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Leia na Fonte: Revista da SET
[Abr 2012]
Cenário da Radiodifusão - Conjuntura Tecnológica movimenta o setor da
radiodifusão - por Gilmara Gelinski
Revista da SET - Volume 22 - Nº 126 - Março e Abril de 2012
Promovido pelo Minicom, Abert e Anatel o seminário acontecerá em nove capitais
As mudanças na área de televisão são muitas e o impacto dessas mudanças se dá na
forma de criar, produzir, transmitir e assistir TV. A convergência trouxe uma
nova forma de produção. Agora, o desenvolvimento é para múltiplas plataformas
televisivas. Segundo Salustiano Fagundes, diretor da HXD, o mercado de
radiodifusão tem um grande desafio pela frente. Para ele a televisão é uma
indústria em ruptura. "Cada vez mais vemos que a experiência televisiva não vai
acontecer apenas nos aparelhos de TVs, mas em vários dispositivos tecnológicos e
muitas vezes de forma simultânea, como nos casos em que se usam aplicativos de
segunda tela".
Para Fagundes, a televisão como conhecemos hoje não irá desaparecer, assim como
o rádio não desapareceu. Mas a audiência, tal como a conhecemos, certamente, irá
desaparecer. Entender que essa transição já começou e se preparar adequadamente
para se posicionar frente às mesmas são ações imprescindíveis para as empresas
que querem permanecer líderes nesse mercado.
De acordo com o superintendente de comunicação de massa da Anatel, Marconi
Thomaz de Souza Maya, o balanço mais recente apresentado pela Anatel da
cobertura da implantação da TV digital no Brasil mostra que estão em operação
107 emissoras de TV digital, 46 municípios com TV digital, 480 municípios
cobertos por pelo menos um canal digital, a população coberta totaliza
87.712.775, que corresponde a 45,99%, e o número de domicílios atendidos é de
30.758.712 equivalente a 45,53%.
O principal benefício da adoção do ISDB-T foi a inserção das emissoras no
contexto da revolução digital. Porém, apesar dos avanços no cronograma de
digitalização das emissoras nos últimos quatro anos, Fagundes não acredita no
cumprimento da meta estabelecida para o switch off, em 2016. "Basta analisarmos
o que aconteceu no cronograma de outros países que não tinham as dimensões e os
desafios continentais do Brasil. Mais de 80% da população dependem do sinal
analógico, pois ainda possuem TV de tubo. Mesmo com o crescimento da economia, a
renovação dos aparelhos de TVs está sendo feita de forma gradual".
Os investimentos das emissoras necessários nesse processo precisam ser
considerados e a esperança é que o governo desenvolva programas de incentivos
para acelerar esse processo, pois quaisquer que sejam as ações adicionais
criadas para apoiar o cumprimento do switch off são importantes. Crescente em
todo mundo, o movimento do mercado de TV conectada precisa ser observado de
perto. No Brasil, em 2011, ele representou 24% das vendas de TV de tela plana e
para esse ano a previsão é que chegue a cerca de 40% da produção. Isso
representaria um parque instalado de aproximadamente 6 milhões de TVs
conectáveis no país em 2012. Segundo Salustiano, trata-se de um número bastante
expressivo e é natural que as marcas e as próprias empresas de radiodifusão
comecem a enxergar essa tecnologia como mais um canal para entrega de conteúdos.
Para Raimundo Lima, diretor técnico e operações do SBT, "o mercado na verdade
sempre vem de encontro com as necessidades da radiodifusão. A demanda pela
tecnologia é muito mapeada pela vontade do telespectador. Quando nós temos um
olhar internamente da melhoria da nossa produtividade interna, temos uma
consideração diferenciada do mercado. Às vezes o próprio fabricante acaba
moldando o produto para atender a demanda. Cada vez temos menos fabricantes
oferecendo sistemas fechados. As empresas começaram a perceber que o sistema
aberto é mais eficaz para implantação. Atualmente, há uma mudança neste mercado,
porque os sistemas que não conversam com o parque que a emissora tem ou não
permitem se agregar a outros dispositivos estão se tornando inviáveis".
