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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação - Origem:
Valor Online
[18/02/10]
Governo pode adotar dois sistemas de rádio digital para o Brasil
O governo federal poderá adotar os dois modelos em avaliação como padrões de
rádio digital, apesar do país estar fazendo testes comparativos entre o
americano, conhecido como In-band on-channel (Iboc), e o europeu, o Digital
Radio Mondiale (DRM. Diferentemente do que ocorreu com a TV digital - em que o
modo japonês foi o único escolhido -, os dois modelos de rádio digital poderiam
coexistir com viabilidade econômica, embora comercialmente um deva se sobrepor
ao outro. Politicamente, a saída agradaria tanto às emissoras que já investiram
no modelo Iboc, quanto aos partidários do modelo DRM, que é livre de royalties.
Para tomar esta decisão, o Ministério das Comunicações avalia a publicação de
uma portaria com parâmetros que não restrinjam o mercado a um só modelo. O
ministro Hélio Costa quer resolver a questão antes de deixar o governo, até o
fim de março.
O único fabricante americano do Iboc, que já fornece sistemas digitais a
emissoras brasileiras, é o consórcio Ibiquity, que cobra royalties pelo uso.
Algumas das 4,5 mil emissoras comerciais de AM e FM já adquiriram equipamentos
para migrar do modelo analógico para o digital. A principal vantagem do Ibiquity
é a certeza das emissoras em digitalizar-se mantendo o mesmo canal (número no
dial). Mas governo e empresas têm restrições quanto aos royalties cobrados.
Um grupo de técnicos e universidades ainda mantém os estudos do modelo DRM. Se
os testes provarem que o modelo europeu também permitirá que as rádios mantenham
os canais de transmissão - questão pétrea para as emissoras -, então a discussão
comercial esquentará, porque o modelo europeu não cobra royalties. O problema,
porém, seria que as empresas que compraram o Ibiquity já gastaram, em média, R$
150 mil pelos equipamentos, e, portanto, preferem o modelo americano. Nos testes
já encerrados, o Ibiquity teve problemas de eficácia em ondas médias (AM) e
curtas (OC e OT). Para FM, são perfeitos.
Pode não ser viável economicamente, contudo, produzir receptores de rádio que
aceitem os dois modelos, Ibiquity e DRM. Por isso pode haver segregação entre os
aparelhos receptores AM/FM e os específicos para ondas curtas.
No caso das ondas curtas, o DRM já provou ser mais vantajoso, com grande ganho
de qualidade de som e livre das frequentes interferências na banda. A aceitação
pelo governo dos dois modelos poderia permitir que essas emissoras de OC e OT
transmitissem em sistema diferente das AM/FM. Daí a possibilidade de coexistirem
ambos os modelos de rádio digital no país. A hipótese não é absurda, haja vista
que existe hoje, no Brasil, 1,5 aparelho receptor de rádio por pessoa e que as
ondas curtas têm um mercado bastante específico.
Como o sistema de rádio digital é, em termos gerais, mais barato que o da TV
digital - em que foi definido o padrão japonês -, a possibilidade de haver mais
de um modelo não restringiria o potencial econômico para ambos os sistemas
conviverem. No caso da TV, a multiplicidade de modelos reduziria perspectivas de
crescimento e exportação de infraestrutura e aparelhos receptores para países
vizinhos.
Antes férrea defensora do Ibiquity, a Associação Brasileira das Emissoras de
Rádio e Televisão (Abert) espera o encerramento dos testes do DRM para
apresentar sua posição final. "A única posição em que a associação é irredutível
sobre a rádio digital hoje é a previsão de as emissoras manterem o mesmo canal
de transmissão", diz Luis Roberto Antonik, diretor-geral da Abert. "Defendemos
essa ideologia e não necessariamente um padrão"
Pela rádio digital, o usuário poderá ter, além de maior qualidade de som,
serviços agregados, como a possibilidade de ouvir podcasts, interagir na
programação e receber imagens e informações no visor do aparelho.