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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[14/04/10]
Digitalização pode ser ruim para pequenas emissoras - por Mariana Tokarnia
Quais são os modelos de rádio digital em teste no Brasil? O que eles podem
oferecer? Quais as vantagens e desvantagens de cada um deles? O que a sociedade
deve exigir? Essas foram algumas das questões levantadas pelo engenheiro e
pesquisador do CPqD Takashi Tome, nesta terça-feira (13), no III Seminário de
Legislação e Direito à Comunicação promovido pela Associação Mundial de Rádios
Comunitárias (Amarc). Para ele, os padrões avaliados atualmente (HD Radio/Iboc e
DRM) no país podem dificultar a existência das pequenas emissoras. O seminário,
que vai até quinta-feira (15), reúne radialistas comunitários, acadêmicos e
movimentos sociais, com o objetivo de discutir um modelo de comunicação que
garanta a democratização e o acesso aos meios.
A Rádio Digital, neste contexto, não poderia estar fora da pauta, principalmente
após o lançamento da Portaria 290/2010, que institui o Sistema Brasileiro de
Rádio Digital (SBRD). O documento aprovado pelo governo recebeu várias críticas
e não esclareceu as dúvidas da sociedade. Uma delas diz respeito a falta de
clareza sobre o modelo a ser adotado. Desde o início dos testes, o HD Radio/Iboc,
modelo da empresa estadunidense Ibiquity e o DRM (Digital Radio Mondiale),
utilizado em alguns países da Europa, Índia e Rússia, tem dividido as opiniões e
posições de empresas e setores da sociedade civil.
Para Takashi Tome é difícil falar em um modelo ideal. “Não podemos defender um
sistema ou outro. Devemos agora colocar as nossas demandas e desejos e exigir
que sejam atendidos”, diz. Ele explica que o HD Radio/Iboc possui desvantagens
em relação a repartição do espectro. A digitalização de um sinal analógico
acarretaria um aumento do espaço ocupado por ele. Quando atua em ondas em FM,
ocorre uma duplicação do espaço antes ocupado. Para ondas AM e OM, a transição
fica mais complicada, já que o espaço é triplicado e isso faz com que ondas
“vizinhas” não consigam se digitalizar. A escolha pelo padrão estadunidense
seria vantajoso para grande emissoras, que garantiriam um maior espaço de
atuação.
Por sua vez o DRM, ocupa menos espaço na digitalização, ocorrendo até mesmo uma
redução do espaço ocupado no espectro quando se trata de ondas em FM. No caso
das AM, o espaço é mantido. Uma vantagem seria uma maior quantidade de
emissoras, uma vez que haveria mais lugar no espectro. No entanto, mais uma vez,
o modelo não se faz satisfatório para pequenas emissoras comerciais ou rádios
comunitárias que, por possuírem baixa frequência, se tornariam inaudíveis com um
espaço reduzido. Outro fator excludente para rádios de menor porte é o custo da
digitalização, que varia entre US$ 35 mil e US$ 90 mil, considerados os dois
modelos. “Por isso, não vejo na digitalização nenhuma vantagem para a
democratização”, afirma Tome.
Comunitárias
Compartilhando dessa opinião, Cláudia Neves, radialista comunitária da
Heliópolis, em São Paulo, acredita que a digitalização das rádios em nada vai
beneficiá-los: “O nosso sinal ficaria péssimo se digitalizado e as grandes
emissoras ainda aumentariam o delas”. Cláudia foi ao seminário se informar. Ela
diz que em São Paulo, as rádios comunitárias estão fragilizadas pelas
dificuldades de sobrevivência, mas que pretendem se mobilizar para o tema da
digitalização.
O mesmo ocorre no Pará. O também radialista Antônio Marques fala sobre as
condições de sua emissora, em Tucuruí. Os problemas, comuns as rádios
comunitárias como um todo, começam com a lei e o decreto que regulamentam essas
emissoras (Lei 9.612/ 98). O alcance máximo permitido, de 1Km de raio, não é
suficiente para atender as demandas da comunidades. “A discussão ainda é
medíocre e quase não existe”, diz ele referindo-se ao seu Estado.
Para o professor da Faculdade de Comunicação da UnB Fernando Paulino “deve
haver, a partir de agora, uma maior preocupação e mais debates em torno do
aumento no número de canais, com o alcance de sinais e com o acesso de rádios
públicas e comunitárias. O território brasileiro é muito grande e existe um
grande número de rádios comunitárias. Elas devem ser consideradas”.
Takashi Tome assume que um modelo adequado seria um desenvolvido para o Brasil.
Levando em conta as nossas necessidades específicas. Mas, infelizmente, isso
esbarraria em um grande obstáculo: “Falta de massa crítica”, constata. Ele
explica que aqueles que seriam capazes de desenvolver o sistema estão envolvidos
com a TV Digital. “Precisamos então ser realistas”, diz. Segundo Tome, a solução
é que a sociedade trace claros objetivos para uma rádio digital e que façam
disso uma exigência. Ele menciona alguns objetivos que devem ser buscados:
melhor qualidade de som, interatividade, maior número de emissoras e pouca
interferência.