A ruptura, citada por Salustiano Fagundes, é uma preocupação mundial. Os
radiodifusores passam pelas mesmas inquietações em todos os cantos do planeta. E
a grande preocupação deles é com o caminho que a TV aberta vai seguir, caso o
setor não se una.
O movimento FoBTV demonstra essa preocupação e a vontade de muitos em mudar esse
rumo para unificar mundialmente o setor da radiodifusão. Em novembro a
presidente da SET Liliana Nakonechnyj participou do encontro realizado em
Xangai. Representante do Brasil no evento, ela e os demais participantes saíram
de lá com a missão de levar para seus países uma mensagem de otimismo e
apresentar a iniciativa, que apesar de sonhadora, é essencial, pois leva em
consideração a próxima geração mundial de televisão. Seu idealizador é o
presidente do comitê ATSC, Mark Richer e está à frente do sistema americano de
TV digital.
Mensagem FoBTV "Hoje os radiodifusores têm muitos desafios. Todos sabem que o
espectro está sendo muito disputado no mundo inteiro, o tipo de mídia está
mudando de forma muito drástica, pois além da TV em tempo real, existe a questão
de ver o conteúdo gravado no momento determinado pelo telespectador, e as
múltiplas telas. Esse é um movimento mundial, e é verdade que o radiodifusores
do mundo inteiro têm um expertise muito grande de prover conteúdo de alta
qualidade que interessa a muitas pessoas.
Diante dessas circunstâncias nós percebemos a necessidade de uma nova geração de
TV radiodifusora que venha atender aos anseios da população. Sabemos que os
sistemas existentes na televisão foram feitos para atender hábitos existentes e
é preciso atualizá-los.
Aplicativo de interatividade criado pela TOTVS
Aplicativo de interatividade criado pela TOTVS
Aplicativo de interatividade criado pela HXD
Aplicativo de interatividade criado pela HXD
A proposta do comitê é definir uma nova geração de sistema que possa juntar
todas as emissoras e iniciativas de televisão do mundo inteiro, juntando novas
tecnologias que possam estar preparadas para a evolução dos hábitos de consumo.
O sistema precisa ser: Wireless e suportar os dispositivos móveis em muitos
lugares já é assim, mas em outros ainda não nos Estados Unidos, por exemplo, a
geração atual foi prevista para fixo e a mobilidade foi integrada de uma forma
muito rudimentar; Ser escalável, ou seja, para todas as pessoas; Ter
características locais uma das grandes vantagens do radiodifusor é fazer
produtos locais ; Ser real time e também possibilitar ver o conteúdo passado
gratuitamente.
Um dos pontos da próxima geração que precisa ser pensado é o dispositivo em
movimento. O grande objetivo é ter disponível, no dispositivo tablet, por
exemplo, a televisão local do país onde estiver além da banda larga. Para que
isso aconteça a nova geração tem que ser algo configurável, adaptável e
escalável, até mesmo em função da canalização, que é diferente em cada país.
Isto é, ela precisa ser eficiente em termos de espectro e interoperável com
produto de broadband para poder juntar esses dois mundos.
O objetivo é difícil, mas é algo imprescindível para que os radiodifusores
sobrevivam às tsunamis que há décadas estão acontecendo. No Brasil a realidade é
um pouco mais confortável em função da importância da TV aberta, muito maior do
que em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a TV aberta era super
valorizada, hoje é perceptível a difícil situação dela. As existem e são
diferentes em cada país.
Além dos dispositivos móveis, estão sendo consideradas outras tecnologias. Com o
aumento das telas, que estão cada vez maiores, é necessário tecnologias para
melhorar a qualidade de imagem. No nosso sistema o problema é a definição do one
seg que é muito pequena. As telas pessoais aumentaram, porém não há qualidade
suficiente on the movie. Talvez seja esse o maior desafio nos próximos anos",
finaliza a mensagem, a presidente Liliana.
A pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra
que as TVs aberta e por assinatura estão no mesmo patamar de receitas.
Considerando as atividades de distribuição, programação e produção, as receitas
da cadeia do audiovisual da TV por assinatura, de 2007 para 2009, tiveram um
crescimento de 49%. Em 2009 as receitas totalizaram R$ 14,6 bilhões. No mesmo
ano, as receitas das atividades de televisão aberta foram de R$ 15,7 bilhões,
com crescimento de 23,4% em relação a 2007. Os números mostram que em dimensão
de receitas, a TV por assinatura já faz frente à TV aberta.
