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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[19/08/13]
Ganância dos empresários da mídia destrói o rádio - por Arthur William
Há algumas semanas, o Ministério das Comunicações lançou uma portaria (197)
corrigindo alguns problemas técnicos da péssima regulamentação da já ruim lei de
Rádios Comunitárias (9.612 de 1998). A portaria só coloca no papel pequenas e
urgentes correções de situações absurdas que as normas anteriores ignoravam,
cujas alterações a migração para o rádio digital mostrou inevitáveis.
A primeira delas é o uso de uma outra frequência para o caso de haver
interferência entre duas emissoras. Se hoje o que acontece é a famosa linha
cruzada, num sistema digital o resultado seria um “apagão das rádios
comunitárias”.
Segundo ponto é o alcance das emissoras de baixa potência. Todos sabem que um
transmissor de 25 watts (potência máxima para as comunitárias no Brasil) leva o
sinal a mais que 3 km, mesmo assim a regulamentação anterior inventava um limite
ilusório de mil metros. Os testes do rádio digital só reforçaram a complicação
que esta definição trazia para o funcionamento das rádios comunitárias.
O último ponto é a previsão de que o governo possa fazer “apoio cultural”
(anúncio não comercial) nas comunitárias. Assim como o comércio local já faz, as
empresas públicas poderiam veicular mensagens institucionais, além de
ministérios e secretarias divulgarem campanhas de utilidade pública. Nada mais
natural permitir que o poder público possa transmitir informações ao cidadão por
todos o canais possíveis: rádios comerciais, públicas e comunitárias.
São alterações urgentes e pequenas em relação ao que precisa mudar para a
garantia do direito humano à comunicação. Mesmo assim, as empresas de mídia
foram reclamar ao ministro das Comunicações. Isso mostra que ainda entendem as
rádios comunitárias como concorrência e não como um complemento da comunicação
como diz a constituição. Pensam que matando as comunitárias seriam beneficiados,
pois enxergam a comunicação como um negócio e a audiência como um produto a ser
vendido para os anunciantes.
Além de uma postura conservadora, mostram uma incompetência gerencial que pode
resultar na morte do rádio enquanto meio de comunicação de massa. Isso porque,
desconhecem a “economia de rede”, muito utilizada na internet, segundo a qual
quanto mais pessoas estiverem usando um determinado serviço, mais valor este
possui.
Liberdade de expressão se garante com democracia na comunicação. Hoje as
comunitárias são a maioria das rádios no Brasil. Já passou da hora do governo
criar uma política pública que possibilite o funcionamento dessas emissoras. O
sucesso do rádio digital, da radiodifusão e da democracia no Brasil depende
disso.