WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Rádio Digital --> Índice de artigos e notícias --> 2010
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: Coletivo Intervozes
[23/04/10]
Organizações reclamam participação no rádio digital - por Mariana Tokarnia
Críticas quanto à falta de debates públicos na definição da política e da
tecnologia para o rádio digital no país levaram 11 organizações sociais a
lançarem manifesto conjunto. Elas pedem um modelo que atenda às necessidades
brasileiras.
A Portaria 290/2010, que marca a criação do Sistema Brasileiro de Rádio Digital
(SBRD), provocou a reação da sociedade civil desde que foi publicada no Diário
Oficial, em 31 de março. As críticas que vinham sendo feitas quanto à falta de
debates e de transparência por parte do Governo Federal vieram à tona num
manifesto da sociedade para defender um sistema que atenda as necessidades
brasileiras. O documento, assinado por 11 entidades, busca também apontar
diretrizes para futuras ações.
“As entidades tiveram unidade em questões fundamentais nessa carta pública. Um
veículo como o rádio, que tem grande penetração na sociedade, merece atenção e
debate amplo”, ressalta Arthur William, integrante do Intervozes. Segundo ele, o
Governo Federal não têm dialogado de forma eficiente com a sociedade.
Atualmente, o Ministério das Comunicações realiza testes e estudos com dois
modelos de rádio digital: o HD Radio/Iboc, de propriedade da empresa
estadunidense Ibiquity, e o DRM (Digital Radio Mondiale), desenvolvido por um
consórcio internacional e adotado em alguns países da Europa, Índia e Rússia
(ver aqui matéria sobre os estudos). Ambos os modelos apresentam vantagens e
desvantagens para o Brasil. Os resultados dos testes do primeiro já foram
divulgados, enquanto os do segundo não foram anunciados, embora os estudos já
estejam avançados.
Isso levou ao grupo colocar como um dos pontos centrais da carta, a
transparência e o controle social. De acordo com o documento, “a migração do
rádio brasileiro do padrão analógico para o padrão digital e sua integração na
convergência tecnológica é uma política pública de interesse do conjunto da
sociedade brasileira (...). Portanto, esta política pública deve ser construída
de forma amplamente democrática, ouvindo o conjunto da sociedade e garantindo
ferramentas de participação popular e controle público”.
Além disso, o documento enfatiza a ampla participação do rádio no cotidiano dos
brasileiros e a importância da digitalização. Para o conjunto de entidades, o
SBRD deve garantir a diversidade, a educação e a cultura, além de possuir um
baixo custo. O documento ressalta ainda que são necessários debates e reflexões
rigorosos, pois uma conduta “automática e sem aprimoramentos tecnológicos”
poderá não atender a realidade do País e ter sérias consequências.
“O que estamos buscando é a constituição de um grupo que tenha acesso às
análises, aos resultados dos testes e estudos dos dois modelos”, defende a
professora Nélia Del Bianco, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom ). “Nenhum dos recursos disponíveis
atendem plenamente as necessidades brasileiras. Serão necessárias adaptações. O
modelo escolhido permitirá adaptações? Isso precisa ser considerado”, afirma.
William, integrante do Intervozes, destaca ainda que “o processo de escolha do
padrão está ocorrendo com base em aspectos técnicos. É preciso que ocorra também
no âmbito político”. De acordo com ele, as preocupações estão centradas nas
tecnologias e não nas políticas públicas de criação de mais canais e com a
diversidade de programação. “Essas questões precisam ser melhor discutidas. Não
se pode ceder a pressões e aprovar um modelo ou outro”, argumenta.
Próximos passos – A proposta que segue à divulgação da carta é a formação de um
Grupo de Trabalho para levantar todas as dúvidas e necessidades dos diversos
setores da sociedade civil. A partir daí, a idéia é criar um diálogo direto com
o Ministério das Comunicações. A intenção é garantir mais informações sobre o
SBRD e garantir participação da sociedade na definição dos rumos. “Queremos ser
reconhecidos como atores sociais nesse processo”, diz o presidente da Associação
das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), Orlando Guilhon.
Outro ponto defendido na carta é que o SBRD torne-se uma lei. Segundo Guilhon,
isso levaria o assunto ao Congresso Nacional e o tornaria política pública. Ele
acredita que essa seria uma forma eficiente de garantir que temas como
pluralidade, diversidade e qualidade fossem debatidos. Guilhon lembra ainda que
“esse é um ano difícil, é ano eleitoral. Ou as políticas públicas já foram
aprovadas, ou serão cozidas em banho maria. Agora vai depender do nosso
trabalho”.