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Website de Edgar Lisboa
[18/03/13] A caótica
implantação do Rádio Digital no Brasil - por Edgar Lisboa
O governo anunciou para uma multidão de radiodifusores, em junho de 2012, que
até dezembro seria decidido o sistema a ser adotado para o rádio digital no
Brasil. Júbilo geral. O agonizante rádio brasileiro iria se reerguer.
Mas, em dezembro o Ministério das Comunicações anunciou que não tinha condições
de decidir sobre qual sistema de rádio digital seria adotado no Brasil, pelo
motivo de que, da forma que foram realizados os testes, os dois sistemas
testados atingiram uma cobertura máxima de 70% da área do sinal analógico nas
emissoras testadas em FM de alta potência. Essa notícia foi ecoada aos quatro
cantos do mundo pela Associação Brasileira de Rádio e Televisão-ABERT e por
agencias de notícias interessadas no assunto. Revolta e indignação de alguns,
principalmente dos dois sistemas, que tomaram a declaração governamental como
uma afronta, que questionava o bom funcionamento de sistemas de rádio digital
homologados e recomendados pela UIT, onde o Brasil tem assento, e onde votou a
favor deles. No exterior o Brasil virou piada, pois todo o mundo já comprovou
que o rádio digital tem maior alcance que o analógico com menos energia, por
isso é que estamos querendo migrar para o digital. Outros se revoltaram pelo
novo adiamento da decisão. Ainda outros ficaram sem entender e se perguntavam:
mas não estavam testando para comparar o DRM com o HD Radio? Quando começaram as
comparações deles com o analógico? Se fosse para comparar com o analógico, os
testes não deveriam ter sido feitos de outra forma? O rádio digital não é uma
nova mídia? Como comparar uma mídia com outra? Ouvi de muitos: Achei que o
importante era decidir o melhor sistema, e não se o rádio digital se compara ao
analógico.
O argumento do Ministério das Comunicações para adiar a decisão e propor novos
testes é a seguinte: se o sinal do rádio digital atingir somente 70% da área de
cobertura do sinal analógico de uma emissora vai “excluir” ouvintes. Ou seja,
vai excluir cidadãos da possibilidade de acessarem à nova tecnologia. Bom… temos
aí duas categorias: ouvintes e cidadãos. Que são indivíduos diferentes.
Vamos primeiro falar da exclusão de ouvintes: não concordo com o governo. O
rádio digital, pelo contrário, vai incluir ouvintes. Inicialmente porque o sinal
analógico não vai ser desligado e nem diminuído, portanto se uma emissora hoje
possui 60 mil ouvintes/minutos, eles vão continuar lá quando ela começar a
transmitir também em digital. Só que o rádio digital é um novo meio, e como
dizia nosso guru Marshall MacLuhan, possui uma nova “mensagem” que certamente
vai atingir uma quantidade de indivíduos que hoje não são atraídos pela
“mensagem” do rádio analógico (principalmente os mais jovens). Então essa
emissora deve agregar, no mínimo, uns 20 mil ouvintes à sua audiência, passando
para um total de 80 mil, de imediato. Isso com o digital cobrindo 70% da área do
seu sinal analógico, que com ajustes e acertos técnicos, sempre necessários em
novas tecnologias, vai aumentar em um curto prazo.
Agora vamos falar da categoria dos cidadãos, excluídos, que vivem nas regiões
que não serão cobertos imediatamente pelo rádio digital. Ok, concordo, serão
excluídos. Mas vou fazer uma analogia: no meu bairro tem quebra-molas, no bairro
vizinho tem barreiras eletrônicas, que é uma nova tecnologia para redução de
velocidade, isso porque lá tem mais movimento de veículos. Em suma, eu fui
excluído da nova tecnologia. E aí? Por isso o governo não deveria ter implantado
as barreiras no outro bairro? Outro exemplo: quando da implantação do celular, o
governo não se importou se todos os locais que possuíam telefone fixo teriam
sinal de celular, ou até se o preço do aparelho seria acessível em um primeiro
momento. Até hoje temos localidades aonde o celular não chegou, e cidadãos
excluídos desta tecnologia. Mais perto do rádio: a TV Digital, que só funciona
nas capitais, excluí 90% do território brasileiro! Aí eu pergunto: para eles
isso não é problema, mas para o rádio é? Conclusão: toda nova tecnologia exclui,
e por motivos técnicos, o rádio digital não será diferente, não pela sua área de
cobertura que certamente é até maior do que o analógico.
Lamentavelmente o mundo não é perfeito, e o rádio brasileiro continua agonizante
e “excluído” do mundo digital, da convergência midiática, da possibilidade de
evoluir, de atrair novos ouvintes e de voltar a ter faturamento e fazer
investimentos.
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Website de Edgar Lisboa
[18/03/13] Sobre o
autor
Em mais de 30 anos atuando no jornalismo, Edgar Lisboa exerceu a direção, foi
articulista e colunista de diversos jornais, comentarista de rádio e televisão e
desenvolveu projetos para vários veículos de comunicação social em todo o país.
Foi diretor Executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ) onde editou o
livro Jornais Brasileiros; diretor executivo do grupo Jornal do Brasil, no Rio
de Janeiro; diretor Nacional de Jornalismo e Esporte do Sistema Globo de Rádio
(CBN/Rádio Globo); diretor de Comunicação da Globalstar do Brasil e diretor de
Jornalismo do Jornal de Brasília.
Atuou também como superintendente do Grupo Editorial Sinos, composto pelos
Jornais ABC Domingo; Jornal NH; Vale dos Sinos; Diário de Canoas, Rádio ABC e
Rádio 1180-RS. Foi diretor e âncora da Rede Comunidade de Rádio em programa
nacional de jornalismo com a Rádio Nacional, além de gerente-Executivo da
Unidade de Comunicação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e entidades
do Sistema Indústria (SESI/SENAI/IEL).
Tem mais de 1600 artigos sobre liberdade de imprensa e ética na comunicação
publicados em jornais brasileiros. Foi representante no Brasil dos Repórteres
Sem Fronteira. Hoje, presidente do Instituto Brasileiro do Rádio (IBR) e Diretor
Executivo da Texto Final Comunicação.