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Fonte: DRM Brasil
[17/06/16]
Artigo na Revista Rádio e Negócios sobre Rádio Digital
O artigo entitulado "Rádio Digital: uma solução que pode chegar tarde demais"
foi escrito por Marcelo Goedert, Rafael Diniz e Bráulio Ribeiro e saiu na edição
17 da revista, páginas 19 e 20. O texto do artigo segue abaixo.
Rádio Digital: uma solução que pode chegar tarde demais
A implantação do Rádio Digital, que foi apontada em 2006 como a “salvação do
rádio brasileiro”, está há tanto tempo paralisada pela indecisão governamental
que corre o risco de não chegar a tempo de salvar o agonizante mercado
radiofônico. A discussão sobre a implantação do rádio digital no Brasil começou
há mais de 10 anos. Nesse período o avanço tecnológico alterou
significativamente o cenário da radiodifusão e da mídia em geral.
A história do rádio digital no Brasil remonta ao início da década de 2000,
quando testes foram realizados tanto pela academia quanto por radiodifusores,
com o objetivo de definir o melhor sistema para o país. Em 2010 a portaria 290
do Ministério das Comunicações (MC) definiu as diretrizes do Sistema Brasileiro
de Rádio Digital, mas diferentemente d-o que aconteceu com a TV Digital, não
estabeleceu um prazo para a definição do sistema. Em agosto de 2012 o MC criou o
Conselho Consultivo do Rádio Digital (CCRD), com o objetivo de analisar e
sugerir o melhor padrão para adoção pelo país até o fim daquele ano. Após
intensa atividade no início do CCRD, a ausência de objetivos claros, falta de
decisões significativas e nem previsão de término, determinou o esvaziamento e
fim melancólico do conselho, sem qualquer definição. A única definição técnica
foi da Anatel, em 2013, que apresentou relatório determinando que: para
funcionar em simulcast*, o sistema digital adotado só poderia operar em uma das
bandas laterais do sinal analógico. Somente o padrão DRM atende essa premissa,
portanto, o sistema a ser adotado no Brasil estava definido naquele momento. Mas
o ministério resolveu continuar os debates, e o CCRD definhou.
Não existem desculpas para as ondas curtas e tropicais
Em muitos países o rádio digital cresce exponencialmente em AM, abaixo do 30
MHz, em DRM30. A possibilidade de entregar boa qualidade sonora e conteúdo
multimídia para longas distâncias vem se mostrando útil em diversos países com
grandes extensões territoriais e em transmissões internacionais, muito
importantes em um mundo globalizado. O padrão DRM é o único reconhecido pela UIT
para OC/OT e sua adoção é mundial. Hoje acontecem transmissões constantes em OC
e OM em digital (DRM) em emissoras da Alemanha (Deutsche Welle), Itália (Radio
Maria e Vatican Radio), Inglaterra (BBC), Índia (AIR), Nova Zelândia (RNZI),
Japão (NHK), Indonésia (RRI), França (RFI), entre muitas outras. Vários testes
já foram realizados no Brasil, permitindo recepção de áudio excelente em OC
proveniente de emissoras da Guiana Francesa e Ilha de Ascensão (Reino Unido).
Todas as transmissões podem ser conferidas no site oficial do DRM (www.drm.org).
A Índia se destaca por estar implantando o rádio digital, em DRM 30, cobrindo
95% do seu território. Os conflitos na África provocaram o investimento em
transmissões digitais em ondas curtas de emissoras públicas europeias voltadas
para aquele continente, onde organizações comunitárias atuam na distribuição de
receptores digitais DRM para os refugiados. É a concretização da essência desta
nova mídia: a grande área de cobertura, muito conteúdo, com qualidade e
robustez.
