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Fonte: Tele.Síntese
[02/10/09]
Uma tecnologia nacional para o Rádio Digital - por Hilton Alexandre
Hilton Alexandre é radiodifusor de emissora AM no
interior do Estado do Rio de Janeiro. Economista e advogado, atua há 30 anos no
setor. É presidente da AERJ – Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado
do Rio de Janeiro.
Após seis anos de testes e debates sobre o Rádio digital, apenas um consenso
sobrevive: O Rádio tem que se digitalizar para sobreviver à convergência das
mídias que se aproxima. As vantagens para o Rádio são mais visíveis nas
emissoras de Amplitude Modulada, pois a qualidade de áudio tem uma melhora bem
perceptível, mais do que nas de Freqüência Modulada. Para ambas o ingresso na
tecnologia digital poderá trazer mais serviços agregados.
Como radiodifusor de AM e apaixonado pelo serviço que ela presta à comunidade,
cultivo uma preocupação quanto ao seu futuro. Primeiro pelas crescentes
perturbações e ruídos que se alastram nos grandes centros, tornando em algumas
áreas o AM inaudível; segundo, pelas mudanças na geografia das cidades e nas
características do solo em volta dos parques transmissores que prejudicam a
propagação das Ondas Médias. Por fim, a péssima qualidade dos receptores
colocados à disposição dos consumidores, na maioria chineses, via Paraguay, não
conseguem sintonizar todas as emissoras AMs.
As Tecnologias apresentadas
Até hoje chegou ao país de forma mais concreta apenas duas tecnologias para o
Rádio Digital: O DRM e o IBOC. Não pretendo me aprofundar tecnicamente neles,
mas pondero que as duas tecnologias não servem para o radiodifusor brasileiro
que opera na faixa das Ondas Médias. Elas têm sua irradiação baseadas na
plataforma de AM, que pelos motivos comentados anteriormente, sofrem
interferência, com ruídos e chiados no analógico e no digital ficariam mudos. O
IBOC e o DRM também apresentam os problemas da transmissão simultânea, na mesma
faixa, do analógico e do digital, um atrapalha o outro. Levando em consideração
que seriam necessários pelo menos dez anos para que houvesse a transição
completa pelo consumidor do analógico para o digital, teríamos uma década de
transmissão ainda pior no Rádio AM analógico e um Rádio AM Digital cheio de
problemas.
O analógico e o digital não conseguem conviver com qualidade na mesma banda.
Acredito que a audiência acabaria por debandar para outro serviço. A solução
seria uma transição para uma freqüência livre onde o digital operaria "full",
enquanto continuaria com a transmissão analógica até o momento da transição
final. O AM poderia ir para os canais 5 e 6 da TV analógica (76 MHz à 88 MHz), e
as FMs migrariam para onde? Parece que essas tecnologias estão condenadas pela
transição.
Uma Tecnologia Nacional
A TV enfrentava também os mesmos problemas do Rádio, a atual faixa levava
dificuldades para a migração, os dirigentes e engenheiros de televisão foram
buscar o caminho mais apropriado tecnologicamente e politicamente para a
migração. O Rádio começou a discutir o sistema digital bem antes da TV no Brasil
e ainda não chegou a nenhuma conclusão.
Venho defendendo uma guinada no rumo das discussões do Rádio Digital. Cada vez
mais me convenço que devemos seguir o exemplo bem sucedido (na migração) da TV
Digital. O Rádio deve ocupar uma freqüência consignada, nova, livre, e aos
poucos ir fazendo a sua migração, sem prejudicar o analógico, sem apressar o
pequeno e distante radiodifusor.
Imaginemos se o Rádio utilizasse uma nova freqüência, com seu transmissor
digital “full”, podendo fazer seus ajustes, testes e investimentos na velocidade
da sua praça e nível de exigência dos seus consumidores, este é o ambiente ideal
para a migração.
Continuando o exercício de criarmos em nossas mentes o ambiente ideal para o
novo Rádio brasileiro, imaginemos que, além do Rádio ser digitalizado e se ele
pudesse dar um passo simultâneo à convergência das mídias? Ou seja, estar numa
freqüência que pudesse agregar outras formas de mídias. Existe um ambiente assim
para o Rádio, uma tecnologia de menor custo e nacional, desenvolvida no Brasil.
O Rádio Digital brasileiro poderia ocupar o canal 14 da TV Digital (470 MHz à
476 MHz). Esses 6 MHz abrigariam com tranqüilidade as Rádios de toda uma Região
metropolitana, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, transmitindo em
Digital, com todas as vantagens agregadas apresentadas pelo IBOC ou DRM. O custo
seria bem menor que as adaptações na transmissão simultânea. Para se ter uma
idéia, uma emissora que opera em 10 000 w de potência precisaria de algo em
torno de 400 w para ter a mesma cobertura, e isso com um transmissor em VHF (470
MHz) que não custaria muito mais do que R$ 8.000,00. É evidente que ainda
haveria o custo de antenas e software, mas com certeza bem mais baratos do que
das outras tecnologias.
O Receptor
A transmissão pelo canal de TV Digital é viável e possível, entretanto, os mais
críticos veriam dificuldades nos receptores, afinal é uma tecnologia nacional e
não há disponíveis receptores de Rádio nessa freqüência. É verdade, ainda não
existem, mas também até há bem pouco também não existiam receptores e setup box
para a TV Digital brasileira -- hoje já disponíveis nas lojas de todo o país. O
receptor viria naturalmente, pois o mercado nacional é significativo no consumo
de eletroeletrônico. Os países do Mercosul (Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai)
e ainda Peru, Bolívia e Venezuela que adotaram o padrão brasileiro de TV
Digital, iriam com certeza nos seguir no Rádio Digital também.
Convergência
No momento em que a TV e o Rádio estão em desvantagem na tendência de
convergência de mídias, com perspectivas de perda de espaço para as Teles e a
internet, a união dos dois meios de comunicação numa mesma freqüência, permitirá
que o Rádio e a TV compartilhem as recepções em portáteis, celulares e
televisores de última geração. Essa união fortaleceria a radiodifusão livre e
gratuita do Brasil.
As Vantagens
A possibilidade de abrigar as Rádios Digitais num canal de TV Digital só traria
vantagens ao país: teríamos resolvido a transição do Rádio Digital,
permitiríamos que cada radiodifusor fizesse o investimento à seu tempo e
necessidade, uniríamos a radiodifusão livre e gratuita e, ainda, estaríamos
gerando emprego e exportando para o mundo a tecnologia.
Ainda é cedo para prevermos para onde caminhará a digitalização do mais popular
e querido meio de comunicação, pois os “lobbies” estão se acotovelando para
conquistar o segundo mercado mundial de radiodifusão, que é o Brasil, só
perdemos para os EUA. O que me alegra é que as autoridades responsáveis pela
decisão estão se portando de forma exemplar, cautelosos como a questão exige e
interessadas na melhor solução e no menor tempo possível e responsável, aliás,
agindo até mais interessadas do que muito radiodifusor brasileiro.