Interatividade
Para incentivar a interatividade e impulsionar produtos destinados ao Ginga, o
governo optou pela obrigatoriedade do middleware embutido em 75% dos televisores
nacionais até o final de 2013 pelo Processo Produtivo Básico (PPB). Em 2014 esse
percentual deve subir para 90%. De acordo com o diretor de interatividade da
SET, David Britto, é a primeira vez no Brasil que um produto de eletrônica de
consumo passou a ter uma obrigação de software. Embora a obrigação esteja
valendo para 2013, a repercussão dessa medida do governo já começa em 2012, pois
o processo da produção já começou.
Existe uma perspectiva de mercado, não oficial, de que atualmente existem dois
milhões de televisores com Ginga no Brasil. Com o PPB a expectativa é que esse
número, até o final de 2012, passe a ser de cinco milhões e até o final de 2013
chegue a 13 milhões. David chama atenção para o impacto que essa medida terá,
pois o setor terá efetivamente oferta de produtos e volume. Com isso os
radiodifusores precisam vislumbrar como irão trabalhar esse mercado promissor.
Para Raymundo Barros, diretor de tecnologia da SET, "existe a questão do perfil
A e perfil B. Há anos estamos desenvolvendo experiências no perfil que está
disponível, que é muito básico. Tendo em vista a era do tablet, over de top,
smartphone, o que temos para trabalhar é ultrapassado e não será atrativo. Assim
como os fabricantes tem a obrigatoriedade de embutir o Ginga, nós tínhamos a
obrigação de conseguir construir um acordo entre radiodifusores para que
possamos ter, se não em 2013, mas em 2014, uma ponte entre os mundos broadband e
broadcast, para termos acesso a dispositivos externos. Se não fizermos isso, não
teremos sucesso na questão interatividade".
Na concepção de Salustiano, a interatividade é uma premissa básica para manter
as novas audiências, mas só terá um efeito positivo se o conteúdo onde ela
estiver inserida for atrativo. Também é preciso estar atento que as redes
sociais estão cada vez mais presentes na experiência televisiva. Isso se deve ao
fato de que as audiências não querem apenas interagir, mas também participar
opinando sobre os conteúdos assistidos.
Do ponto de visto de radiodifusor, Raimundo Lima do SBT, levanta uma
problemática na produção de conteúdo de interatividade. "A exemplo da TV
conectada, existe a necessidade de fazer um aplicativo para cada marca de
televisor. Porque não há padronização na linguagem. Com a digitalização da TV no
Brasil, havia a sensação de que o Ginga seria a padronização da interatividade,
mas não, cada fabricante adotou o seu padrão. Com isso para fazermos essas
parcerias, os radiodifusores fazem um retrabalho de tempo e dinheiro".
As empresas HXD e a TOTVS/TQTVD estão investindo para criar produtos que atendam
o setor. De acordo com Salustiano, a empresa HXD começou a se preparar para
trabalhar com o ambiente de convergência e interatividade na TV no início de
2006. Em 2007, a empresa fez o primeiro case comercial para o Ginga na TV
Brasileira: o Habita TV. Nos anos seguintes foram trabalhados aplicativos para,
entre outras emissoras, TV Bandeirantes, TV Globo, TV Integração, além de
projetos para educação e entretenimento infantis e governo.
Em 2011 a HXD ganhou o Prêmio SET na categoria de Melhor Aplicativo de
Interatividade com uma solução feita para a área de jornalismo da TV Integração.
A TOTVS/TQTVD disponibilizou sua ferramenta AstroBox, incluindo a JVM da Oracle,
de forma gratuita para prover um ambiente de desenvolvimento completo de
aplicações Ginga no intuito de incentivar a formação de desenvolvedores de
aplicações e até mesmo a criação de laboratórios de interatividade dentro dos
radiodifusores. Acreditando na capacidade do middleware brasileiro, a empresa
investiu na construção de sua suíte de testes Ginga e a licenciou de forma
gratuita ao Fórum SBTVD. Este por sua vez trabalha junto com os radiodifusores e
fabricantes para publicar no segundo semestre a suíte de testes Ginga oficial do
SBTVD. Outro ponto de investimento é na nova geração de interatividade
envolvendo o produto Sticker Center (totalmente compliant com o novo padrão IBB
– Integrated Broadcast and Broadband do ITU-T). O produto terá no futuro suporte
à interatividade na segunda tela usando tablets e smartphones.
