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Fonte: Convergência Digital
[08/03/10]
Rádio Digital: Preferido pelos técnicos, DRM sofre ataques do Iboc - por
Luís Osvaldo Grossmann
Até o final deste mês será escolhido o padrão de rádio digital que será adotado
no Brasil. E embora poucos apostassem nisso há apenas alguns meses, tudo indica
que o país vai ficar mesmo com o sistema europeu Digital Radio Mondiale, ou DRM.
Pelo menos é a previsão de quem acredita numa decisão técnica, pois algumas de
suas características teriam desbancado o antes “preferido” In Band on Channel,
ou Iboc, o padrão americano.
Essa impressão também parece ter chegado a Robert Struble, o presidente da
iBiquity Digital Corporation, empresa proprietária da tecnologia Iboc. Na semana
passada, ele distribuiu uma “carta aos amigos brasileiros” na qual procura
reagir a alguns dos argumentos a favor do DRM e destacar as principais
qualidades do sistema americano, também chamado de HD Radio, visando “esclarecer
algumas concepções incorretas” sobre a tecnologia.
Struble procura atacar um dos principais argumentos repetidos contra o Iboc, de
que se trata de um padrão proprietário e que exige o pagamento de royalties. Ele
lembra que embora seja tratado como padrão “aberto”, o DRM também cobra direitos
pelo desenvolvimento tecnológico.
Para acadêmicos ouvidos pelo Convergência Digital, a diferença estaria na
transparência. Por ser um consórcio de várias emissoras europeias, o DRM não
faria distinção na cobrança, enquanto a iBiquity, como empresa, possa dar
tratamento diferenciado a um ou outro fabricante.
Para além das discussões de royalties, a principal força do Iboc está na maior
variedade de equipamentos, especialmente receptores, algo que mesmo os
defensores do padrão europeu reconhecem. Na carta, o presidente da iBiquity
dispara que “se o sistema de DRM for escolhido para o Brasil, a implementação de
serviços digitais será postergada, no melhor dos casos, em alguns anos na medida
em que os produtos comerciais sejam desenvolvidos e, no pior dos casos, será um
fracasso”.
Ameaças à parte, parece estar se formando um consenso técnico de que o DRM é
mais adequado ao Brasil. E o que pesa aí é a capacidade desse padrão atender a
diferentes necessidades do país. Isso porque embora ambos tenham sido bem
sucedidos nas experiências de transmissão em FM, o Iboc – segundo os
especialistas ouvidos pelo Convergência Digital – não atende a transmissão em
ondas curtas e tropicais.
Assim, embora as áreas urbanas possam ser plenamente atendidas com qualquer dos
dois sistemas, o Brasil não pode fugir da realidade de que precisa da
transmissão em ondas curtas para atender a grande região Amazônica. “O sistema
europeu tem maior flexibilidade porque vai além da AM e FM, além de ter a
vantagem de precisar de faixas de 96 Khz, enquanto o padrão americano precisa de
400 Mhz”, acredita o professor Lúcio Martins Silva, da faculdade de Engenharia
Elétrica da Universidade de Brasília, e que participou de testes com o padrão
europeu.
Mas se essa versatilidade na transmissão deixaria a vantagem com o DRM, é
reconhecido que o Iboc teve muito mais sucesso em atrair fabricantes de
receptores, o que permitiria a oferta de aparelhos de rádio digital mais
acessíveis – fato que tampouco pode ser descartado para um país como o Brasil.
“Enquanto a iBiquity foi muito mais agressiva e conseguiu uma grande quantidade
de modelos de receptores para o sistema, o DRM não conseguiu mobilizar os
fabricantes do mesmo jeito”, diz o diretor da Faculdade de Tecnologia da UnB,
Humberto Abdalla Jr.
Há, no próprio Ministério das Comunicações, quem acredite que essa questão será
superada com a adoção do padrão pelo país – o que atiçaria fabricantes dos
aparelhos de rádio. De qualquer maneira, com o aparente “sucesso” do DRM a
questão dos equipamentos tem fortalecido uma mudança no discurso dos defensores
do Iboc. Tem se tornado comum ouvir que o governo deveria adotar uma “solução
neutra”, sem a opção direta por um dos padrões.
Nessa linha, o Ministério das Comunicações apenas baixaria regras com as
características necessárias a um sistema de rádio digital a ser adotado no
Brasil, especificações técnicas como canal de guardo e cobertura. Com isso, as
forças de mercado, leia-se as emissoras, se encarregariam de adotar o padrão
mais conveniente a cada uma.
O que pesa aí é o fato de que já há emissoras que fizeram a aposta no Iboc e
compraram equipamentos para a transmissão pelo padrão americano – sendo o
exemplo mais citado o da CBN, parte do sistema Globo de rádio. Não chega a
surpreender, portanto, que a Abert demonstre preferência pelo Iboc. É sabido,
porém, que não há unanimidade entre os radiodifusores. A turma do Sul do país,
por exemplo, quer que a escolha recaia pelo DRM.
Contra a linha da “solução neutra” reitera-se o argumento que ela, na prática,
acabaria beneficiando o Iboc – justamente porque o padrão americano foi mais
bem-sucedido entre fabricantes de equipamentos. Além disso, ao menos que se
invista em aparelhos que recebam sinais tanto de uma quanto da outra tecnologia,
os brasileiros que comprarem rádios Iboc não conseguirão ouvir a programação das
emissoras que transmitem em DRM, e vice-versa.
No Ministério das Comunicações, o Convergência Digital ouviu que não é prudente
acreditar que o governo vai optar por essa saída salomônica. Os testes com ambos
os padrões já estão concluídos e a pasta agora prepara o documento que será
apresentado ao presidente Lula. E a avaliação é de que essa saída “neutra” só
será escolhida caso o presidente opte por uma decisão política com o objetivo de
preservar aquelas emissoras que já investiram em equipamentos Iboc.
O que é certo, porém, é que depois de anos de discussão, a escolha se dará mesmo
neste mês. Quem garante isso é o calendário político. O ministro Hélio Costa,
assim como outros ministros que pretendem se candidatar nas eleições de outubro,
precisa deixar o cargo, no máximo, no início de abril.