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Leia na Fonte: Oboré
[25/09/12]
Seminário reúne rádios comunitárias para discutir nova legislação - por João
Paulo Brito
Vinte e cinco watts é a potência máxima de transmissão que uma emissora de rádio
comunitária pode atingir no Brasil de acordo com a lei 9612, aprovada em
fevereiro de 1998. Isso equivale a 0,025% da média de 100 mil watts que uma
rádio comercial alcança. Pressupondo a utilidade de informar e entreter ouvintes
de pequenas comunidades, a lei estabelece que, partir de sua antena
transmissora, o serviço de radiodifusão comunitário deve limitar-se a 1 km.
As fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, que estão aptas,
segundo a lei, para executar o serviço recebem uma outorga que lhes garantem
autorização por três anos, sendo possível renovação por igual período.
A capital paulista é a cidade brasileira que possui o maior número de rádios
comunitárias autorizadas. Segundo dados da Abraço (Associação Brasileira de
Radiodifusão Comunitária), em 2008, ano em que milhares de emissoras de rádios
comunitárias foram legalizadas em todo o Brasil, haviam no município de São
Paulo pelo menos 130 associações de bairro legalmente aptas a receberem a
outorga que autoriza o funcionamento de uma rádio. Mas apenas 31 receberam a
autorização. Destas, segundo a Abraço, pelo menos 40% não terão suas outorgas
renovadas.
O principal problema, porém, na opinião dos radiocomunicadores é a sustentação.
A Lei não admite a veiculação de propaganda ou horário comercial na programação
das rádios comunitárias; autoriza patrocínios em forma de apoio cultural, no
qual a rádio não pode citar endereço, promoção ou qualquer atividade realizada
pela instituição comercial que a patrocina.
Sem o interesse dos comerciantes em patrocinar as rádios e precisando pagar as
contas, as rádios comunitárias precisam apelar para outros caminhos que a
mantenham com as portas abertas. Entre os “padrinhos” interessados estão as
igrejas (católicas e protestantes), políticos ricos – principalmente em época de
campanha -, e o narcotráfico.
Por estas e outras razões, a AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias)
realizou neste sábado (22/09) um seminário para discutir um novo marco
regulatório para a categoria. Cerca de 70 radiocomunicadores representando 30
rádios comunitárias da região sudeste do Brasil (RJ, SP, ES e MG) se reuniram no
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e, ao fim do dia, se dividiram em grupos
para discutirem propostas nos campus da “definição, objetivo e conteúdo de uma
rádio comunitária”, “acesso universal e tecnológico”, “financiamento e recursos
públicos” e “autoridades competentes e procedimento de outorga”.
O seminário, em que a OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes -
escritório paulista da AMARC - ajudou a organizar, contou com a presença de
representantes de coletivos, pesquisadores e entidades que lutam pela
democratização da mídia no Brasil, entre eles os coletivos Intervozes e Artigo
19, a UNIRR (União e Inclusão em Redes e Rádio) e a Abraço.
Este foi o quarto de um ciclo de cinco encontros regionais sobre legislação e
direito à comunicação que já passou pelo Nordeste (Fortaleza - CE), Sul (Arroio
do Sal - RS) e Norte (Altamira – PA), e deve se encerrar em Brasília, em
novembro, quando as propostas recolhidas em todas as regiões serão apresentadas
às autoridades competentes.
Políticas públicas
O jornalista, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF),
Dênis de Moraes, crítico voraz da legislação de radiodifusão comunitária,
apresentou exemplos de avanços legislativos no campo da democratização da mídia
em países vizinhos, como Venezuela, Equador e Argentina e concluiu que “o
problema também é político, não é só jurídico e legal.”
João Brant, do Coletivo Intervozes, também concordou que é preciso políticas
públicas que garantam condições iguais para que todos se comuniquem. “É muito
diferente a liberdade de expressão de uma rádio comunitária com a liberdade de
expressão de uma comercial que atinge toda a população. É obrigação do Estado
garantir a igualdade na comunicação.”
Em 2007, o Intervozes elaborou uma pesquisa, publicada em novembro daquele ano
no informativo intitulado “Concessões de Rádio e TV – Onde a democracia não
chegou”, no qual aponta que das 39 emissoras de rádios FM comerciais que
transmitem em São Paulo, 36 tinham suas outorgas vencidas e 22 delas estão
outorgadas para outros municípios mais ainda assim podem ser sintonizadas na
capital paulista.
O delegado regional do Ministério das Comunicações, Mario Daolio, que acompanhou
o seminário ao lado de Carlos Gold, coordenador de outorgas de rádio
comunitárias do MinC, quando questionado se o ministério tinha conhecimento
desta denúncia acenou em positiva e disse que “já estão sendo tomadas
providências judiciais para a normalização da situação”.
Propostas
Além das propostas oriundas dos quatro seminários regionais realizado pela
AMARC, outras sugestões para serem implementadas em 2013 visando a integração e
a unidade das rádios comunitárias foram apresentadas por Sergio Gomes, diretor
da OBORÉ. Entre elas, o projeto “Seja Bem-Vindo: a casa é sua”, um intercâmbio
entre radialistas comunitários, no qual os radiocomunicadores de um determinado
local vão visitar a emissora de outro bairro ou cidade. “É preciso que um
conheça o outro, que saibam o que todos estão fazendo. Temos que aprender a
caminhar separados e golpear juntos”, afirmou o jornalista que também ressaltou
a necessidade de pressionar para que a Anatel fiscalize de fato as
irregularidades presentes nas outorgas comerciais.
Outra proposta de Sergio Gomes foi a criação de uma Mesa de Trabalho com a
Câmara Municipal de São Paulo para tratar especificamente da sustentação
financeira das rádios comunitárias. “Quanto custa [para se manter uma rádio
comunitária]? Quem paga? É preciso trabalhar em cima de ideias concretas. A
OBORÉ batalha para que as rádios tenha ao menos o dinheiro mínimo para pagar uma
conta de luz e água. É preciso se reunir com a Câmara para discutir o Plano
Diretor da Cidade e retomar o trabalho para que o novo plano contemple o Plano
Diretor de Radiodifusão Comunitária”.
O artigo 266 do Plano Diretor Estratégico (PDE) do Município de São Paulo
estabelece que é dever do executivo desenvolver o Plano Diretor de Radiodifusão
Comunitária e incorporá-lo ao PDE abrangendo pontos como definição de regras
para instalação de rádios comunitárias, formas de participação do Executivo na
produção de conteúdo e democratização do acesso aos meios de transmissão.
Em encontro realizado também no Sindicato dos Jornalistas em 27 de agosto deste
ano, em que se debateu a liberdade de expressão, contando com a presença da
professora e filósofa Marilena Chauí, vários candidatos a vereadores assinaram
um documento que continha um conjunto de propostas para a democratização da
comunicação, entre elas, o compromisso em desenvolver o Plano Diretor de
Radiodifusão Comunitária.