Para o diretor da TOTVS/TQTVD, David Britto, esse é o momento para começar a
trabalhar as massas. O número de televisores e fabricantes que incluem o Ginga
(NCL+Java) vem aumentando significativamente, este é o momento exato para que
todos os radiodifusores e suas redes afiliadas comecem um plano de divulgação
dos cenários e potenciais usos da interatividade. "Todas as áreas internas dos
radiodifusores precisam olhar detidamente a interatividade como uma oportunidade
para que os produtos dos anunciantes atinjam seus consumidores, inclusive com o
potencial do uso na segunda tela, fazendo o consumo da interatividade uma
experiência mais simples e direta, personalizada e integrada com o conteúdo.
Acreditamos no enorme potencial midiático e de convergência que o uso da
interatividade representa para os radiodifusores".
Atualmente tecnologias de interatividade estão sendo exploradas por empresas
como a Google, os fabricantes de TVs conectadas e logo terá a Apple. Atualmente
existem mais televisores com Ginga no mercado do Brasil do que com o Google TV
nos Estados Unidos. "Está na hora dos radiodifusores incentivarem, divulgarem e
usarem a única tecnologia que coloca o controle da interatividade exatamente nas
mãos deles próprios, sem depender de terceiros ou de plataformas proprietárias.
A escolha de como construir seu negócios em torno da interatividade e da
convergência é só do radiodifusor", alerta Britto.
Capacitação Profissional
Tendo em vista o caminho que segue a radiodifusão nacional com a transmissão
digital, TV mobile, interatividade, 3D, TV conectada, a criação e readaptações
de novos cursos de capacitação e especialização são fundamentais para que os
radiodifusores consigam adequar as tecnologias existentes aos novos padrões,
porém esta área está presa ao sistema analógico. Segundo Valdecir Becker,
diretor e coordenador pedagógico da entidade Cinemática Educacional, "a maioria
dos cursos oferecidos atualmente ainda prepara o aluno para a TV analógica,
unidirecional e desconectada. Poucas universidades conseguem acompanhar a
velocidade das mudanças tecnológicas e inserir os novos conhecimentos
necessários para dominar a produção de novos e modernos conteúdos".
Há uma grande deficiência de cursos profissionalizantes nessa área. Os cursos
existentes são de curta duração, que não conseguem formar ou habilitar um
profissional em todas as linhas de atuação, como operação das ferramentas
(câmeras, softwares, kits de luz), criatividade e visão artística. Para isso são
necessários cursos de média e longa durações que preparam o aluno para resolver
os problemas da produção, e não apenas apertar botões.
A produção nacional crescerá consideravelmente. Nos próximos cinco anos, em
função dos eventos esportivos, Copa do Mundo, Copa das Confederações e
Olimpíadas, a demanda terá um crescimento geométrico no Brasil. A nova lei
12.485 (antigo PL 116) também impulsionará o mercado de produção para televisão
fechada. "Produziremos para canais internacionais com exigentes padrões de
qualidade, que demandarão a sofisticação e a ampliação do nosso parque de
pós-produção. Para que todo este processo possa caminhar de forma adequada, a
formação da mão de obra qualificada terá que acompanhar o crescimento deste
segmento de mercado", explica Valdecir.
Na opinião do coordenador pedagógico, "com digitalização dos sistemas, a mão de
obra de maneira geral é deficitária. As empresas precisam manter programas
internos de formação de profissionais, uma vez que a universidade não consegue
entregar o aluno pronto para assumir grandes responsabilidades. Nos últimos anos
cresceu muito a demanda por serviços mais especializados, nivelados
qualitativamente com o mercado internacional. Porém o mercado brasileiro não
estava preparado para a demanda no tocante a quantidade de equipamentos
disponíveis e na formação da mão de obra para setores como direção de fotografia
e pós produção. A formação sempre se deu na prática e dentro das empresas, com
raros cursos de curta duração oferecidos por empresas de treinamento de
softwares. Nunca tivemos no Brasil uma sistematização deste tipo de formação".
