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Leia na Fonte: Revista da SET - Edição 129
[Dez 2012]
O Rádio
Digital em Debate - por Por Flávio Aurélio Braggion Archangelo
A sessão destinada ao rádio digital no Congresso SET 2012, coordenada por Marco
Túlio Nascimento (Sistema Globo de Rádio), rendeu um acalorado e produtivo
debate. No ano no qual o governo federal tem dado fortes indícios que decidirá
por um modelo de digitalização a ser implementado no país, os representantes
brasileiros dos sistemas High Definiton Radio (HD Radio) e Digital Radio
Mondiale (DRM), expuseram suas propostas de maneira mais contrastante e incisiva
em relação a eventos anteriores.
Atualizações técnicas
A primeira parte dos debates foi dedicada às atualizações técnicas. Cristiano
Barbieri, da Harris Corporation, apresentou a evolução observada na
infraestrutura de transmissão, dividida em 4 gerações. A chamada primeira
geração de transmissores digitais iniciou em 1998 com um excitador que
trabalhava apenas com um único canal digital e compressão AAC, sem SBR.
A segunda geração, ocorrida em 2001, já dispunha de um excitador baseado em
software, mais robusto e estável, tornando-se o “carro chefe” para definição dos
padrões digitais HD Radio, conforme descreveu Barbieri. Em 2002 a Harris passou
a oferecer comercialmente a multiplexação de serviços para multicast e em 2003 o
seu importer para áudios suplementares, viabilizando os canais adicionais de
áudio e serviços de dados.
Já na terceira geração, toda compressão de áudio, dados e multiplexação passaram
a ser controlados do estúdio, enviando o fluxo de sinal para o site de
transmissão. Na quarta geração o destaque foi no aspecto de RF, com
transmissores trabalhando com a redução do fator de crista (melhorando a
eficiência dos amplificadores de potência), a geração das bandas laterais
assimétricas e cálculo do MER interno para melhoria na modulação.
Scott Martin, da Electronics Research (ERI), tratou de novas formas de
combinações entre antenas, transmissores e filtros para aumentar o sinal
digital. O engenheiro considerou a combinação entre antenas como sendo a mais
simples, obtendo 45 dB de isolação entre sinais analógico e digital com uso de
diferentes polarizações circulares (RHCP para analógico e LHCP para digital).
Foram apresentadas duas modalidades de combinações: a “Side Mounted Dual Input”
e “Dual Input Panel Array”.
Ambas experiências descritas por Scott Martin e Cristiano Barbieri foram
balizadas em estações que trabalharam em HD Radio, no entanto Barbieri frisou
que a Harris “não defende um ou outro modelo”.
HD Radio – High Definition Radio
A segunda parte da sessão, destinada aos representantes dos modelos de
digitalização, foi iniciada por Cassiano Rodrigues, da empresa brasileira
Tel-lHD, em defesa do sistema HD Radio.
Para Cassiano “o mercado de radiodifusão não pode esperar o desenvolvimento de
uma nova tecnologia nacional, o rádio está perdendo espaço para novas mídias
(...) por isso a solução está em buscar a tecnologia mais avançada”. A escolha
pelo HD se daria por ser “o sistema mais robusto, com viabilidade comercial
consagrada, com política de continuidade, com 400 milhões de dólares investidos
no desenvolvimento da tecnologia, com baixo custo de transmissores e experiência
na implementação comercial do modelo”.
Para relevar o aspecto comercial da implementação tecnológica, o representante
citou o exemplo do Canadá, que tinha implementado uma “tecnologia muito boa” (DAB),
mas que a abandonou pois “não soube como a viabilizar comercialmente”.
Segundo Cassiano, 32 emissoras já estão com o sistema instalado no Brasil, assim
o objetivo da Tel-lHD é: “continuar a desenvolver e adaptar o HD para a
realidade brasileira, difundir a tecnologia para outros países, apoiar a
indústria brasileira, incentivar a transição tecnológica nas emissoras e criar
parcerias”. Foi ainda destacada a disponibilização de transmissores de baixo
custo e a importância do trabalho com receptores não convencionais (como
instalados em celulares), aumentando a penetração do meio.
Sobre os royalties, o representante comentou: “A TellHD não vai cobrar nenhuma
taxa. O modelo de negócio é o mesmo que qualquer outro provedor de tecnologia
digital. Temos custos, que serão pagos pela produção em escala. Hoje um receptor
digital já é mais barato que um analógico nos Estados Unidos (...) Quem ganha
com isso? O consumidor, a radiodifusão, o mercado de serviços e conteúdos,
indústria brasileira, as universidades, os centros de pesquisa”.
Cassiano indicou que a parceria da TellHD com iBiquity, empresa estadunidense
detentora da tecnologia HD Radio, permitirá aos brasileiros desenvolver “novas
parcerias e criar novas funcionalidades ao modelo”.
