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Fonte: Senado
[17/09/13]
Especialistas apontam dificuldades para digitalização do sistema de rádio no
Brasil
Debate mostrou entraves para a digitalização do rádio brasileiro
O caminho da digitalização das rádios ainda pode ser longo no país. Em audiência
pública nesta terça-feira (17) na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação,
Comunicações e Informática (CCT), especialistas mostraram os resultados ruins
dos primeiros testes realizados e o desinteresse das emissoras de rádio em
participar de novos testes.
Para o senador Walter Pinheiro (PT-BA), a digitalização da rádio é
imprescindível, mas antes de escolher o padrão tecnológico, é necessário
promover a universalização, a ampliação da cobertura para que toda a população
tenha acesso a esse meio de comunicação.
– É preciso que adotemos um padrão que nos coloque em sintonia com o que está
acontecendo no mundo, sintonizar de maneira que a gente ganhe escala,
consequentemente reduza preço, que a gente ganhe as condições de produção
industrial no Brasil – disse.
Pinheiro disse ainda que o país não pode repetir o erro cometido no debate sobre
a televisão digital de discutir qual o padrão tecnológico será adotado sem
discutir quais são as necessidades do país.
Para o senador Anibal Diniz (PT-AC), autor do requerimento da audiência pública,
o governo parece estar alheio à importância estratégica da rádio no país.
– Como pode a gente não ter uma política, sabendo que o governo continua sendo o
grande anunciante, para identificar onde estão os veículos de comunicação e
fazer uma associação no sentido de: vamos investir, mas, em contrapartida
queremos que amplie a potência, queremos a digitalização, queremos que evolua
tecnologicamente? – questionou.
Testes insatisfatórios
De acordo com o diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação de
Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações (MC), Octavio
Penna, os primeiros testes realizados entre 2010 e 2012 mostraram que a rádio
digital teria uma cobertura menor que a rádio analógica.
Penna explicou que não existe a intenção de desligar o sinal analógico para
ficar apenas com o digital, mas de trabalhar com os dois sinais simultaneamente.
Para isso, existe um limite de potência para a rádio digital não causar
interferências no sinal analógico. O ministério fez testes tanto com o sistema
HDRadio – padrão utilizado nos Estados Unidos e desenvolvido pela empresa
Ibiquity – e com o DRM (Rádio Digital Mundial ou Digital Radio Mondiale, em
inglês), padrão desenvolvido na Europa.
O Conselho Consultivo do Rádio Digital, criado em 2012, acompanha os resultados
desses testes. De acordo com Penna, o MC quer fazer novos testes, adotando
critérios mais precisos e específicos, mas não está havendo interesse das
emissoras em participar das experiências.
- Temos confiança de que esses sistemas funcionam, a questão é encontrar a
melhor configuração possível para esse funcionamento – afirmou Penna.
Vantagens e Custos da Digitalização
A rádio digital traz benefícios como a melhor qualidade do áudio e a
possibilidade de multiprogramação, ou seja, no mesmo canal ou frequência, pode
haver diversas programações. Além disso, há o canal de dados, em que podem ser
disponibilizadas informações adicionais e aplicativos diferenciados, como
notícias e a escalação do time de futebol que está jogando, por exemplo.
De acordo com a gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão (Abert), Monique Cruvinel, os radiodifusores estão divididos.
Um grupo está muito interessado na digitalização e outro não vê nos benefícios
da rádio digital uma compensação pelos altos custos d a implantação de um modelo
novo. Esse último segmento tem apostado na internet para suprir muitos dos
serviços que a digitalização ofereceria.
– Existe um interesse, mas existe ainda essa questão do medo de que [a
digitalização] não vai ser viável. E esse medo impede que muitas emissoras se
coloquem na vanguarda – disse.
Segundo o engenheiro de Sistemas de Comunicação da Associação Brasileira de
Rádio e Televisão (Abratel), André Trindade, uma pesquisa da Universidade de
Brasília (UnB) mostrou que 81% das emissoras de rádio não têm condições de
investir na digitalização.
– O investimento, segundo essa pesquisa, pode chegar à casa de US$ 150 mil –
afirmou.
Isso acontece porque a maioria das emissoras possuem transmissores muito
antigos, com mais de dez ou 20 anos, o que exigiria a troca dos transmissores.
Rádios Comunitárias
A legislação rígida sobre as rádios comunitárias foi também criticada na
audiência pública pelo representante nacional da Associação Mundial das Rádios
Comunitárias (Amarc), Pedro Martins, e pelos senadores Walter Pinheiro e Anibal
Diniz.
Segundo Martins, o Brasil é um dos poucos países no mundo que criminaliza a
rádio ilegal de baixa potência. Ele disse esperar que a discussão sobre a rádio
digital também sirva para repensar o modelo de comunicação adotado no país, que
concentra os meios de comunicação nas mãos de poucos empresários.
– Isso impede que grande parte da população tenha acesso a esse direito que a
gente considera um direito humano, a comunicação – afirmou.
Martins ressaltou a importância das rádios comunitárias em momentos de tragédias
naturais, como as tempestades que aconteceram na região serrana do Rio de
Janeiro em 2011.
– A rádio comunitária de Nova Friburgo foi um dos principais veículos de
comunicação que ajudou a achar corpos, achar parentes – relembrou.
Desenvolvimento da Indústria
O chefe de gabinete da Diretoria Geral da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC),
Bráulio Ribeiro, disse que a empresa acredita na digitalização do rádio no país
e tem se colocado à disposição para novos testes. No entanto, entende que é
preciso investir na indústria de transmissores e receptores digitais e definir
um modelo de negócios e de serviços para o rádio digital.
– A indústria está parada. A indústria não sabe se produz transmissor analógico,
não sabe se começa a produzir transmissor digital, não sabe se produz
transmissor digital para HD Rádio, para DRM, não sabe o que fazer – afirmou.
Ele defendeu a digitalização e ressaltou o papel fundamental da rádio no país,
que, em determinadas regiões é o único meio de comunicação acessível para as
pessoas.
Marilia Coêlho
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)