Cenário acadêmico
O diretor de ensino da SET, Carlos Nazareth, e Frederico Rehme, membro da
diretoria de ensino, compartilham da mesma opinião no que se refere aos poucos
investimentos no meio acadêmico. "Infelizmente um número bastante significativo
de instituições que formam engenheiros na área de eletrônica, elétrica e
telecomunicações, não possuem cadeiras específicas para TV. Por este motivo,
muitas emissoras, fabricantes e empresas fornecedoras de equipamentos e serviços
são obrigadas a formar a própria mão de obra. Existem Instituições de Ensino
Superior (IES) que possuem bons cursos e muitas disciplinas que preparam os
profissionais para o nosso mercado, mas levando em consideração o tamanho do
Brasil e o número de empresas, precisamos avançar bastante em quantidade e
qualidade".
A parte de transmissão digital é uma novidade para TV, mas para o mercado de
telecomunicações a digitalização já aconteceu há muitos anos. Com relação à TV
conectada também não existem grandes barreiras, pois a tecnologia de redes IP já
está consolidada. O grande desafio é apresentar aos profissionais recém formados
as novas tecnologias no mundo da TV digital, para que eles possam associar os
fundamentos às aplicações no mercado de TV. Na visão de Nazareth, "o ponto mais
crítico é a parte ligada as tecnologias para produção em 3D. Este mercado é
muito novo e tem muitos itens que ainda podem ser explorados dentro e fora do
ambiente acadêmico, unindo profissionais da área de engenharia e artes".
À frente do Inatel, Carlos Nazareth explica que "muitas universidades,
institutos e faculdades que trabalham na área há muitos anos estão com seus
cursos e com a sua infraestrutura básica montada para atender o mercado. Porém
as mudanças ocorrem numa velocidade muito grande e nem sempre as IES conseguem
ter o mesmo ritmo de inovações apresentadas pelo mercado. Existem ilhas de
excelência no Brasil, mas que não conseguem atender toda a demanda. Além disso,
um número significativo de alunos formados nestas instituições migra para outros
mercados, como telecomunicações, automação industrial. É muito importante para o
mercado de TV que as empresas do setor se aproximem das universidades, pois
desta forma teremos cada vez mais instituições incluindo em suas ementas os
cursos necessários para formação de um bom profissional para atuar em
televisão". As universidades estão investindo nos equipamentos e softwares, que
estão muito mais baratos e acessíveis. Se anos atrás o aluno sonhava em
trabalhar em uma emissora de TV ou grande produtora para manusear equipamentos
profissionais, hoje, a prática começa no mesmo nível ou até mais elevada no meio
acadêmico. No entanto, para a maioria dos cursos de audio-visual do país, falta
vivência prática para elevar a formação à exigência do mercado. Outra questão
está no conteúdo. "Os cursos são generalistas. Um curso superior em audiovisual,
por exemplo, precisa ter na grade desde roteiro até direção de fotografia.
Assim, o aluno tem uma boa noção de todas as áreas, mas acaba não se
especializando plenamente em nenhuma. Essa especialização até agora acontecia
dentro das empresas", explica Becker.
Pensando no aprofundamento do conteúdo e prática, a entidade Cinemática
Educacional, em conjunto com a Universidade Cruzeiro do Sul, criou uma parceria
estratégica do ponto de vista pedagógico e dividiu as funções a Universidade
administra os alunos e emite o certificado de pós graduação, e a Cinemática
ministra as aulas, tanto teórico conceituais quanto práticas.
As áreas de direção de fotografia e de correção de cor foram umas das que mais
evoluíram neste cenário
As áreas de direção de fotografia e de correção de cor foram umas das que mais
evoluíram neste cenário
Recentemente os parceiros lançaram cursos de especialização lato sensu,
reconhecidos como cursos de pós graduação pelo MEC, focados na capacitação
prática nas áreas de direção de fotografia, correção de cor e roteiros
transmídia. Os primeiros cursos são mais técnicos, enquanto que o terceiro é
mais voltado para a criatividade. A ideia é capacitar profissionais habilitados
para resolver problemas cotidianos e criar produtos audiovisuais mais bem
acabados narrativa e esteticamente, dentro de uma emissora ou produtora.