A delonga da implantação do rádio digital no Brasil é justificado pelo governo
devido a incapacidade de se decidir qual padrão deve ser aqui adotado. Todavia,
pelo fato do DRM ser o único padrão existente que realiza transmissões em ondas
curtas e ondas tropicais, não há motivo para o ministério das comunicações não
homologar imediatamente este sistema em nosso país, nestas faixas de frequência.
Essa decisão provocaria uma imediata renovação para os radiodifusores deste
setor, abrindo a possibilidade de uma revitalização do rádio de longo alcance, e
permitindo a chegada de conteúdo de qualidade no interior do país. É importante
termos o pensamento de que a implantação do rádio digital em OC/OT é a
introdução de uma plataforma “livre para todos” utilizando-se um sistema já
existente. Não é a revitalização das ondas curtas, é o nascimento de uma nova
forma de transmissão de som e de dados multimídia, é algo novo que nasce.
Enquanto a não implantação do rádio digital no Brasil aparenta ser uma
estratégia segura e de baixo custo, já chegamos em um ponto em que o setor já
perde dinheiro com a situação. Não há progresso sem risco, estamos falando de
estagnação x evolução. Estamos “estagnados” em um país que demonstra um apetite
enorme por conteúdos digitais (imagens, textos, vídeos) e o rádio digital pode
oferecer isso democraticamente a toda nossa população.
EBC está pronta para investir nas ondas curtas digitais
No último dia 04 de maio, a Empresa Brasil de Comunicação - EBC, empresa de
comunicação pública do Governo, protocolou ofício no Ministério das Comunicações
em que defende a definição imediata do padrão de rádio digital para as
frequências de ondas curtas e tropicais. A EBC é responsável pela Rádio Nacional
da Amazônia, que opera nas faixas de 25m e 49m em ondas curtas. A emissora, que
completa 39 anos em setembro e ainda opera com os mesmos transmissores
utilizados no dia da sua inauguração. Nessas quatro décadas, a Rádio tornou-se
um veículo de importância vital para muitas populações da Amazônia, pois,
justamente por operar em ondas curtas, chega a lugares em que nenhum outro
veículo de comunicação consegue atender. A necessária revitalização do parque de
transmissões da emissora - ainda hoje um dos maiores sites de transmissão da
América Latina - depende, no entanto, do futuro da frequência.
Em função da dificuldade, cada vez maior, de conseguir um sinal de boa qualidade
para ouvir emissoras em ondas curtas, os ouvintes estão abandonado seus
receptores ou não comprando novos. Para uma empresa pública, como a EBC, isso
dificulta a possibilidade de continuar investindo na Nacional da Amazônia. "A
EBC tem um plano de investimento pronto, para revitalizar o Parque de
Transmissões de Ondas Curtas do Rodeador, que fica em Brazlândia, cidade aqui do
DF. Já existe uma indústria brasileira com tecnologia para entregar novos
transmissores de OC e que já nos enviou o orçamento de produção de dois novos
equipamentos solid state, capazes de transmitir tanto em analógico como em
digital. Mas sem uma definição pelo Governo da digitalização das ondas curtas
fica muito difícil justificar o investimento.”, explica Pedro Varoni, Diretor
Geral da EBC. Para Pedro, a definição do padrão digital vai alavancar a venda de
receptores, pois os ouvintes ficarão novamente interessados nas ondas curtas, já
que a qualidade do áudio será igual ao FM, mantendo a mesma área de cobertura
atual, além do envio de dados multimídia.
O Rádio Digital, assim como a TV Digital, permite um salto evolutivo do meio,
permitindo melhoria drástica da qualidade de áudio, multiprogramação, conteúdo
multimídia e interatividade. Só nos resta a esperança do fim da morosidade
governamental, onde temos visto sucessivos adiamentos de decisões sobre o Rádio
Digital, e períodos de “engavetamento” do tema. E mais uma vez quem perde é o
povo brasileiro.
*Simulcast é a transmissão simultânea do sinal analógico e digital pela emissora
na mesma frequência.