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Fonte: Valor Econômico  - Eletrosul
[04/04/07]  Governo quer usar rede da Eletronet para criar megainfovia - por Cláudia Schüffner e Heloisa Magalhães
 
O governo está costurando um projeto para criar uma mega rede de telecomunicações utilizando os 16 mil quilômetros de fibras ópticas da combalida Eletronet, empresa criada pela AES Bandeirante Empreendimentos no auge da bolha da internet.
A empresa faliu em 2003 e o objetivo, quando foi criada entre 1999 e 2000, era vender serviços de transmissão de dados em alta velocidade.
A Eletrobrás é sócia do negócio que utiliza as linhas de transmissão das empresas controladas pela estatal, que tem 49% das ações da Eletronet por meio da LightPar.
A Eletrobras é também uma das empresas credoras da massa falida.
Boa parte do projeto da infovia está sendo idealizado na Casa Civil.
 
A proposta é que a infra-estrutura seja utilizada pelo governo, que questiona os preços praticados pelas empresas privadas de telecomunicações.
O projeto tem o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) envolvido e a estratégia seria utilizar para criação de uma rede para atender escolas públicas e as Forças Armadas.
O Ministério de Minas e Energia está hoje com a proposta, que prevê a compra, pela Eletrobrás, das dívidas da Eletronet com deságio.
 
Na estatal, tem havido dissidência com relação ao plano. O presidente interino, Valter Cardeal, evita o assunto. Procurado pelo Valor desde sexta-feira, por meio da assessoria de imprensa, não respondeu às perguntas sobre o andamento das negociações, a estruturação do negócio e nem o montante de investimentos que está sendo discutido.
Procurado, o ministro Silas Rondeau disse ontem que o assunto ainda está discutido e por enquanto ele prefere não se pronunciar. Para tornar o projeto operacional será necessário equacionar a dívida da Eletronet.
 
As condições estudadas até agora seriam tão desfavoráveis para a Eletrobrás que teriam motivado o pedido de demissão, na quinta-feira passada, de José Drumond Saraiva da diretoria financeira da Eletrobrás e da presidência interina da Eletrosul.
Oficialmente, Saraiva alegou motivos pessoais, mas fontes próximas ao executivo disseram ao Valor que a Eletronet foi preponderante.
Essa é uma das perguntas que o presidente interino da Eletrobrás ainda não respondeu.
 
A Eletronet está em processo de falência conduzida pelo advogado Isaac Zveiter .
Tinha em 2003 uma dívida de R$ 600 milhões.
A maior parte é devida à Furukawa e à americana Lucent, hoje Alcatel-Lucent, pois se fundiu com a empresa francesa.
Mas há informações de que já prosperou negociação para ajuste do valor, que pode cair para um valor entre R$ 130 milhões a R$ 160 milhões.
 
Para as empresas haveria ganho, porque já teriam contabilizado a dívida como não paga.
 Em 2003, a AES entregou a Eletronet para a Eletrobrás, que declarou em seguida a falência da empresa.
O presidente da Eletrobrás naquela época, Luis Pinguelli Rosa, reiterou diversas vezes que a estatal não assumiria a dívida da empresa com os fornecedores.
Sabendo do movimento do governo, entre as operadoras de telecomunicações o estágio atual é de espera até que sejam procuradas pelo governo.
As empresas identificaram que a ação está avançada com a notícia publicada em 23 de março pelo site especializado em telecomunicações Telesíntese, praticamente replicada no blog do ex-ministro José Dirceu.
 
Um executivo do comando de uma das concessionárias de telefonia disse ao Valor que acha qualquer processo de reestatização muito ruim, mesmo se a causa for pela educação.
Para ele, a operação sinaliza uma ação parecida com as da Venezuela, de Hugo Chávez e da Bolívia, de Evo Morales, que ontem estatizou a operadora de telefonia.
Este executivo, que pede para não ser identificado, informou que há cerca de 18 meses as operadoras foram procuradas para fazer proposta no sentido de atender ao projeto do governo federal de interligar com banda larga as escolas públicas de todo país.
Fizeram proposta, mas as negociações não prosperaram. As operadoras estimaram custo de R$ 1,5 milhão na montagem da infra-estrutura de rede de banda larga para as escolas.
Em relação aos computadores, a sugestão foi de que deveriam ser licitados pelo governo. Mas as estimativas de gastos com o uso da infra-estrutura da Eletronet dão conta de que só com a interligação da rede de banda larga seriam necessários R$ 4.5 bilhões, pois a rede da Eletronet não tem, em vários pontos, infra-estrutura em torno da chamada última milha, a chegada no ponto do acesso. E quanto aos computadores os números que circulam indicam que seriam necessários R$ 5,5 bilhões.