Entre outras entidades, como Inatel, Mackenzie, Universidade Tecnológica Federal
de Ponta Grossa (UTFPR), Universidade Federal da Paraíba e do Rio Grande do Sul
também atuam nas áreas voltadas para TV. "O número de instituições na área de
engenharia que oferecem disciplinas específicas para TV é ainda pequeno, mas
cresce a cada ano. O cenário mais crítico é o da radiodifusão sonora, que nos
últimos anos sofreu com uma grande redução do número de instituições que abordam
em seus currículos as disciplinas específicas de rádio AM, FM ou digital",
lamenta Nazareth.
Conjuntura do Rádio
Esse ano o Rádio faz 90 anos no Brasil. Ele nunca teve uma (r)evolução
tecnológica como a que está ocorrendo agora. Tivemos momentos em que passamos da
Onda Média para FM com sinal estéreo e atingimos um nível em que dados são
transmitidos digitalmente via canais analógicos (RDS). Agora, a transmissão no
ar será digital. O Rádio, apesar de sua importância, está com o processo de
digitalização atrasado se comparado a da TV, mas os esforços crescem para que
sua digitalização aconteça brevemente.
O diretor de Rádio da SET, Ronald Barbosa, em seus artigos mostra constantemente
a importância do Rádio e nos dá um panorama deste universo. Questionado sobre a
realidade do Rádio brasileiro, ele diz que avaliar realidade deste meio de
comunicação é um exercício um tanto quanto pretensioso. "Da minha parte, uma vez
que a disparidade de situações e condições equivale à realidade do povo
brasileiro, essa avaliação no mínimo deveria regionalizar a questão. Após as
recentes pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), podemos
dizer, sem dúvida, que o povo brasileiro está alcançando melhor condição de
vida, inclusive com aumento da renda média familiar. Desta forma, muitos podem
pensar que isso extrapola a evolução tecnológica do Rádio e que estes vão direto
para outros meios como a internet".
Considerando a convergência, um grupo de pessoas defende que em um futuro
próximo a co-existência do Rádio com outros meios de comunicação é impossível.
Ronald prefere ser cauteloso e afirma que eles vão atender nichos diferentes que
tendem a se estabilizar com o passar dos anos. A Associação Brasileira de
Radiodifusores (Abra) acredita no potencial do mercado publicitário para o novo
rádio digital que está vindo. "Seguramente estamos falando de uma segmentação
diferente da que é atualmente observada. Hoje se transmitem programas para
diferentes classes da população na mesma programação. Amanhã teremos públicos
diferentes ouvindo e interagindo diferentemente por programação", explica
Barbosa.
Diferentemente da TV, o Rádio não reivindicará mais espectro do que já tem.
Independentemente se milhões de pessoas estão ouvindo e interagindo em sua
programação não haverá necessidade de mais faixas de frequência. Essa é uma
vantagem do Rádio, que por si só já demonstra uma diferença substancial, uma vez
que todos esses meios se utilizam de recursos escassos.
Estaremos numa nova era do Rádio, se considerarmos que a próxima geração de
receptores terá a tecnologia touchscreen e o áudio digital até mesmo nos rádios
com preços mais acessíveis para a população de baixa renda. Mesmo com receptor
digital mais barato, o público terá acesso à maioria das facilidades que a
digitalização permite, o que não ocorre hoje. Além disso, será mais fácil ter
áudio com qualidade em ônibus, trem ou metrô facilitando o acesso a informação
segmentada nesses transportes populares.
A maioria das emissoras de rádio terá que investir para ter acesso à tecnologia
digital. "Não sabemos ainda em que momento o Ministro das Comunicações definirá
um padrão para o Brasil, mas tenho certeza que todos os radiodifusores tirarão
proveito do novo modelo de negócio que surgirá".
De acordo com o secretário de serviço de comunicação de mídia eletrônica do
Minicom, Genildo Lins de Albuquerque Neto, existem duas tecnologias sendo
testadas, a européia (DRM - Digital Radio Mondiale) e a norte-americana (IBOC -
In Band-On Channel). O rádio já está em fase de conclusão dos testes. E agora
surgiu a tecnologia japonesa (ISDB-TSB - Integrated Services Digital
Broadcasting -Terrestrial Segmented Band) que tem como vantagens poder ouvir o
rádio pela televisão e ser a mesma tecnologia da TV, porém, sua desvantagem é
não ter AM e ele usa o canal 4 na transmissão digital.