DRM – Digital Radio Mondiale
O engenheiro Carlos Acciari, da Rádio França Internacional, falou em defesa do
sistema DRM. Para Carlos o DRM “não é de um país, mas de um grupo de pessoas e
empresas que defendem uma norma de digitalização global, aberta e pública de
digitalização de todo espectro eletro-magnético, uma norma que trabalha com
todas as faixas de radiodifusão”.
No VHF, onde o sistema é conhecido como DRM+, o representante comentou que o DRM
permite 4 conteúdos com 100 kHz de banda, especialmente na futura faixa
estendida eFM (76 a 88 MHz), “permitindo 120 canais full digital, perfazendo 480
serviços”. Para ele o planejamento da multicanalização é uma alternativa para a
“falta de canais e redução das interferências”.
Sobre o oferecimento de serviços multimídia, Carlos destacou as mensagens de
texto, journaline, slide show, EPG, mensagens TPEG/TMC, surrounding e mesmo uma
nova aplicação em estudo: vídeo de baixa definição para funções educacionais
(Diveemo).
O representante também associou o oferecimento de mensagens emergenciais a
operação multifaixas, considerando o sistema “o único que pode responder a todos
os tipos de emergência” trabalhando nas Ondas Médias, Ondas Tropicais, Ondas
Curtas e VHF (FM).
Carlos comentou que é “muito importante a perspectiva das Ondas Curtas, a
emissão para populações isoladas. O Brasil precisa manter estas formas de
comunicação pois, não podemos nos esquecer desta população, eles também fazem
parte do futuro. A tecnologia deve apresentar novas perspectiva para todos”.
Sobre os royalties, Carlos disse que “DRM é uma organização sem fins lucrativos
cuja função é a aprovação da norma. O consórcio não está ligado a royalties, os
custos das empresas estão absolutamente disponíveis para qualquer empresa que
desejar implementar seus produtos finais no Brasil”.
Por fim ele comentou que mercados externos, possíveis destinos para exportadores
brasileiros, emergentes como Rússia e Índia, adotaram o DRM, sendo que este
último já encomendou 72 transmissores, sendo um de 1000 kW (1 MW) em OM. Carlos
disse que no Brasil todos os testes foram feitos dentro das normas e exigências
do governo federal e que o DRM é adaptável às exigências do Brasil.
Integração com TV Digital
Rafael Diniz, do Instituto de Pesquisas Eldorado, também defendeu o DRM no
aspecto da eletrônica digital e middleware convergente. Para ele o fato do DRM
trabalhar com o AAC-HE, já utilizado no one seg e full seg, permite uma maior
economia ao fabricante brasileiro, além de integrar as mesmas plataformas de
decodificação para a TV e o rádio digital. Segundo Rafael isso contrasta com
codec utilizado no HD Radio, entendido como “segredo industrial”.
Rafael também citou que os chipsets HD Radio são os mesmos que o DRM, porém
sendo o último “mais barato pois seus royalties são referentes apenas ao estágio
final da produção, enquanto para o HD são pagos royalties em todas as etapas de
fabricação”.
O representante observou a possibilidade de “uma única plataforma de
interoperabilidade com chipset aplicável à TV digital e o DRM, incorporando os
elementos como o Ginga sobre o DRM”, possibilitando num único equipamento,
operações integradas ISDB-T proposto no SBTVD e o DRM.
Para Rafael, o “HD depende apenas de uma empresa”, enquanto o “DRM é uma norma.
Se você não quiser determinado aplicativo oferecido, você pode ler a norma e
escrever seu produto, o que não acontece no HD”.
Por fim o representante comentou que o DRM já está dentro das universidades por
ser um sistema aberto e que o governo do Equador utilizará transmissores
recentemente desenvolvidos no Brasil em DRM para realizar testes naquele país,
como exemplo de mercados abertos junto com esta tecnologia.
Debates
A parte final do fórum foi dedicada a debates, espaço aproveitado por
representantes da AESP e da ABERT. Alfio Rosin, da consultoria Sulrádio,
apresentou uma pesquisa baseada em dados da FCC, mostrando que 87% das emissoras
estadunidenses ainda não aderiram ao HD Radio, questionando a viabilidade do
sistema. O engenheiro comentou que apenas 289 estações AM e 1710 FM estavam
licenciadas para emissão HD num universo de mais de 6000 estações AM e mais de
7400 FM: “se seguirmos o mesmo ritmo de implementação dos Estados Unidos, levará
mais de 2500 anos para o AM e 102 anos para o FM se digitalizarem”. Cassiano
Rodrigues comentou que a crise econômica dos EUA se reflete nesses números e que
“vamos implementar este modelo mais rapidamente que outros países. Temos mais
cultura de rádio”
Flávio Aurélio Braggion Archangelo
Assessor Especial da LABRE para Gestão e Defesa Espectral . Membro da CBC-2