no país”, assegura Sóter.