A previsão é que em julho os testes com todos os sistemas sejam concluídos. A
partir daí, serão analisadas se as tecnologias são aplicáveis e compatíveis com
as necessidades do Brasil. A tecnologia escolhida terá que trazer melhores e
mais benefícios à população brasileira. Dentre esses benefícios está a produção
nacional de todos os equipamentos. Genildo afirmou saber sobre a ânsia que
existe pela escolha, mas que é necessária cautela. "Essa não é uma escolha
eminentemente tecnológica. Ela é uma decisão de política industrial brasileira".
Uma pesquisa recente elaborada por Nelia Del Bianco e Carlos Eduardo Esch, do
Laboratório de Políticas de Comunicações, da Universidade de Brasília, nos deu
importantes informações sobre o setor e indicam forte necessidade de incentivo
por programas governamentais para que a tecnologia esteja acessível à população
e também aos profissionais que estão envolvidos no dia-a-dia das emissoras, bem
como a indústria e o comércio profissional especializado.
Para Ronald, atualmente, o setor precisa de incentivos fiscais nos componentes e
produtos acabados a fim de que a indústria de transmissores e receptores possa
produzir competitivamente. Outra grande dificuldade para a indústria é trabalhar
sem definição do modelo do padrão do rádio digital brasileiro. Contudo, a
indústria de transmissores e de receptores tem mantido um bom diálogo com
governo e emissoras no sentido de fornecer equipamentos para testes nesse
importante momento.
O grande desafio é atender a demanda da população que a cada dia tem novos
produtos com formatos diferentes, tanto os equipamentos da radiodifusão na
geração de conteúdo quanto os equipamentos na recepção para o público em geral
deverão atender os requisitos dos dispositivos móveis que existem, a
interoperabilidade com diferentes plataformas, tudo isso com qualidade digital e
com as vantagens que a tecnologia dispõe.
Os radiodifusores estão empenhados no processo de digitalização do Rádio, tanto
que em 2010, a Abra enviou um ofício ao então Ministro das Comunicações, Hélio
Costa, sugerindo que ele encaminhasse algumas soluções para a rádio digital
antes dele deixar o ministério. É importante diferenciar o processo de
digitalização do rádio da definição de um padrão de rádio digital. Sem um padrão
é muito difícil investir no processo de digitalização.
O processo de massificação começará pelos receptores que tem mobilidade,
contemplando primeiro um grande público especialmente nos grandes centros. O
receptor fixo aguardará a massificação para a totalidade do público. Um grande
número de empresários já pensando no modelo de negócio a ser empregado no
serviço de radiodifusão. Todos estão investindo pesado na internet apostando que
a junção rádio-internet poderá gerar um bom modelo de negócio. Ao falarmos da
junção rádio-internet estaremos também trazendo para a conversa o satélite que
permitirá uma distribuição uniforme e promoverá uma diminuição na flacidez desse
mercado publicitário que envolve o setor do Rádio. Algumas emissoras de rádio
como a Bandeirantes, por exemplo, dão mostras de como esse modelo poderá ser
desenvolvido.
A transição do pós-produção
O professor Valdecir Becker nos dá uma aula sobre a transição analógica para
digital dentro do universo de pós produção. Com a transição da pós-produção
analógica para a digital, os meios de finalização se ampliaram de maneira
exponencial. Neste cenário de aumento de demanda, as áreas de direção de
fotografia e de correção de cor foram umas das que mais evoluíram e se
estabeleceram como atividades fundamentais nos mercados de publicidade, cinema e
televisão. O cinema atual é totalmente manipulado digitalmente, e dentre as
etapas de maior intervenção e criatividade está a de correção de cor.
A fotografia cinematográfica é dirigida em função da finalização como etapa
fundamental na obtenção dos resultados técnicos e estéticos exigidos pela obra.
