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Leia na Fonte: Moxphere
[02/01/13]
Banda
larga móvel é entrave para consolidação da rádio digital - por Cassiano
Gobbet
Sobre o autor:
"Eu me chamo Cassiano Gobbet e sou jornalista, formado pela
Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth
University, da Grã-Bretanha. Atualmente, trabalho na localização do primeiro
projeto de jornalismo colaborativo da América Latina, o Yahoo! Rede de
Contribuidores. Também escrevo sobre futebol, cinema e cultura no site 90
Minutos. O meu Twitter é o @cassianogobbet."
O desaparecimento de uma tradicional rádio rock de São Paulo (a 89FM) e sua
ressurreição graças à intervenção de uma poderosa agência de publicidade dizem
muito sobre o destino da mídia em si. Rádios, como as conhecemos, são
dinossauros atolados no lodo, ferramentas de poder de todo tipo de tubarão no
cenário político, indo de milionários grupos de comunicação a mercenários
religiosos, passando, obviamente, pela politicalha (Só José Sarney distribuiu
mais de 500 concessões a apadrinhados políticos). A morte da rádio tradicional,
no Brasil, não é só bem-vinda – é necessária. Ela será substituída pelos
streamings de áudio e programas de música como o Spotify e o Pandora, o que
tornará a iniciativa mais democrática.
A ressureição da 89FM não teria sido possível sem a ingerência de um grande
grupo de comunicação (UOL) e um hub de publicidade fortíssimo como a agência
África, que conseguiram ver o óbvio da grande demanda não atendida pelo gênero
na cidade de São Paulo (mas isso é outra história). O interessante para a
questão da mídia em si é notar que, exceções feitas às rádios extremamente
populares, onde os principais comunicadores recebem salários milionários para
anunciar um determinado produto (ou, às vezes, apoiar determinado político), as
rádios estão em franca decadência. Os valores de receita publicitário só caem,
os funcionários recebem pouco (mesmo comparados com os salários de jornalistas
de outras mídias, que já são baixos) e devido à grande quantidade de concessões,
há uma grande canibalização entre as emissoras. Aquelas que pertencem a grandes
grupos de comunicação ou que têm financiamento institucional, resistem. Outras,
como a 89FM, fecham (e só reabrem quando ocorre uma intervenção como a
ocorrida).
A questão jaz no fato de que a audiência de rádio caiu e a concorrência ficou
mais violenta, mas os custos de manutenção mantiveram-se altos. Enquanto isso,
digitalmente, é possível se montar uma operação com custos muito menores e
alcance maior via banda larga. Isso sem falar nos já citados produtos como o
Spotify que encontraram um modelo que remunera os direitos autorais e é
acessível ao mesmo tempo (diga-se, é a salvação das gravadoras). Não à toa, a
montadora escandinava Volvo já anunciou que seus veículos virão com o Spotify
onboard, algo que deve ser uma tendência consolidada em alguns anos e que deve,
de uma vez por todas, reduzir a pó o funcionamento das rádios tradicionais e
toda sua parafernália técnica que tem altos custos. Felizmente, há alguma chance
de que os parceiros do nefando José Sarney vejam-se com suas concessões
transformadas em letra morta (sim, é uma esperança, embora apostar contra
qualquer coisa envolvendo o Darth Vader maranhense seja muito arriscado).
A expansão de parcerias como a Spotify-Volvo, contudo, depende de uma drástica
melhoria na estrutura de transmissão de dados móveis no Brasil. A qualidade da
banda larga já é ruim no geral e a infraestrutura de banda larga móvel no Brasil
ainda é sofrível (estamos em quarto lugar na América Latina) e extremamente
cara. A Anatel, que já divulgou dados dizendo que o serviço móvel no Brasil
continua sendo ruim deveria tomar uma atitude, especialmente às portas dos
megaeventos do ano que vem e de 2016. Segundo o Banco Mundial, a evolução na
transmissão móvel de dados tem mais impacto do que a banda larga tradicional
fixa. A melhoria não somente ajudaria a democratizar os meios de comunicação,
mas teria impacto econômico. Desenvolvimento de novas tecnologias que desonerem
as redes em suas transmissões de grandes quantidades de dados também são
necessárias, mas esse não é um problema só brasileiro.
Por hora, continuamos a ter um serviço de péssima qualidade e caríssimo. Os
poucos planos de consumo móvel ilimitado “controlam” o volume de dados através
da velocidade baixa de transmissão e para se ter realmente internet rápida no
celular, é preciso ter um plano caríssimo. Uma alternativa seria o estímulo
governamental para a entrada de novos concorrentes no mercado e a autorização
para que eles trabalhassem nacionalmente (em vez das capitanias definidas nos
sistemas de bandas). Claro, tal medida teria um custo político que certamente o
PT não quer enfrentar num momento delicado para um setor do partido. Mas o que
já seria possível fazer é a Anatel aplicar multas sistemáticas a operadoras
comprovadamente ruins, obrigando-as a fazer investimento em atendimento e rede.
Enquanto isso não acontece, as emissoras de rádio ou seguem na sua lenta agonia
ou seguem atendendo agendas diferentes das da audiência. mais cedo ou mais
tarde, isso vai acabar.