Na publicidade, há décadas, a intervenção eletrônico/digital passou a ser um dos
componentes mais destacados do resultado final dos comerciais de TV. Na
televisão este fenômeno é mais recente no Brasil e teve a sua origem na
aproximação das produções televisivas com as produtoras de cinema, que por sua
vez foram influenciadas pelo mercado publicitário.
Em função da grande quantidade de diretores e produtoras de publicidade que
passaram a produzir filmes na chamada retomada do cinema brasileiro, este
processo já se deu dentro das chamadas novas tecnologias digitais. O passo
seguinte foi o começo da produção de dramaturgia para televisão, agregando o
padrão de finalização utilizado nas produções para o cinema. Essas produções
isoladas das produtoras de publicidade, feitas pelas grandes emissoras de TVs,
começaram a chamar a atenção pela diferença qualitativa, o que levou as redes a
buscarem se aproximar deste padrão técnico/estético, primeiramente, nas
minisséries e seriados, e depois em toda a linha de dramaturgia, incluindo todos
os horários das telenovelas e dos especiais dentro de outros programas de cunho
jornalístico.
As áreas de direção de fotografia e de correção de cor foram umas das que mais
evoluíram neste cenário
Durante o seminário "Venha Conhecer o Novo Papel da Anatel e do Ministério das
Comunicações na Regulação do Setor", o secretário de serviço de comunicação
eletrônica, Genildo Lins de Albuquerque Neto conversou com nossa reportagem e
fez uma análise sobre a conjuntura da radiodifusão brasileira.
Como o senhor avalia o cenário da radiodifusão nacional? Considerando o
histórico, que não é bom, pois houve omissão do poder público durante um tempo,
podemos dizer que a radiodifusão está bem. Pois agora essa omissão está sendo
suprida, e o radiodifusor está se comportando muito bem, alguns estão lentos em
responder aos pedidos do Ministério das Comunicações, mas eu acredito que com o
tempo eles vão se acostumar com essa nova metodologia e os processos vão andar
mais com cerelidade. O importante para o poder público, hoje, é que o setor
tenha mais agilidade nas mudanças e respostas mais rápidas.
Como está a digitalização da TV no Brasil? A digitalização da TV está bem
adiantada. Existem 506 geradores de TV no Brasil, cerca de cem não pediram canal
digital. Dos pedidos que foram feitos, o Ministério já consignou o canal ou a
consignação está em processo aguardando alguma informação do radiodifusor. É
nossa meta digitalizar até o final deste ano, 2.200 retransmissoras. Nós já
chegamos a 300, neste primeiro trimestre.
Como estão os trabalhos para o switch off em 2016? Ele irá acontecer? Não tem a
menor dúvida que isto irá acontecer. O Ministério irá elaborar até o final do
ano um plano de switch off, que vai incluir auxilio ao radiodifusor que não tem
recurso, vamos estudar linha de financiamento, estudamos a possibilidade de os
prazos de desligamento terem gradação conforme a região, e incluir auxilio para
o usuário sem televisor digital.
Ainda faltam muitas cidades para serem digitalizadas . Como o governo está
trabalhando a implantação digital nas cidades mais distantes? Nós estamos
trabalhando muito. As geradoras já estão concluídas, já estamos nas
transmissoras e até o final do ano concluiremos entre 25% e 30% das
retransmissoras. Nós esperamos que até o final de 2013 todas transmissoras e
retransmissoras estejam digitalizadas.
Quais são os trabalhos que o governo está fazendo em relação à implantação da
interatividade? A interatividade é um produto a mais que o radiodifusor pode
oferecer. Nós estamos fazendo um estudo para criar incentivos para o
radiodifusor oferecer este produto. Estamos trabalhando para que até o final do
ano, nós possamos dar esses incentivos.
Como o governo avalia a disputa pelo espectro? A disputa é normal. Qualquer bem
escasso é muito disputado. O que nós vamos tentar fazer é chegar à melhor
solução para atender aos setores de radiodifusão e telecomunicação.
Por que o radiodifusor está com muitas dúvidas com relação as novas normas para
o setor de radiodifusão? Toda mudança gera muitas dúvidas e o que nós temos que
fazer é sanar essas dúvidas. É normal as pessoas se assustarem com as mudanças.
Nós tentamos mostrar que as mudanças são para melhor.